domingo, 26 de dezembro de 2010

Descanso na janela o copo de Cinzano

Descanso meu amor nas folhas de papel, nas linhas mal talhadas da madeira, nos fios de lápis, nas manchas singulares da aquarela. Descanso tudo que sinto por aqueles lados. Porque você já não me ouve, e sinto que lá por dentro voltamos ao início. E a minha saudade é de uma coisa que quase existiu. Entende? Quase. Porque na minha cabeça louca, se não é intenso e queima beirando a dor não existe. Em mim ardeu, queimou, virou cinza. Dentro de você? Ah não sei. É coisa estranha. Essa maneira estrangulada de gostar de você. E sinto que nos perdemos em algum lugar desse amor não declarado mas gritado e rouco e pouco e muito e fúria e som e penumbra. Alguma coisa em mim martela a sua perda e alguma caneta sua destila "eu te amo" na minha palma, mas ultimamente ando descrente com esse papo de amor. E fico tamborilando no tampo da mesa, esperando alguma outra dose de qualquer outra coisa que me desmanche.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Quando uma palavra vil afasta o outro rosto do meu coração

Para uma amiga
Não sou obrigada a gostar das pessoas que você gosta, nem de fazer o que você espera. No fundo a gente não se entende. Você defende o seu, eu o meu. No fundo o ano vai acabar prá nós como começou, duas pessoas estranhas que tentaram alguma coisa, algum minímo de humanidade e não conseguiram. Não entre nós. Com o resto do mundo quem sabe. Eu te machuco e te decepciono quando digo XYZ, você se assusta quando eu preciso de mais do que um bom dia via SMS. Eu já disse que estava te perdendo, eu senti. E agora eu sei que é fato. Posso estar errada a respeito disso, como estou sobre muitas coisas. Mas de tão parecidas eu nem sei se essa dor vai desaparecer ou vai se espalhar pelo corpo e virar uma ferida permanente.
Da janela, os pisca-pisca parecem assombrados. E eu não quero dormir com esse tumor latente que é o medo de acordar sem você. Essa é a verdade. Eu não dou o braço a torcer, me nego a dizer que foi tosco, infantil, que alguns sentimentos que me movem são mesquinhos. Que numa sequência de dias te mostrei pinturas vazias e deturpadas da minha alma. Mas também, não vou vilanizar meu coração todo. Entende? Essa coisa que oscila dentro de mim? Entre o vil e o terno? Se é de amor o meu passado e o meu presente pra você, há de entender que também há sentimentos egoistas, porque eu sou de carne e osso. E não transmutei num pássaro, numa gota de chuva, não sou dotada dessa inocência e simplicidade que seria necessária pra não te perder uma vez por semana.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

quando havia tijolos na goela

Por algumas horas, surtei. Sai de mim. Joguei fora todas as recordações e deletei todas as coisas que me lembrassem de você. De você. E daquele outro você. De todos os "vocês" com nomes tão diferentes que andam circulando minha vida. Apaguei cada resquício terno meu, pra ficar só isso: o surto, o instável. Procuro de todos os modos que vocês me deixem. Não dou brechas mais, para que me amem. Mas gratuitamente e passando por cima dos meus cismos vocês o fazem. (?)
Por algumas horas me afoguei num sal que machucava a pele. Fiquei submersa dentro de mim em silêncio, na tentativa de achar o botão de "desliga". Não achei. Sucumbi ao sono doente. Sem pensamentos, sem movimentos. Só o respiro maquinal dos pulmões. E hoje acordei deletando os restos dos nomes do meu telefone. Pra ficar vazio. Mas nunca fica vazio. Aqui dentro nunca fica vazio. Sempre é uma cena. Desmotivada, mas uma cena. Cheia de entrelinhas flácidas.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Depois da fúria, o desapego

Me pergunto até onde você me entende... até onde consegue enxergar. Acho que não muito. Quando digo A, você lê D, quando digo DÓI, você diz ÁGUA.. e assim seguimos. Com pequenas feridas e coisas sublinhadas com luz negra. Com olhares cheios de quinquilharias. Com réstias de silêncio caindo pelas pontas do cabelo. E assim vamos. E assim vou. Nem sei o que se passa, não tento mais entender. MEntiRA. Tento entender o tempo todo. Meu excesso, loucura e prazer estão nisso: no entender. No ter controle por entender.
E eu fico esperando que algo seja dito e olha lá, o silêncio passando com um copo de conhaque.
Me pergunto até que ponto isso é real? Até quando eu vou ficar nessa superfície pensando que o tempo é relativo, quando na verdade ele é hiperativo e estúpido.
Ah tá, tu nem tem nada com isso...

Entre a fúria e o amanhecer, um pedaço de mim nas suas mãos

Sinto que vou te perder. Sinto que já te perdi. Sinto que... minha comédia de erros se extendeu. Sinto um pouco daquilo que disse que senti. Mas não antes, talvez agora. São palavras em demasia, profusão de verdades não ditas. Só tocadas de leve pela ponta dos dedos.
Sinto que a cada dia, você se torna diferente, que as suas paixões aumentam e as minhas ficam mais perenes. Sinto que o excesso vai me corroer, excesso de procuras, de razões , de ausências.
Sinto. Sinto. SINTO. SINTO. SINTO. AS VEZES PORRA NENHUMA. AS VEZES TUDO. As vezes fico assim no meio do caminho, no farejar da manhã sem nunca ver o sol. Mas nunca é uma palavra estranha. A gente usa sempre. E isso torna as coisas fatais.
Procuro algo que me torne tangível, algo que possa me recobrar a razão. Mas acho isso dividido, num lado meu corpo grita e ecoa, noutro meu pensamento ecoa. As duas coisas no mesmo copo seria pedir muito? Seria uma dose muito cara? Seria assim mais fácil e teria menos peso entre meus braços, menos corpos nos meus abraços, menos desculpas quando acordo e não tenho paciência de olhar o espelho e ver todo aquele desejo desperdiçado. Vejo toda a minha fome a postos, como até os acentos numa gula acelerada e sem atino. Ergo a cabeça pra tomar o sol na cara e me queimar e talvez com um pouco de dor sentir menos que toda essa solidão desnecessária. Afinal, por mais que eu me dê nunca ( olha ai o nunca de novo) me dou por inteiro. E daí ficam pedaços meus boiando indignos sem chance de reconciliação por aí. E eu não Sinto mais que eu exista nos meus beijos. Que até meus braços já se tornaram galhos secos e podados do resto do mundo.
E olha que engraçado, eu sinto que te perdi, quando consegui te achar e te deixar a vontade no meu coração, eu te perdi, lentamente por entre meus dedos. Mas não eu não falava de amor, será que você não entendeu? Será que é sempre essa palavra que você vê quando olha nos meus olhos?