segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma segunda um número menor que o dia

Desconforto. Essa chuva que não para. O meu corpo que adormece. O esquecimento que se aconchega nos meus espaços. Ia dizer qualquer coisa de inútil. E fica assim só um desosso. Uma coisa trêmula que não consegue sair, zarpar e ganhar o mar, fica dando voltas dentro de mim, não não é nenhuma dor, nem nada que rime. É um pedaço do tempo dando voltas na minha garganta, trazendo em si uma irritação. E essa chuva que não para. Acesso toda a minha coleção de músicas de chuva, Galaxie 500, Smiths, Elliott, Portishead e por ai vai. Deixo essa coisa se abater sobre o corpo e a voz e fico inerte esperando que saia. Sacudir não adianta muito. Nunca adiantou muito.
E eu quase não penso em nada, fico exclusivamente olhando pros meus rabiscos, cheirando minhas paredes mofadas e pensando em Caio F. Morangos mofados. Parede verde. Sentada no chão, no cúmulo do desconforto, porque o chão tá cheio d'agua, me sinto numa ilhada, isolada de mim mesma por quilometros de distância. Longe até de qualquer saudade.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Se e Quando

Me causa efeitos entorpecentes. A menor tristeza sua me vejo enrolada em seus cabelos, ardendo de doçura enxugando suas lágrimas com meus beiços. Me vejo na escrita de palavras que não deveriam sair de mim, mas que pulsam sem me causar dor, apenas saem. E vem você me dizer que é lenga lenga esse meu sentir. Que esse desconforto que me faz esmurrar paredes, essa vontade de abandonar ao relento e na distância esse nosso nós é bobagem. Talvez seja cobrança excessiva minha, mas a idéia de um guardanapo me passa pela cabeça e me silencia. Deixa estar, canso de pensar, mas sentir é coisa incontrolável. E sinto à beira da loucura, com excessivo comedimento e com eterna beleza e amor. Porque quando digo que amo, querida, não é apenas por dizer. É pulso. Sangue. Eternidade.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Delírios

Tenho gosto pelas coisas impossíveis.
Ah, tenho, tenho sim, pelas coisas invisíveis, até pelos ácaros dançando no ar. Essas coisas aparentemente estúpidas ( e que no fundo talvez sejam mesmo) tenho-as todas no meu bolso. Ao lado de poemas queridos e fragmentos de memórias e de copos roubados displicentemente de bares pé sujo.
Tenho sabor de estupidez nos lábios e presos entre os dentes alguns farrapos de palavras, coisas que não valem muito ser ditas, mas que eu palito e repalito num reboliço de coceira na língua. Ai fica esse vai não vai, chove mas não molha, inunda, a boca de saliva. E fica uma pequena gota de obsessão pingando pela ponta do lábio grosso.
Madeleine me abraça loucamente, carcomendo as frinchas do meu corpo, só não o faz líquido, porque ele escorre natualmente de tão louco, de tão habituado à loucura. É, tenho gosto pelas coisas mais imprecisas , conhaque sem gelo num dia de sol. Heineken no meio do cinema. Contos de amor improvisados sobre olhares fragéis. Faz parte da minha partitura. Vá lá saber.
Gotas de chuva morrendo no vidro e eu com uma vontade besta de desenhar rostos no meio da tempestade.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quando a chuva cai o relógio mostra seus ponteiros escorregadios

