segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sob o efeito da rotina

João Silvério Trevisan dando tapas com luvas de pelica na orelha alheia e na minha arde a idiotice de desejar a carne no gancho do vizinho. André Sant’Anna diria bucetas e paus e orelhas e porcos especulando com olhos escatológicos a idéia do amor. Mas na minha cabeça seja essa idéia qual for tem peso forma fome e nome. Tem cova, carne, sangue e lanche, verme arremate e dente e podre e sentença e guilhotina. Eu nem sequer respiro. Porra, antes de tudo havia o verbo que agora não me serve de nada, verborragia barata pra te chamar a atenção. Mas as minhas letras são pedaços de corpo de mosca caindo no asfalto quente da Paulista. Você não me vê, não me sente e eu quero zonza que a terra se abra e mostre seus dentes e deite sua língua pútrida de tão macia e alivie a língua minha, já tão cansada de descascar essas palavras como batatas.
Eu quero que no fundo o tímpano estoure que os balões de Páscoa detonem as crianças e que no fundo de tudo a voz ecoe numa tristeza espetacular, fazendo temporada na sua retina. Ah esse romantismo nunca deixa esse corpo carcomido. E no fundo meus espelhos já foram todos refletidos e eu só penso num tênis novo pra remendar de tanto andar no encalço da minha sombra. Sobrancelhas ardendo no questionamento, ficando nuas de tantos questionar o infinito do dicionário na busca de uma resposta, palavra grossa seca a mostra que transcenda o peso da lágrima e a frieza amarela do riso
- E ai como vai?
- que que você tem a ver como isso?
Ela é delicada como uma rocha caindo dentro da palmilha...

Um comentário:

  1. adorei o andamento desse texto..termina em ironia mas tem um ponto anterior dramático..belo ziqgue-zague rs

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