domingo, 14 de agosto de 2011

Entre as luzes apagadas um respiro largado

É bem parecido com uma ausência. Mas não tem nada a ver com o resto do mundo. Lateja, como se eu não fosse de lugar nenhum, como se qualquer minuto me fizesse andar quilômetros e nunca conseguisse voltar tão próximo. Chegar tão íntimo de nada. Ficar ali na superfície do rosto liso e perfeito de um estátua. Polindo perfeições como prataria. Mas talvez seja só aquele deslocamento me levando pra onde eu deveria estar. No mar. Longe. Assim, sem amarras. No mar. Mas se parece com uma redoma vazia, onde o ar é limpo mas mesmo assim existe um vazio e não há nada que preencha. Como se o tesão tivesse acabado. Mas esta lá em algum lugar. Deixei de procurar com palavras algo que me desperte. Daquela procura engasgada que atropela pernas, abraços, peitos, flores, tempos. Fica algo mais próximo de: se houver algo ficará em mim, como uma marca. Se puder sentir saudades valeu algo. Mas não tenho sentido saudades de nada. De ninguém. Como se eu nunca tivesse ido embora e as pessoas fossem rascunhos num papel amarrotado demais e eu não pudesse ver mais as linhas dos rostos. Algo como comer mamão.




O dia é tão cinza, mas não pesa. Consegue entender? Não pesa. Nada faz peso, força ou raspa. Como se fossem apenas linhas que eu pudesse apagar da memória com a ponta pouco gordurosa dos dedos. E tenho uma ponta de receio de que nada mais me faça chorar. Um cataclisma, uma criança, um pensamento furtivo. Um receio de ter consumido tanto das minhas sensações que agora fosse a maioria do mundo um passar indiferente. Não tudo. Talvez algo fique ali entre minha calmaria e os pêlos dos gatos que percorrem suaves todos os espaços da casa.

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