segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Penso de leve, ainda com jeito de ressaca. Meu cérebro se desligou pra evitar que eu me matasse. Porque de alguma forma eu tenho tentado me matar aos poucos. Bem em fartas doses, em pequenos suicídios. E sei lá, aparece como fantasma , um delírio o seu nome na minha língua. Mas no minuto seguinte já não lembro. Já não é coisa alguma. E fica apenas esse nó dolorido dentro do corpo. E uma saudade esquisita fica dando voltas dentro dos meus pensamentos. Mas eu não sei do que nem de quem.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Durante o temporal, meu peito se arromba cismado

Pensou que se ouvesse um Deus ele seria com certeza desocupado. Como ele pode ser tão desonesto a ponto de fazer isso? Deixar que dentre as minhas frestas passasse tanto desarranjo. Das paredes do quarto jorros seminais e aquáticos estirparam meus risos convulsos com Genet. Interrompeu nossos beijos assim sem cerimônia nenhuma. Pra minha tristeza, senti-me num barracão desalmado feito de plásticos e restos de propagandas infames. Meus livros, partes ternas de minha alma morrem e se umedecem em lágrimas, enquanto jorros medonhos os levam pra longe. O quarto quase desabado em água. Dentro de mim uma raiva constante, uma falta de fome, pedaços de sensação desmoranadas como pedaços de gesso do teto no chão. Em meio a água. Pedaços daquela sensação de horror. E até parou de pensar nas coisas mundanas, seus livros boiando chorosos no meio da tempestade e seu teto desabado preenchiam-no de uma raiva e uma tristeza maior que qualquer amante. Esmurrava os armários na impossibilidade do choro. Os demais inquilinos ouviam com revolta os murros surdos. E na impossibilidade de salvar a alma sacou de uma sacola uma garrafa de Domecq e sentada numa cadeira velha com os pés enfiados na charneca improvisada e particular continuo lendo Genet, enquanto esse pingava solidamente sobre seu colo. E de tão amuado e contido nem se incomodou com tudo que lhe enchia a testa de cisma, a Tv alta do vizinho surdo, os latidos do cão vira lata... triste e marginal como seu livro úmido.

sábado, 22 de janeiro de 2011

é, mais ou menos, quase isso...

Às vezes quando você diz " saudades" eu acredito, por um minuto inteiro quase. Mas, só fala quando chamo, quando minha boca singra o espaço na busca do ar. Quando de alguma forma indico que sinto. Por sua conta mesmo, descreio. Por sua vontade voltariamos ao início, estranhos margeando a rua sem razão de olhar pros lados. Às vezes quando digo saudades, é porque já me apertou de tal forma e tanto que quase já havia esquecido da sua existência, era mais ponto cravado no peito. Farpa. Você tornou-se cólera. Um estado de demência. E ainda assim, entristeço de leve, quando o tempo anda e permaneço na esquina olhando você ir embora.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Das tardes mornas

É quase um modo de arrancar de mim algum grunhido entende, é muito próximo do coração selvagem. Parece que eu não existo. Queria poder explodir, fazer escorrer pela ponta dos dedos, mas eu simplesmente não existo. Ou não quero. Faço tudo pra me apagar. Deixo que as paixões se cansem e morram. Deixo que elas pranteiem sobre os próprios dentes enegrecidos e arrancados.
Deixo meu coração cansado de cismas ficar intoxicado, enjoado de tudo que há nele, permito que vomite sobre o piso, mas não nos copos. Nunca nos copos. Nem mais nos corpos. Olho pra tudo com aquele olhar de quem dorme demais, de quem cansa com o mormaço do dia. Tiro as gavetas do lugar, deixo tudo bagunçado. Abro a saliva e deixo ela estancada num vidro só. E no fim da chuva fico no vidro com ares de sonho. Pensando se admitir certa saudade já é um passo pra esquece-la. Ela, a saudade. Se apunhalar o silêncio com gritos é o o suficiente pra ter forças de não rompê-lo num novo apelo frouxo por uma chama frívola. Ouço Nina Simone. Deixo entorpecer. Lânguida nas palavras de Clarice e na linha bamba de Cristina. As folhas lá fora úmidas de chuva brilham. Os fios de eletricidade se transformam em massas retilíneas no horizonte, apesar da noite o céu é meio laranja. E toda a descrição é apenas um acalanto, um refúgio quase para os pensamentos que não querem adormecer.
A conversa chega num ponto em que o silêncio diz mais, e aquela pergunta não precisa ser feita. A resposta é dada na falta do que falar. E a certeza é tanta que vira raspagem do osso, parece forte, mas é cena. É cena sempre. E essa solidão que consome as horas e enegrece os poros do corpo é mais amiga que fatal. E a mesa continua extensa de desejos. Mas não hoje, ah não, por hoje, o peito é cansado demais. A mornidão dos lençóis não aplaca a sensação intensa de afastamento. De casulo. De perda. O coração vomita. Regurjita. Passo. Piso. Sujo os chinelos. Deixo secar. O verão é quente demais. Uma hora some.
Me desapego. Deixo secar. Vomito. Evito os excessos me excedendo. Contraditória alargo a noite com mãos firmes mais ainda assim pequenas. A sensação fanstasmagórica da madrugada se aproxima e não há copos para enganar o vazio.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

