quarta-feira, 29 de abril de 2009

Enterro
Comprei meia dúzia de flores pro meu enterro. Sorri animado quando deitei sobre a cama com cheiro de rosas. As velas acesas num ritual de passagem, mas só a minha memória passou pra um outro lugar, que não encontro. E não faço a mínima questão de achar. Comprei meia dúzia de velas azuis pro meu enterro, sei lá o porque do azul, achei bonito. Deitei no chão do quarto e fiquei imóvel vendo o tempo passar ao largo das minhas mãos cruzadas sobre o peito. Ouvia Radiohead. E minha cabeça não se desesperava na tentativa de um abraço. Tudo numa desilusão se desfez. Quando ouvi o barulho da rua sabia que não fazia mais diferença. Estava já ali preparado pro meu enterro. A luz apagada a lua nos olhos. A pistola deitada sem balas dentro do peito, há muito enferrujada, o último tiro deixou de ecoar num detalhe da madrugada. Apenas as batidas de um baixo ecoando dentro dos ouvidos. A memória como tudo necrosa e morre. A dele jazia enterrada no meio de um silêncio e uma pilha de livros e rosas.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Hora do almoço

A rua ardeu num desastre. O desastre rosnou e mostrou o RG. A policia evitou fazer denúncia. E a denúncia assim calou-se na boca de um mendigo que desdentado dormia no canto da rua que ardia num desastre não explicado como um automóvel que corria com coração acelerado.
Do outro lado da rua correndo contra um relógio invisível um pensamento desastroso se chocava contra um par de olhos castanhos claros e se perdia num presságio talvez infeliz. E ali no meio da rua (dançando na chuva sem chuva) dois pares de olhos se cruzaram na incerteza de um segundo concomitante. E se perderam na leveza do mesmo segundo porque um mendigo cheirando a merda parou no meio dos dois, desviando-os e acertando-os com o choque do desastre do outro lado da rua. Que consistia num evangélico berrando em altos brados o fim do mundo, escrevendo nas pilastras do viaduto os mandamentos de uma vida perfeita que jamais existirá sob aqueles preceitos. O desastre consistia no mendigo que fotografava os passantes com seu celular Nokia sem bateria, sem vidro, sem chip. Na mulher que atravessava a avenida correndo com duas crianças enganchadas no corpo e uma terceira no ventre. No pensamento desastroso que se destroça sem espaço entre os relógios. O desastre mostrou RG na batida policial mas não adiantava levar preso. Ele era sorridente e tinha pistolão. Tinha tio rico que era deputado e estudava jornalismo na PUC. Tinha carro do ano e duas garotas desajeitadas e burras e bonitas no banco de trás e uma garrafa de whisky gringo. O desastre tinha dentes amarelos e se calcava na palavra inevitável.

A rua ficou pequena e ninguém entendeu nada. O que era uma batida, um mendigo cagado, três corpos estirados, um velho pregando palavras no ar, um olhar que evitou se entrelaçar, o que era tudo isso comparado ao desastre maior do tempo que corrói as bocas antes mesmo das rugas, que destrói ou ergue as pilastras da memória antes mesmo que se queira esquecer. O que são esses inevitáveis acontecimentos no reto da cidade se comparados aos outros milhões de assuntos corriqueiros e tão menores mas que aos olhos dos umbigos se tornam grandes e esperançosos? Afinal de contas o que é viver numa cidade grande senão adquirir uma ignorância compatível ao tamanho dela?

A rua ardeu num desastre, se indignou, tremulou até a última onda de asfalto,fez voz, fez calor num movimento de corpo, mas no instante seguinte saiu de quadro, se lembrou que era hora do almoço.
In my dreams I walk with you, In my dreams you love me too

Salivada e nua sobre uma cama de hotel. À meia luz seu corpo moreno parecia deslizar nas sombras, perfeitamente casado com os recortes de luz. Ali, deitada, dormindo, pernas para fora do lençol, respiração compassada e um belo sorriso nos lábios finos. Ali, apenas petiscando os sonhos. Os seios alçados no espaço doces e levemente rosados. O abdômen marcado sob o lençol no compasso leve daquela respiração. As tatuagens quase irreconhecíveis nas sombras. O cheiro natural daquele corpo combinado com seu perfume favorito faziam do ar um espesso deleite. O perfume do seu gozo nos lençóis,na sua boca, nos seus ombros, em qualquer parte do seu corpo haveria o cheiro dela. Chegou mais perto, saiu da janela. A noite era clara e deixava ainda um ardor em suas pálpebras. A retina tomada pela beleza dela dormindo. Passou os dedos suavemente ao redor dos seios, nos lábios o gosto doce da pele ainda úmida. Um movimento, quase um ronrono. Lábios colados à pele do abdômen, um arco de beijos quase lânguidos. Na linha das suas coxas apenas o silêncio das mãos. Um suspiro denso. Um movimento serpenteado fazendo dos lençóis caminhos de areia. Cheio de vincos e curvas. Olhos abertos, castanhos claros fitando os seus. Doces e calorosos. Abraço calmo ao redor do seu corpo. Quente. O corpo dela era quente. Era tão bom. Era quase uma pena. Abraçou-a forte. Beijou seu pescoço com demora. Escorreu por seus ombros e costas. Ela se deixava mover com ternura. O cheiro dela. Era quase uma pena, mas era tão bom. Colou a boca em sua nuca num beijo sôfrego. E num espasmo deixou o rosto dela colado ao travesseiro, de tão amolecida demorou a entender. Seus movimentos contraditórios envoltos no abraço. Sua voz abafada. Silêncio. Nenhum músculo se moveu. Ela era tão linda assim dormindo. Hoje será pra sempre nosso dia. Deitou-se ao seu lado imóvel, num sono pesado e aderente. Ela era tão linda.

sábado, 18 de abril de 2009

Nove de copas

Na carta de tarô, vermelha como o sangue que escorre da ferida aberta. Deixando o olho recair sobre uma certeza disponível. Ali parado olhando o naipe com afinco. Desperdiçando a dúvida com o talvez. Atrás de si a distância comendo o restante dos passos. Atrás de si apenas o desenho apagado de uma vida. A sua frente árvores de Segall, figuras de Klint. O nove de copas pregado a mão sem força de cair. A revolta morna de um pensamento que desencarna. Quem sabe o que faria? Encaminhou-se para a estação absorto em imagens paralelas,a canção que era dela nos ouvidos e o perfume que ficou colado a gola da sua camisa. Ela ainda era linda. Mas a carta aderia a pele com força e fome,na prova simples da inutilidade de continuar em seu encalço. Percorrer os calendários era inútil. Sorrir em desapego,ferida aberta e amarela na cara, era desastroso. Tirou no tarô uma carta. Depositou sobre ela em silêncio todas as suas intenções. Quem sabe uma hora seria mais claro do que a palavra permitiria.Ele se ergueu sobre tudo que o ajudasse a esquecer. E o nove de copas seguiu intenso entupindo o cano da pistola que pulsava insistente.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Relendo calendários na busca de um dia desimportante

