terça-feira, 14 de abril de 2009

Relendo calendários na busca de um dia desimportante

Relendo calendários na busca da sua memória. Relendo anos e anos e anos e anos desde 1987 na sua busca incessante. Uma pequena noticia no dia em que você nasceu, a música que era hit na hora do seu grito primal. Qual foi a hora da sua primeira transa? Em busca de dias e datas e folhas e remédios para as coisas que não sei a seu respeito. Quando perdeu o primeiro dente? Quando fez a primeira tatuagem? Em que dia quebrou algo por causa da raiva? Em busca das coisas que não sei de você e não sei de mim. Fazendo clipping das memórias catalogadas em busca daquelas que acho mais belas pra serem incineradas.
Relendo calendários procurando em vão o momento do seu riso, da ponta do seu olho batendo no meu. Procurando uma razão pra não apagar seu telefone da minha agenda. A força rítmica das sensações que embalam os respingos do meu coração. A pistola mirando o centro da testa. O desamparo de não ter respostas.
No ano em que você nasceu eu já tinha sentido dois invernos na pele escura. Quando você disse a sua primeira palavra talvez eu pintasse meu primeiro quadro. Mas eu não sei e nem me lembro. Vou jogar nossos nomes do Google e ver o que há de possível.
Quando eu tive minha primeira visão do mar? Quando fiz o primeiro poema desleixado? O dia em que dei meu primeiro beijo? Tudo isso soa deslocado. Relendo calendários na chance de te encontrar e reverter nossos disparos. Ou quem sabe evitar a mira em nossos descasos. Releio todas as cartas que já estão podres no lixo, desintegradas e desinteressantes reformadas numa agenda ou num rolo de papel higiênico. Qual foi a música que te fez gritar no seu aniversário de dezoito anos? Em que dia chorou até o olho cair de cansaço? A trajetória das nossas retóricas ainda pode ser um caminho forçado. Mas eu sempre tive tesão por portas arrebentadas. 1985 eu gritava num dia de chuva três dias antes do previsto e você nem era um desejo consumado. E mesmo assim por um motivo qualquer o meu cílio bateu entrecortado no seu. E mesmo assim eu não esqueci de todas as possibilidades contidas no seu silêncio.

Releio calendários como ordens do dia. Procurando na retidão fria das letras algo que retrate um fio que nos mantenha. Ainda que eu imagine tudo isso sozinha.

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