E era assim quando cruzava a Matias Aires desavisado

E era isso.
Simples daquele jeito que sabia tão bem fazer.
Desceu as escadas e pediu mais uma dose, seu Zé, dono do bar, nem fez caso do fiado, o terceiro ou quarto do mês. Mas olha só, o mês tinha uns oito dias ainda, meio recém nascido. Deixou em cada talagada suave, lenta e doce uma idéia escorrer. Lembrou de todas as coisas que conseguia. O máximo de palavras escorreu na língua sem sair. Pensou direito. Não fazia bem ter raiva assim do esquecimento, porque ele mesmo se esquecia e muito. Nem de criar caso só por tédio. Último gole. Copo vazio. Reluzente ainda daquele fio fraco de cachaça restante. Dava nem pra lambuzar uma linha do dedo. Perdeu 2 segundos olhando o copo. Abriu a vista pra rua. E pra todo o mar de gente que se acotovelava naquele ano recém parido. E mesmo assim, pareceu divertido. Teve mais raiva não e nem saudade. Essa era uma coisa que sentia tanto e que não levava a nada, era esquecido..então uma hora ele ia esquecer, simples assim, como uma conta de telefone ou um frame da infância. Desceu a rua sem pagar a pinga, no final do mês, lá longe dava jeito, se não esquecesse.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

morangos mofados dentro dos bolsos da calça

Quando me diz saudades, penso nada. Sente coisa alguma, mas penso assim, com palavras ocres, duras. Fico na metade, e sabe de uma coisa, essas metades, perdidas, espalhadas pelo piso da sala não me convém. Se quer qualquer coisa minha, esteja corpo presente, alma, osso e tremor. Aguente meus abismos, meus desamores, minhas marés e quem sabe assim em algum momento consiga descobrir o que há de silencioso nos meus abraços. E não eu não falo de amor. Falo de qualquer metade estriada e vermelha sendo arrastada como um cadarço velho, eu falo dessas relações meio falidas, condenadas ao fracasso pela falta de entrega. Se quem quer que seja, e nisso incluo o capeta, deseja cirandar ao meu lado, que fique inteiro e me dê abraços inteiros, palavras que valham, não me venham mais com "saudades" vazias com " eu te amo" cheios de limo, com farsas amadoras. Deixei tudo isso no ano que passou.
Deixei, almejei me livrar desses nacos de pele vazia, desses pesos que só avolumam listas de telefone, mas que dentro de mim pouco ou nada significam. Desculpe, eu não sei brincar. Alço vôo fácil. Deixo a correnteza quebrar minhas pernas e recorro à proteses para andar por toda essa pedreira.
É sem ordem isso, é verborrágico, tento estancar, mas tem dias que isso me corrói, eu nem digo o que ou quem, ficaria repetitivo. Mas essa preocupação me mostrou outros fatos, que se perderam muitos nomes no meio dessa pedreira. Ah, eu deixei tanta coisa mofando...Eu deixei tanta coisa amarelar antes da hora, com essa minha vontade de trazer intenso e próximo na velocidade de um raio. Com essa mania de arrancar ondas onde só existe areia. De tirar no tapa, de mandar no beijo. Ah, deixei tanta coisa estatelada entre os dedos, ficou uma massa que custa a sair. Um cheiro. Um intenso cheiro de mar cinza. Um asfalto preso na goela. Como se a cidade me respirasse. Não tem ordem,não é pra ser nada mesmo. Era só pra tirar daqui e por em algum outro lugar que fosse fora...

600 km

Sensação impotente de não poder mudar o seu presente. Sinto lágrimas entre as palavras e nada posso fazer efetivamente, além de dar novas palavras, consolos fragéis, mentiras flácidas sobre um tempo vindouro e calmo. Em algum lugar em mim há um pensamento doce que espera a sua melhora, que essa merda de cidade não te engula mais, não te escarre mais, essa cidade que eu tanto amo e me assemelho, mas que te faz tão mal. Querida, não cuspa tanto asfalto ao sorrir, deixe em mim toda essa dor, esse choro noite adentro. Se longe, querida amiga, ficará inteiro o seu ser, então vá. Jogue pro alto todo esse carrossel de loucuras, comece de novo em algum outro lugar, onde o mar possa te dar bom dia todas as manhãs e o sol fique claro dentro dos seus olhos tão lindos. Ouço Elliott Smith que você tanto gosta, na tentativa de acalmar alguma coisa sua que ficou perdida em mim, entre as nossas conversas, nossos copos cheios.