Relendo calendários na busca da sua memória. Relendo anos e anos e anos e anos desde 1987 na sua busca incessante. Uma pequena noticia no dia em que você nasceu, a música que era hit na hora do seu grito primal. Qual foi a hora da sua primeira transa? Em busca de dias e datas e folhas e remédios para as coisas que não sei a seu respeito. Quando perdeu o primeiro dente? Quando fez a primeira tatuagem? Em que dia quebrou algo por causa da raiva? Em busca das coisas que não sei de você e não sei de mim. Fazendo clipping das memórias catalogadas em busca daquelas que acho mais belas pra serem incineradas.
Relendo calendários procurando em vão o momento do seu riso, da ponta do seu olho batendo no meu. Procurando uma razão pra não apagar seu telefone da minha agenda. A força rítmica das sensações que embalam os respingos do meu coração. A pistola mirando o centro da testa. O desamparo de não ter respostas.
No ano em que você nasceu eu já tinha sentido dois invernos na pele escura. Quando você disse a sua primeira palavra talvez eu pintasse meu primeiro quadro. Mas eu não sei e nem me lembro. Vou jogar nossos nomes do Google e ver o que há de possível.
Quando eu tive minha primeira visão do mar? Quando fiz o primeiro poema desleixado? O dia em que dei meu primeiro beijo? Tudo isso soa deslocado. Relendo calendários na chance de te encontrar e reverter nossos disparos. Ou quem sabe evitar a mira em nossos descasos. Releio todas as cartas que já estão podres no lixo, desintegradas e desinteressantes reformadas numa agenda ou num rolo de papel higiênico. Qual foi a música que te fez gritar no seu aniversário de dezoito anos? Em que dia chorou até o olho cair de cansaço? A trajetória das nossas retóricas ainda pode ser um caminho forçado. Mas eu sempre tive tesão por portas arrebentadas. 1985 eu gritava num dia de chuva três dias antes do previsto e você nem era um desejo consumado. E mesmo assim por um motivo qualquer o meu cílio bateu entrecortado no seu. E mesmo assim eu não esqueci de todas as possibilidades contidas no seu silêncio.

Releio calendários como ordens do dia. Procurando na retidão fria das letras algo que retrate um fio que nos mantenha. Ainda que eu imagine tudo isso sozinha.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sob o efeito da rotina

João Silvério Trevisan dando tapas com luvas de pelica na orelha alheia e na minha arde a idiotice de desejar a carne no gancho do vizinho. André Sant’Anna diria bucetas e paus e orelhas e porcos especulando com olhos escatológicos a idéia do amor. Mas na minha cabeça seja essa idéia qual for tem peso forma fome e nome. Tem cova, carne, sangue e lanche, verme arremate e dente e podre e sentença e guilhotina. Eu nem sequer respiro. Porra, antes de tudo havia o verbo que agora não me serve de nada, verborragia barata pra te chamar a atenção. Mas as minhas letras são pedaços de corpo de mosca caindo no asfalto quente da Paulista. Você não me vê, não me sente e eu quero zonza que a terra se abra e mostre seus dentes e deite sua língua pútrida de tão macia e alivie a língua minha, já tão cansada de descascar essas palavras como batatas.
Eu quero que no fundo o tímpano estoure que os balões de Páscoa detonem as crianças e que no fundo de tudo a voz ecoe numa tristeza espetacular, fazendo temporada na sua retina. Ah esse romantismo nunca deixa esse corpo carcomido. E no fundo meus espelhos já foram todos refletidos e eu só penso num tênis novo pra remendar de tanto andar no encalço da minha sombra. Sobrancelhas ardendo no questionamento, ficando nuas de tantos questionar o infinito do dicionário na busca de uma resposta, palavra grossa seca a mostra que transcenda o peso da lágrima e a frieza amarela do riso
- E ai como vai?
- que que você tem a ver como isso?
Ela é delicada como uma rocha caindo dentro da palmilha...
Quando atirei o calendário dentro do pote de açúcar

