sábado, 21 de maio de 2011

N°5

Mais uma daquelas sensações de queda inevitável. Talvez seja somente sono. Carência de calor, olhos fechados e relógio quebrado. Talvez seja esse o motivo dessa sensação de esgotamento. De andar andar andar e não sair do lugar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Daquelas apatias não conseguia se resguardar. Era naturalmente triste. E andava tão sozinho que até o forro do peito lhe faltava. E agora que fazer com as palavras?

N °4

Parece que um bolor se acostumou na garganta. Ficar zanzando da língua pros poros, olhos, costelas. Fica esse frio horrendo. E essa tristeza que não adormece nem no fundo do copo. O cheiro doce da bebida não entorpece. Queria antes preencher-me de bourbon. Ficar ali boiando nele e não ele em mim. O batimento estagnado. Não, não é uma dor. É uma vontade constante de chorar, de se afogar. Não era apenas ela que lhe fazia falta. Era uma série de coisas que desabavam sobre o seu peito, que mais parecia agora uma casa abandonada de teto esburacado e chão empedrado. Nem sabia como explicar. Era uma sensação assim vazia. De solidão absoluta. Como se o cheiro do seu coração afastasse até o ar e o tempo parasse no derradeiro momento do grito. E aquele esgar não saisse nunca mais do espelho do banheiro. Era um tal de falar sozinho, e por tanto só, não conseguir entender aquele outro.

A coisa chegou a tal ponto que se fazia mais sozinho que o seu natural, numa tentativa doentia de se redimir de toda falta de tato com o gênero humano.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

N°3

Ele passou duas horas debaixo da garoa, passeando pela cidade. Assim sem aviso, sem pensar muito. Estava frio. Tudo era recoberto de um azul triste, pálido e sem frescor. A voz distante, parecia sonífera. O abraço gelado. Um encontro que ele esperava tanto. Que ele queria tanto. E como tudo que esperava dali com muito entusiasmo, estava recoberto de um véu azul e frio.


Lembrou que ouviu diversas vezes sobre a falta de tempo, porém, mas uma vez era o relógio que não existia apenas pra ele.


Foi uma abraço frio. E ele que amava tanto ficou frio. Sem reações. Estava morto. A perda dela ainda soava fresca e cheia de cheiros.

sábado, 14 de maio de 2011

n° 2

Sinto o coração sangrando. Arfando de dor. Mas não uma dor causada por alguém. Algo de vazio. Um resto, um fio de sangue, vômito, urina e suor e palavras que não acentam. No fundo do meu lodo. Do meu corpo. Não.




Há um frio em volta do meu corpo que apenas os livros e as garrafas parecem preencher. E mesmo as garrafas tem falhado. Hoje, elas falharam. O abismo foi mais profundo. Nada pôde aplaca-lo até essa hora em que me jogo sobre letras na esperança de sentir algum conforto.

domingo, 8 de maio de 2011

Pedra, papel, tesoura

Mantenha distância do meu coração. De mim. Do tudo em mim se possível. Estou a ponto de explodir. Joguei metade do ano fora. Sem razão. Deixei um vazio. Mas ainda assim ficaram estalos. Pedaços de nada fincados na minha carne. Espaço tempo perdidos na minha falta de sorrisos. Ando sorrindo tão pouco. Tão fora de mim. Tão a beira da estrada. A revolta é tão tardia que caberia num palavrão pequeno. Mas já que quer ir embora então vá. Mas não fique indo e voltando. Isso eu não aguento. A cada volta uma ferida reabre e fica fedendo pelos cantos da sala. Mas é claro, que isso você não sabe. Eu sou sempre a insensível do momento.


Mantenha meu peito na jaula. Eu mantenho meu peito na jaula. Ele fica ai, arreganhando dentes e ganhando feridas perdendo sangue e fedendo fedendo fedendo pela porta afora. Você sente esse cheiro na minha falta de sorrisos quando me vê passar? Ah, não, você nem vê. Esse mundo seu é intocável. Apenas para pessoas sensíveis. E eu obvio, sou uma pedra.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

J.

Apenas não vá.