Chove. Chove pra caramba. Imagino os bueiros estourando em cachoeiras desonestas e sujas. Tampas voando como OVNIs sobre a cidade inundada. Mas nada do que penso agora tem a ver com o mundo aí fora. Parece que é só um reflexo, uma tapeação na verdade, pra refrear essa ânsia de entender seu mundo. Você nunca tem tempo, sempre tem seus silêncios. Respeito suas ausências. Mas é sempre ou parece sempre tão unilateral. Tenho me mantido aqui, no meu canto, quando quer, resmunga uma palavra meio doce, mas é sempre por pouco tempo. Alguma coisa não se encaixa. E não tenho intenção de me tornar a base de um dos seus personagens. Dos seus neuróticos e castigados personagens que ficam criando chagas na alma e definhando aos prantos e bêbados na sua porta, na ponta dos seus dedos. Mas o fato é: você nunca tem tempo, ou nunca quer ter tempo pra mim. Um dia você me disse que tinha medo. E pelo jeito deve ser isso. De alguma forma eu não pareço uma criatura acolhedora, mas assim como você, não sou. Apenas quando quero. E tenho perdido a vontade, ficando assim, reparando nos seus detalhes. E vendo a sua vida passando ao longe. Que não faço parte do seu círculo, bem sei, mas imaginava que houvesse uma linha, alguma coisa, mas bem, isso temos: trabalhamos bem. É isso, pensamos bem em coisas objetivas e por alguns instantes nas subjetivas. Mas é isso. Não sei como definir. E já me cansei de tentar. De achar brechas. Desde o início fui sempre eu que abri caminho nas suas negativas, nas suas durezas. Acho que meus braços doem. sabe? ficaram dormentes, porque enquanto eu abro caminho entre pedras, do alto você janta com seu círculo. E você nunca tem tempo. Pessoas realmente são estranhas. Mas deixo isso pra lá. Bastava sair de mim, pra não intoxicar meus olhos, ossos e língua.
Toda vez que alguém me pergunta: " você está bem?" forçosamente respondo, mesmo tendo na mente o maior dos agouros " melhor impossível". E pensando em detalhes, ando perdendo instintos....

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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Como bolo gelado.
E o esforço parece cada vez mais inútil. Parece que algumas coisas não mudam por mais que o tempo passe, você leia coisas e o corpo caia. A porra do açúcar gruda nas minhas veias, me intoxica, acabou o conhaque. E hoje no meio da tarde pensei em você e meu corpo ficou líquido. Aquele mormaço seu leve e tenso ficou num sonho asqueroso. Porque toda a possibilidade nula é asquerosa e eu não suporto ficar ouvindo aquela balela toda o tempo inteiro como um mantra. O açúcar gruda nos dedos palpebras e tudo mais. Eu sei. EU SEI. Mas no fundo bem lá no fundinho eu segredo coisas. MAS FODA-SE. Como bolo até estourar a tampa.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dois copos por favor

Você se parece muito com Bukowski, mesmo. Lendo vejo-a escondida ali. No jeito roubem minhas mulheres, mas não meu uisque. Na cisma, do deixem meu corpo quieto aqui no mofo. Quero ficar quieta aqui escrevendo. Dramaturgando. Tem muito da sua linha naquela linha. E o meu ano novo ficaria insosso sem a sua presença alcoólica, no calor dos seus abraços rasteiros e até mesmo na sua doçura tardia em rever meus amúos. Ficaria tardes inteiras apenas assim, dedicada aos seus braços, meramente perto, sem a necessidade imposta de trocar palavras e rachar nosso silêncio tão prazeroso.
Mas desconfio que é amor demais pra esses tempos tão cinzas, esses espaços tão internos e fundos. Essa coisa nossa, que eu não sei se é nossa, porque eu não sei o que é seu e o que é meu, e o quanto disso vai ficar pra eternidade das estrelas. Não que isso seja preocupação primordial ( o ser defitivo, o estar para sempre) mas é coisa que fica mareando pra lá e pra cá entre as noites, nossas pequenas declarações ( quando algo faz nó) e nossos copos.
Penso, entre essas modas e romances travestidos, amizades infiltradas de sentimentos intensos que a melhor saída de todas é sempre o silêncio, o calar e deixar serenar todas as preocupações e só de leve borrifar um impropério pra garantir uma discussão que calamitosamente nos permita amar juntas e sempre mais e sempre menos, pra evitar o desgaste e o estouro.
Ainda assim gosto e muito do papel coadjuvante que desempenho nas novelas diárias.
Olhe só, começou com pensar em você, enredou por nós e degringolou no pensar no mundo assim indiscretamente e sem aviso.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

E...

