domingo, 21 de agosto de 2011

No último gole, um cubo de gelo indissoluto me rasgou de leve a carne da goela

E o dia foi feito de quases, de tanta coisa entalada, espinha de peixe sangrando e com pus. Unhas ruídas e silêncios indiscretos, vento frio e mãos endurecidas. A voz dele ecoava triste e pálida por cima do teor forte do seu copo. A única coisa projetada no seu semblante era o desgosto por não entender as minimas molas do gene ali modificado, crescido e alterado. Ele não sabia que nada daquilo realmente ofendia, porque aquilo era só um desejo seu. Não meu. Não íntimo. Casa, carro, filhos, cachorro, domingos no parque, essas coisas da gente que roda dentro da roda como diria Caio. Eu não sou disso. Eu sou do partido do Genet, eu me visto de vergonha pra dizer que não sou feita disso ae, e não sofro. Mas não faço disso bandeira, apenas passo. Quero assim, ficar rio. Passando, deixando as coisas dentro de mim boiarem e quando cansarem desse não lugar, deixar que se agarrem as bordas, a um pneu, um caco, qualquer coisa e me deixem.


Eu tinha receio de perguntar se no íntimo dos seus silêncios ela concordava que eu era apenas isso, uma coisa que não certo, um origami com dobra errada...talvez ai, eu não sobrevivesse e fincasse pé na cova, porque na roda eu não dou jeito. Eu giro e vomito, caio em vertigem. Adoeço, endureço.


Ultimamente eu só quero que nada mais exista além do tempo escoando entre os relógios e que acabe, assim como uma peça de teatro.

domingo, 14 de agosto de 2011

Entre as luzes apagadas um respiro largado

É bem parecido com uma ausência. Mas não tem nada a ver com o resto do mundo. Lateja, como se eu não fosse de lugar nenhum, como se qualquer minuto me fizesse andar quilômetros e nunca conseguisse voltar tão próximo. Chegar tão íntimo de nada. Ficar ali na superfície do rosto liso e perfeito de um estátua. Polindo perfeições como prataria. Mas talvez seja só aquele deslocamento me levando pra onde eu deveria estar. No mar. Longe. Assim, sem amarras. No mar. Mas se parece com uma redoma vazia, onde o ar é limpo mas mesmo assim existe um vazio e não há nada que preencha. Como se o tesão tivesse acabado. Mas esta lá em algum lugar. Deixei de procurar com palavras algo que me desperte. Daquela procura engasgada que atropela pernas, abraços, peitos, flores, tempos. Fica algo mais próximo de: se houver algo ficará em mim, como uma marca. Se puder sentir saudades valeu algo. Mas não tenho sentido saudades de nada. De ninguém. Como se eu nunca tivesse ido embora e as pessoas fossem rascunhos num papel amarrotado demais e eu não pudesse ver mais as linhas dos rostos. Algo como comer mamão.




O dia é tão cinza, mas não pesa. Consegue entender? Não pesa. Nada faz peso, força ou raspa. Como se fossem apenas linhas que eu pudesse apagar da memória com a ponta pouco gordurosa dos dedos. E tenho uma ponta de receio de que nada mais me faça chorar. Um cataclisma, uma criança, um pensamento furtivo. Um receio de ter consumido tanto das minhas sensações que agora fosse a maioria do mundo um passar indiferente. Não tudo. Talvez algo fique ali entre minha calmaria e os pêlos dos gatos que percorrem suaves todos os espaços da casa.