Estou pedindo que esse esforço essa dor essa diferença toda que existe entre nós morra. Que você não vá embora. Não, já não é a mesma coisa. Lá do início. Aquela minha paixão. Aquele seu entusiasmo. Estamos ambas cansadas. Você não compreende meus impulsos, e que eu preciso de algo mais presente, que me sinto dando voltas atrás do meu rabo, enquanto estou atrás de você. Isso me cansa. Isso me cansou. E parece que não faz mais diferença quem vai deixar quem. Quem não quer mais escutar, esforçar amar quem. Mas faz. E eu estou sempre aqui, arrombando a porta e mandando flores. Do seu lado, sei que é difícil, a sua personalidade tão sutil, delicada, dá de cara com a minha escancarada e também verborrágica, mas você sabe tão bem, ou deveria já ter percebido, que é tão fragil aqui dentro, que eu posso quebrar a qualquer instante. A gente até hoje não descobriu como se ajudar. Existe algo. Mas esse algo está morrendo. Se não já morreu. Será que alimentamos fantasmas por tempo demais?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Coreografia imaginária para um amor submerso

Ficou ali parado. Mais uma vez parado. Suas palavras tentavam toda a doçura que talvez todo o seu resto não conseguisse. Chegava ainda com assombro, sem nenhuma lucidez. Parecia febril. Mas não eram febris e ridiculas todas as cartas empoeiradas de paixão? Não é assim que as coisas acontecem no meio das pessoas comuns? As paixões chegam, se instalam e viram aquela ferida pulsante chamada amor? Mas era submerso. Era. Nunca viria a ser. Tinha as malas prontas pra ser extraditado. Aquele sentimento do tamanho de um grão, estava no lugar errado, enterrado no olho, mas ainda não causava coçeiras. E nem causaria, mas olha que mentira. Ela já havia se instalado nele de alguma forma. Como? Quando quieto a imagem dela saiu de seus dedos e adormeceu num pedaço de papel, ele soube que poderia ser de verdade. Porque tudo que amava adormecia em folhas de papel, assim sem aviso. Seus dedos não pensavam, apenas colocavam pra fora. E olhe ali. Seus olhos de menina. Riu. E ficou parado, contemplando a imagem. Em silêncio guardou o desenho na gaveta e saiu. Tomou um pouco de ar. Mas nada vinha ao seu coração, era apenas um grão que uma vez no papel, estava morto. E ao mesmo tempo tão vivo. Apenas abortado pra um momento de solidão.

As paixões natimortas são assim.


Abriu uma garrafa dágua. Estava um dia frio. Mas queria sentir frio. A água descia gelada. Sentiu os pêlos da sua nuca se arrepiarem. Dentro de si algo submergia docemente. E acentava no fundo do seu corpo, como sedimentos num rio muito turbulento.

domingo, 1 de maio de 2011

Uma lacuna muito, mas muito pequena e fria da noite

Passou assim.

Dia. Noite. Dia. Noite. Dia. Noite.Dia. Na progressão das horas e eram quase cinco. Aquele gosto de sono misturado com uma pitada de azedo. Amanheceu tarde olhando o céu que se abria num azul opaco. Azul opala. Pegou o metrô e dormiu. Desceu na estação errada e teve que ficar ali. Em pé. Rezando pro sono não o dominar mais uma vez. Sentia-se pesado e odiava isso. Gostava de beber a noite. Ficar ali com seus cubos de gelo. Mas a noite é feita de corpos. E os corpos que estavam ao seu redor estavam vagabundos. E teve então aquela sensação de ser demais pra estar ali. Bebeu cerveja. Ele ODIAVA cerveja. Mas era o que havia restado, além dos três reais contados pra voltar pra casa. Um bom conhaque sairia caro. E ninguém ali ia lhe pagar um. Sentia o sono esmurrando as lacunas do seu corpo. Odiava a ressaca quase mais que a cerveja. O dia passou receoso e cheio de amnésias.