É como uma esclerose. Uma pontada. A espera é como um soco no meio da boca. Esperado. Inesperado. Sangrante. Sem pontos. Não dá tempo. Quando vê já foi, nem chegou. É simples assim. Fico contando carneirinhos, decaptando carneirinhos, querendo apenas a queda desse tempo infernal sobre as minhas omoplatas de uma vez. Essa palidez que os dias tem me adornado. A falta de senso. Estético, prático.

Eu só tenha mais vinte e nove minutos ( pra menos) de irresponsabilidade.
E daí? POIS É. GRANDE DROGA. Me jogo certeira na vitrine da loja esperando ver um sorriso que eu não vejo, os bonecos nunca sorriem. O fluxo da cidade condenada transpassa minhas órbitas febris enquanto eu rasgo pedaços de passado e de palavras doces (doces?!) de uma paixão qualquer que ficou condenada dentro de uma agenda. Essa mania de guardar agendas de anos mortos, com bilhetes, convites, ingressos, regressos. Vai tudo pro saco literalmente, pro saco de lixo preto. De repente leio " quadrilatero moscovita" e aquele naquele instante era o pior momento. Mas nós eramos tão jovens, tão felizes, acreditavamos que fazendo o INVERSO, o verso, tornariamos o mundo mais potável. MAs olha que coisa, fomos separados de nós mesmos pelos nossos braços agora ausentes. GRANDE BALELA. Ainda dá tempo. Eu tenho ainda uns bons vinte e cinco minutos, tempo de sobra pra concatenar desgraças e sonhos abortados por trás do espelho...
Será que haverá revolta pela minha sede de morte?
Por que é uma sede. De morte. Dessas coisas velhas. Dessas cascas, feridas, fendas, estios, dessas coisas estremecidas que se tornam flácidas e depois se tornam líquidas e depois se tornam nada. Nada. Ficam assim vazias inexistentes. Apetrechos de cozinha inúteis, como aqueles cortadores de bolo que ninguém usa quando deveria ou pegadores de macarrão. Quinze minutos!
E você estará enrolada em lençóis, pensando em C, D, S e A? Nas suas paixões e resgates e enroscos e gozos? E, será? Será que sobrou alguma coisa ai pra mim? Ou será que já comeram tudo e lavaram os pratos? Boa pergunta. Pra depois. Pra jamais. Quem se importa. É só o tédio aflito se movendo da ponta dos dedos para a ponta dos dentes. Ou vice-versa. Verso triste eram os meus na data dos vinte. E agora olhando mesmo, eu passo muito tempo não sendo parte da vida do mundo. Sempre assim na superfície da passagem, concertando os braços, pernas, ombros, guelras, seios, pernas, coxas, bocas, brâquias , pêlos das pessoas que me cercam. E sempre em mim fica um funil. Dez minutos pro fim do mundo. Do tempo raro. Do tempo de ouro. Começa o outono, mas está tão quente e cá aqui dentro eu não sinto mesmo muita coisa. Eu acho. Nunca sei. Sempre é farsa. Sempre acho que é farsa.
Vai mudar. Assim sem aviso, agora. Ainda faltam dez minutos que se arrastam como os condenados de Hugo ou as masturbações de ciganos de Genet. E assim tão perto quase dá pra tocar com a mão. Aquele céu intenso de veludo, quase musgo enxertando nas mãos pontas duplas de estrela. Assim claro e diabólico, porque essa coisa de amor tem algo de diabólico. Tá tudo misturado no fluxo, amor, sexo, paixão ódio inveja sonho conhaque esquizofrênia sangue e mijo..
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cinco...
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Silêncio
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feliz ano novo... bem baixinho... ( mas é agora o que eu faço com isso?)