Capitaneio dentro de mim maremotos, raivas que não sinto. Exteriorizo nas frinchas das paredes palavras de ordem, ódio mortal ao tédio que reintegra os dias em cubos de açúcar.
Deserdo todas as fibras de cabelo, desarticulo o pescoço numa violência imaginária. A válvula de escape está tampada. A panela de pressão, roxa. As paredes amarelas e descascadas já sentem a pressão acumulada, restos de miolo no teto. Pendendo como estalactites estranhas. Um quadro expressionista ao som de Rammstein. Pesado. Pesado. Pesado. O cérebro fica pesado como toda a sua ordem (ou desordem) de gavetas articuladas. Diálogos e discursos inflamados queimam além das retinas em palcos invisíveis. A questão do imaginário batendo sempre na porta. Quer compra um carnê de sonhos? Ou a carne dos sonhos mesmo?! Vendedor dono de um senso de humor mórbido e um senso estético pior ainda. Filmes da década de 80 pulando dentro da sala. Através da maleta. E todas essas coisas são a princípio incompreensíveis. (Gosto do som de palavras terminadas em “iveis”). Cabeça batendo na parede até abrir feito um coco. E nada escorre. E nada escorre. Escolho dentro de mim os maremotos e as marés. Todas as raivas que não são minhas absorvo pra ter do que reclamar. Eu tenho ódio incomensurável (também gosto das “avéis”) correndo nas veias. Exalando pelos poros, pelos olhares milimetricamente doloridos. Praticando o apego excessivo, obsessivo pela simples diversão de escrever em transe.
Quando toda a problemática acaba numa bela foda. E a raiva passa. E o olho desce. E a carne esbarra em grades agrestes de incertezas flutuantes. E tudo acaba com um foda-se mal educado e grotesco. E os cubos de açúcar derretem pelo descaso. Alguém os deixou abertos sob o sol que vinha da janela. E as formigas dominaram seus pequenos pedaços brancos. Cocaína para formigas desavisadas. E pequenas carreiras ambulantes partem pelos vãos da sala. E tudo numa memória se esvaí. A raiva, a dor, a incerteza e até mesmo a letra.
O corpo dopado no sofá azul e amarelo da sala, quase um Klint, inerte, vivo apenas pelo batimento por baixo da camiseta. Estendido mole e derretido. O maremoto passou e a maré deixou conchas vazias. Sem estrelas do mar. No surprises.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Entre a corda bamba e a janela

Ele ficou imerso na visão da rua, ausente de qualquer outro pensamento, pessoas correndo, andando, falando no celular. Percorreu com as retinas o espaço da manhã sem pressa. Apenas na certeza de esquecer-se de si. Tomou o café, que parecia tinta de tão escuro. Perdido na visão da rua como se fosse um fragmento de texto...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Poema ou texto ou prosa ou roteiro para uma vida breve

Quando o tempo escorre tenro entre os dedos melecados de açúcar.
Quando o tempo escorre eletrificado entre as cordas vocais, na antena do disparo.
Quando o tempo escorre, espasmo, no corpo do acaso.
Quando o tempo escorre agourento na asa dos corvos silenciados.
Quando as palavras erguem-se de suas tumbas e se pronunciam no espasmo
Quando ela passa evitando a curva do abraço

Distante

De qualquer desculpa, ao largo
Quando ele não se importa
E detrás da porta envia um olho na busca de uma resposta
Quando o tempo escorre vistoso no brilho de um recorte da Lua
Quando Maya exige um pagamento e nada de cheques
Quando o tempo escorre vivo na pele da noite
E o pensamento voa exigente
Numa luz que se interpõe
Ao grito
Da pistola

E aquilo seria sua última noite de tristeza isso ele tinha certeza, como um poema que tem fim quando a caneta retira de si a gota derradeira de tinta e larga a fibra indefesa do papel. Aquela era a sua última noite no mês de insistência, e não , não era uma promessa, era um fato, porque as dez da manhã não sentiu dor. As três da tarde não sentiu dor. E as onze da noite não sentiu dor. Nem o vazio. Pela janela viu o cachorro passar pela calçada e escreveu sua sinopse nessa vida curta. Nesse curta-metragem sem produção definida. Redefiniu o olho, o cachorro, não o homem, e encontrou na Lua o espetáculo perfeito. Ambos, homem e cachorro, ergueram os olhos praquela circunferência distante e se sentiram brevemente reconfortados. Havia algo de mágico que não podia ser explicado, que até podia, mas ao fazer isso morreria no desencanto das ciências exatas. Algumas coisas são como poemas possuem sua graça no inexprimível por palavras.