Um fragmento da ossatura de um homem particular

Dissipou as nuvens que pendiam sobre seus olhos. Ficou inerte no calor do abraço que não se remontava. Uma palavra e nada era a mesma coisa. Estava tão quieto, interno, mas algo vazou. Pelas frestas dos seus dedos algumas coisas vazaram e chegaram nela como um assombro. "Posso pousar a cabeça no seu ombro?" " Não confunda as coisas, sério." Ai, ele perdeu o fio da história, pelo tom da voz sabia que tinha feito algo, mas puxando os fatos não se lembrava do excesso. Ficou amuado. Podia ser agressivo. Mas defensivo como sempre, se enrolou em três ou quatro piadas num claro sinal de " não adianta falar disso", por mais que o falar fosse necessário pra calar as perguntas dentro de si. Mas o que mais o deixou abismado é que ela não o levou a sério desde o primeiro dia. E só hoje, assim por acaso, ele teve claro e declarado. Fazia sol. Pensava num whisky com no máximo uma pedra de gelo. Ficou lá vendo as nuvens passarem por dentro dos seus olhos. Não que houvesse raiva ou algo assim, mas pelo estranhamento. O ataque inesperado da sua carência por uma força oculta que eram os olhos dela incisivos sobre os dele, que de tanto não saber o que fazer queriam fugir e se transformar em qualquer coisa que estivesse longe daquele contexto.


Uma simples pergunta desenrola um novelo. Descamba num texto. É sério que você não sabia que eu te queria de um jeito tão simples? E é sério que você não percebeu que perto de você não sou eu, é apenas um carinho que fica? E que diante da impossibilidade, não fica ferida? Fica apenas assim, mão aberta pra te tocar sem cinismo?


Ele não é direto. Ele não sabe dançar reto. Ele mal sabe dançar. Ficou assim pensando em jeitos de não misturar sal com açúcar. De não ficar sem par. Apertar. Mas que estranho. Pensou mais um pouco, e não sossegou o miolo, ele não havia feito nada de excesso, além de estar perto e dos seus silêncios habituais, normais quando algo o incomodava ou quando se sentia fora do lugar. E geralmente se sentia fora do lugar. Assim, sem par. Ele realmente, não é um homem direto. Ficou assim parado. Medindo o quanto da sua alma vazava pelo espaço e tentando achar o buraco. Queria fazer um remendo, pra que o que existia dentro dele não saísse assim sem aviso e entregasse seus segredos pra qualquer um que estivesse perto. Na mesma distância de um beijo ou um aperto de mão. Bem, na verdade, ele era um perdido. Fica deslocado entre as pessoas e só se sentia confortável no meio dos bichos.


Mas é sério que você não tinha percebido que esse jeito todo tosco envolvia um pedido tímido? Que nem era pedido, era mais um " olha esse sentimento existe tá? mas ele vai ficar aqui, fazendo nada, enquanto faz as malas pra uma hora ir embora" E agora eu fico querendo explicar, porque eu adoro explicar, eu preciso me explicar pra mim mesmo. O que não deixa de ser engraçado. Mas se eu explico eu complico mais. Porque não tem nada pra ser explicado. Você tem um par, eu tenho sapatos.


Me explica quando eu confundi? Pra eu poder te explicar se era ou não?

Ele tinha "sindrome de pequeno principe" cativava então cuidava. E se gostava cuidava mais, e chegava até a baixar e guarda e se deixava carinhoso como um gato se gostava mesmo. Era assim zeloso com todas as coisas que amava, mesmo que gostasse e muito do personagem mal encarado que só reclama e não gosta de nada. Quando dizia "você é uma anta as vezes" era quase um " você sabe que eu te adoro, não precisa de confete, te trato mal pra você não se afeiçoar a mim" Tinha tristeza de sobra pelas perdas. Sabia de perdas. Vivia de perdas. Ontem mesmo, perdeu 40 reais. Mas era assim confuso. E não era ao mesmo tempo. Perdido. Diluído. Diluía como tinta suas intenções entre as frases. Como se exercitasse uma coreografia imaginária para um amor submerso. Nome bonito pra um poema. Quem sabe? qual tema? Tema? tenha medo não.

Ele era só um homem estranho e particular.