sábado, 26 de março de 2016

Enquanto você arrumava as malas

Você
é a mulher mais linda
que meus olhos já viram,
assim abertos, sem véu.
No amanhecer
No cair da madrugada
Seus olhos pequenos
Essas avelãs doces e frescas
trituram o tempo
num pó
que
se
perde
dentro de mim
seu ir
e vir
Seu sorriso discreto
e as vezes largo
Sua cantoria enquanto arruma as malas
o gato e eu
te olhamos silenciosos e encantados.
Seu jeito de dobrar o pé
enquanto arruma as roupas
O ventilador no seu vestido
A delicadeza do tecido
se movimentando
sobre suas pernas
lindas pernas
quem vem e vão pelo quarto entre músicas
Você toca Belchior
as quase duas da manhã
E eu quase te adoro
Nesses espaços

sexta-feira, 18 de março de 2016

Das Incertezas quando a fumaça passa pelos meus olhos

Me quebre a cara eu te peço. Me amasse o maxilar, o peito, os braços e as pernas. Transforme meu corpo em poeira. Não deixe estilhaços. Por favor não deixe nenhuma ponta minha. Não quero que nada do que eu fui te machuque. Me machuque. Por isso eu te peço, me quebre sem dó. Me prenda nos seus braços e só me solte quando não houver nada pra segurar.
Não pense que te peço muito, que te peço um milagre. Só me deixe reexistir.

me
deixe
reexistir

Só me deixe se eu não parar de te ferir
Só vá embora se eu não conseguir estancar
se eu não conseguir me quebrar

eu tô trincada
trincada
em vários pontos

como cortes de vidro na ponta dos dedos
As vezes eu fluo assim sem ritmo meio intensa demais rápida demais. Me pare um pouco me faça dormir me faça beber água me deixe dormir nas suas costas me deixe ficar brisando quando você solta a fumaça do seu cigarro no meu copo na minha boca

me quebra
me martela
me pare
mas não silencia assim
não ascenda a vela da minha paranoia
não deixa essa fera ficar me rasgando
eu tenho medo
dessa coisa que ainda existe em mim
essa coisa que fica indo e voltando
que não me deixa dormir
porque eu acho que tô sempre errada eu to sempre fragmentada

mas ao seu lado eu tenho paz
não parece errado ser do jeito que eu sou, sem pronome, sem um roteiro. Mas
e sempre MAS
as vezes eu ergo meu escudo
ele aparece
mas quase sempre você me desarma sem saber
os pêlos
as marcas
as cores variadas
todo o meu corpo não segue uma ordem
mas você não liga
me sinto coesa
ou pelo menos me sinto mais normal
quando desabo
entre risos brisas copos bolachas seus braços
e o mundo lá fora parece não fazer parte da realidade