quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Roda gigante, goles de café e purgante

Tenho me remoído, parece que não. Mas cada gole, cada dia, cada hora, isso volta aos meus lábios. Me exaspera. Quando vejo, o assunto me morde com tal força que sangra. Mas eu sei que tenho razão. E não deve partir de mim o primeiro compasso. Acredite, me dói. Porque você manda recados altos de coisas que eu nunca fiz. Que só existem na sua cabeça, na sua fragilidade e por isso você não se atenta a minha. Eu não humilho. Eu me defendo. Eu nem sequer te sonho com qualquer má intenção, pra sua curiosidade: eu admiro todas as qualidades que existem em você. Sua criatividade, seu olhar altivo, seu modo carinhoso de agir quando assim lhe convém, sua inteligiência. Mas você apenas insinua que eu desprezo, que eu não vejo. Nunca vi alguém tão cega. Você bebe. Eu bebo. Mas eu nunca, em momento algum, no auge da minha raiva, encostei uma sombra do meu peso sobre você. E a primeira coisa que você faz antes de conversar é simplesmente atirar sobre mim o peso das suas manias, dos seus pensamentos duvidosos, das suas mãos. E agora fico eu aqui, me remoendo, pensando: pra que raios servem esses amigos que não me entendem? que conseguem pensar tão mal de mim? O que raios tem passado de mim para os outros? Eu não sei. Mas se só você vê isso, eu não devo temer o erro. A sua cegueira e a sua estupidez ainda assim não superam minha admiração pelos seus talentos, embora confesse que sinta uma antipatia pelas suas ações comigo, pelas sucessivas discussões disformes. Pela nossa tentativa sem êxito de nos compreendermos. Eu, não vou, deflagrar esse assunto. Eu quero desagua-lo de mim. Mudar pra longe essa sensação, mesmo que você vá junto com ela. Mesmo que o ano termine com mais um mal entendido. Não quero resolver jogos de cripto. Não quero explicar cada palavra e cada respiro. Desculpe, eu não tenho essa intenção. Que fique assim, eu no meu orgulho remóido, até que se dissolva essa pedra e você a fingir que nada acontece e a viver de acúmulos. E a morrer de venenos estampados.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

.Notas de um dia de verão atordoado

Quando as roupas estão novas demais, limpas demais, frescas demais evito passear pelos espaços, querendo não me sujar deles, mas preciso loucamente de algo além da lacuna. Dias de sol entorpecidos, baba escorrendo pelo queixo, uma vontade de nada somada a coisa alguma. E as pessoas já não me procuram, pelo excesso de afastamento. Mas nem sei quando a redoma se formou. O sol impiedoso faz suar lágrimas agora secas, mas não tristes, não deprimentes, apenas lágrimas, dessas de filme, dessas de alívio, dessas de nada, por pura sensibilidade. Esvazio copos na imensidão do abraço esperado. Renovo meus votos em pensamento e penso em dois ou três passos de dança, meneios de mão, mas não insisto em te mostrar meus rabiscos, mas fatalmente sinto falta de dividi-los contigo, J. Agora no sol, algumas conversas invariavéis sobre linhas e peixes e rimas e dicotomias e licores e nada além disso me fazem falta. C'est la vie. Não há muito o que esperar de verbos no passado. Nem de abraços não dados, nem de copos secos pela garganta também seca.

Pequenos idílios tocam meus lábios, voam vorazes e se dissolvem antes de completarem a primeira hora, assim seguem -se os dias e os nomes ficam empoçados em pedaços de nuvens, nacos de espuma boaindo na memória, apenas algumas coisas permanecem por tempo suficiente pra me fazerem ausência. Recomponho um odor uma letra um desgaste na intermitente procura por algo que não seja 100% composto de tédio. Pessoas me entediam com a velocidade de moscas sobre cadavéres. Assim como determinados lugares me dão calafrios pela escassez de ângulos. Voraz me ausento das possibilidades do dia, procurando nas gavetas abarrotadas de coisas algo que renegado ao esquecimento seja mais forte que a moleza do sol.