Quando o cachorro mancou sobre um saco de lixo o tempo escorreu
Quando o homem desceu da sua descrença o tempo se moveu
Quando a Lua tornou-se personagem o tempo revelou
Que todas as coisas pertencem a poemas maiores
e
Distantes
E por natureza
Sem ponto final
Sem o respingo amargo da caneta

sábado, 4 de abril de 2009

Quando a geografia do cérebro dissolve

Realmente gostaria de entender o mecanismo do amor. Ou dessa gama de sentimentos que envolvem todos os sentidos, até aqueles que julgavam-se adormecidos. Por que diabos você se entrelaça com uma pessoa sem ter certeza de nada? E às vezes sem ela saber que você está se doendo todo. Que todo o seu corpo adoece de um único pensamento. Ultra romântico? Talvez. Mas e daí? Foda-se. O ideal de uma pistola pulsante é o tiro na jugular. É a porra do corte que sangra sem parar e que conseqüentemente suga todo o ar dos seus pulmões. Meu chapa, essa coisa é pior que qualquer tóxico. Não dá pra entender, mas vicia. A gente vicia em sentir dor. A gente vicia em escrever poemas pra ninguém. Em ficar patético e estático vendo o corpo passar ao largo das suas mãos. Descer a escada e nem mesmo esmolar um naco da retina em sua direção. A gente vicia em ser cachorro. É cachorro..daqueles que latem atrás de carro por não ter mais nada pra fazer. Um instinto de sobrevivência pra não morrer de tédio. Um exercício continuo de auto exílio, de cretinice e amargor. É tão escroto quando visto de fora. É tão obvia a porta de saída. Ela brilha com neon cor de rosa e há pessoas gritando na porta “por aqui trouxa”. Mas não, você não vê. Imagina todas as possibilidades doces e futuras e no presente chafurda num mutismo incompreensível para as pessoas normais ou que pelo menos não padecem no momento dessa idiotice. E você repete dentro de si que na verdade não é você o imbecil, mas o mundo que possui uma sutileza impar dentro de sua grande indelicadeza. E que ele tem prazer em repisar suas tripas num sapateado cadenciado e monótono.

E no final da noite fica apenas um silêncio apavorado demais para existir, apenas um ronco daquela fome que não pode ser satisfeita, do gatilho da pistola sobre a têmpora adiando pra casa do nunca o disparo certeiro da felicidade.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mãos nos bolsos, olhos vazios

Um texto curto. Sem palavras distintas. Analfabetas linhas quando se fala de pistola e artéria. Pequenas incisões no rosto no espelho. Na beirada do caco pulsa uma gota silenciosa de sangue. Eu tenho tudo. Todos os CDs de músicas Cult, todos os livros das prateleiras, toda a poeira que essas mesmas prateleiras conseguem comer. Não digo toda a dor. É muita prepotência. Existe dor para todas as partes do meu corpo e para todas as partes de todos os corpos. Mas esse não é o ponto.

Sacolas de plástico cheias de camisas, meias, calças. Livros. Sabonetes. Maçãs. Links no you tube, conversas fiadas na porta do bar. Vozes entrincheiradas. Listras brancas sobre banheiras reluzentes. Pedaços da lua. Quadros da Remedios Varo. Sentenças inconcluidas. Pessoas. Mas esse não é o ponto.

Não encontro um lugar dentro dos espaços. Sentenças inconclusas na carne da boca. Esmagada saliva na construção de um muro. Mutismo. As novidades já possuem rugas, bem posso tocá-las. Um texto curto. Sem palavras bonitas. Sem auto depreciação. Sem boa ação. Sem ação. Inerte. Uma gota de sangue seca no asfalto após um dia de chuva. Uma ausência lavada e compensada com flores de plástico.