terça-feira, 17 de maio de 2011

N °4

Parece que um bolor se acostumou na garganta. Ficar zanzando da língua pros poros, olhos, costelas. Fica esse frio horrendo. E essa tristeza que não adormece nem no fundo do copo. O cheiro doce da bebida não entorpece. Queria antes preencher-me de bourbon. Ficar ali boiando nele e não ele em mim. O batimento estagnado. Não, não é uma dor. É uma vontade constante de chorar, de se afogar. Não era apenas ela que lhe fazia falta. Era uma série de coisas que desabavam sobre o seu peito, que mais parecia agora uma casa abandonada de teto esburacado e chão empedrado. Nem sabia como explicar. Era uma sensação assim vazia. De solidão absoluta. Como se o cheiro do seu coração afastasse até o ar e o tempo parasse no derradeiro momento do grito. E aquele esgar não saisse nunca mais do espelho do banheiro. Era um tal de falar sozinho, e por tanto só, não conseguir entender aquele outro.

A coisa chegou a tal ponto que se fazia mais sozinho que o seu natural, numa tentativa doentia de se redimir de toda falta de tato com o gênero humano.

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