quarta-feira, 29 de abril de 2009

Enterro
Comprei meia dúzia de flores pro meu enterro. Sorri animado quando deitei sobre a cama com cheiro de rosas. As velas acesas num ritual de passagem, mas só a minha memória passou pra um outro lugar, que não encontro. E não faço a mínima questão de achar. Comprei meia dúzia de velas azuis pro meu enterro, sei lá o porque do azul, achei bonito. Deitei no chão do quarto e fiquei imóvel vendo o tempo passar ao largo das minhas mãos cruzadas sobre o peito. Ouvia Radiohead. E minha cabeça não se desesperava na tentativa de um abraço. Tudo numa desilusão se desfez. Quando ouvi o barulho da rua sabia que não fazia mais diferença. Estava já ali preparado pro meu enterro. A luz apagada a lua nos olhos. A pistola deitada sem balas dentro do peito, há muito enferrujada, o último tiro deixou de ecoar num detalhe da madrugada. Apenas as batidas de um baixo ecoando dentro dos ouvidos. A memória como tudo necrosa e morre. A dele jazia enterrada no meio de um silêncio e uma pilha de livros e rosas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário