terça-feira, 30 de março de 2010

BLACK BOX II

Meu peito as vezes não se contenta em bater, ele queria um pouco mais, uma vaga noção de existir, que parece só ocorrer quando dois olhos azuis surgem do nevoeiro. Ultimamente tem sido assim, as folhas de papel sobre a mesa, a cabeça distante numa incerteza. Meu coração é uma caixa preta sem cena, no escuro do teatro sem atores. Me atualize no espaço mas me deixe mais solta. Só não me deixe dançando no escuro. Eu não aguento mais. A minha cenografia não existe sem um drama.

Se eu me esforçar, me encontro entre as suas dramaturgias?

sábado, 27 de março de 2010

III. BLACK BOX


Não me sentindo parte de nada. meu corpo em vários lugares sem pertencer a nenhum. O espaço urbano se torna estranho quando não há espaço em que se veja um rosto comum. Fico vagando entre espaços inertes, a alma adoece, que dirá o coração, que extirpado de sensação de realidade vaga dentro do corpo, inerte, oco, achando que sente coisas. Coisas essas que tomam proporções de palavras e gastas se repetem apenas pelo vício. Não há nada aqui dentro. Uma grande caixa preta vazia.

II. VIDEOTAPE

Aquilo que ansiava numa massa disforme de silêncios simplesmente lhe escapava pelos dedos. Uma cena de filme que não conseguiu se reter na memória. Qual era mesmo o fim da história? Já não conseguia lembrar quando parou de sonhar e começou apenas a tecer, ver cenas que não existiam, mas que não chegavam a ser sonhos, nem alucinações. Eram apenas desejos desencarnados tentando apodrecer na lixeira do cérebro.

Até o tempo esgotar o osso

Em meio a nomes que se baseiam em letras desconexas, em meio a flores que remexem nas farpas entre as cercas ficam suaves gotas de chuva, mas tudo isso não passa de um preâmbulo, uma enrolação.

Deixa que tudo fique assim indeciso, sem precisão de tiro, uma hora apenas o sangue vai escorrer e vai perceber que foi certeiro. No meio da boca, na travessia do peito. E eu sou trash até a última linha. Tuberculose ultra romântica espalhada em cada centelha. Mas isso também é uma enrolação.

Talvez, e apenas talvez, ao longo do tempo eu tenha construído com tijolos indefinidos e multicoloridos um rosto que eu mesma não saiba reconhecer. Uma gama de infinitas retas que em algum momento se cruzam e me desalinham. Coisa adversa. Mas que conserva um pouco da minha filha da putice. Coisa séria, cada pessoa tem um visão pior que a outra de mim, e só uma pessoa consegue abstrair totalmente, e dar de ombros, e com certeza não sou eu. Em última estância sou a merda do meu algoz. O infeliz que persegue o próprio rabo com uma foice nos lábios. Eu me corto, mutilo e desestabilizo sem mexer um único músculo. Isso chega a ser aflitivo. Se não fosse cinematográfico e antes de tudo teatral. Se cada pedaço partido não se transfigurasse num novo drama, pequenino mas ainda assim poderoso na arte de disfarçar o que realmente oculta no coração. Na verdade, a grande arte da trapaça, de enganar. De se enganar. Eu já não sei que rosto é esse que eu vejo, que eu desenho, cada vez é diferente, como a minha assinatura. Cada hora uma pessoa emerge. Mas é sempre uma filha da puta. Isso não difere. Apenas em um ou dois casos, que por algum motivo inexplicável, a persona filha da puta adormeceu e deu lugar aquela doçura tão poucas vezes praticada. Na defensiva? Sempre. Até o último atropelo. Até o farol do carro grudar na retina e o corpo bambolear no ar e salivar no asfalto. Se não acontecer, até o olho obscurecer na cegueira dos dias de chuva.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Duas a menos de mim

Não vejo onde essa estrada vai dar, conheço bem os tijolos, eis o clima. Eu sei que nada que aconteça será novo, mas eu só quero que você me queira. É, assim mesmo, tipo música dos mutantes, desejo simples, sem muita procedência, coisa besta que não se envolve com qualquer outra letra. No fundo no fundo, você é só um nome. Parece triste, letárgico, dizem que é pessimista, sentimental, mas dentro de mim tudo beira um abismo. Isso mesmo um abismo, daqueles profundos e escuros sem poesia. Talvez eu seja mais uma bêbada apaixonada que elegeu uma outra letra do alfabeto pra se entreter. Talvez seja você. Ou talvez seja apenas esse copo na minha frente vibrando. Mas a cada dia que passa eu sei que há duas a menos de mim, dentro de mim, me sinto menos presente. Em algum lugar eu perdi a minha segurança.

sábado, 13 de março de 2010

Em meio ao mundo


Em meio ao mundo surpresas nem sempre agradáveis. Coisas que preferia não ver, não ouvir, não sentir, mas é apenas mais um dia na vida. Apenas mais um dia entre tantos outros. Nem chega a ser uma queixa, nem chega a ser uma insegurança ou uma palavra anestesiada. Apenas um desapontamento pelas coisas que transitam sem se tocar, sem se entregar. Por sequências de palavras que não tem onde se reportar. Questão de postura. Sei lá, talvez apenas uma apego muito grande a solidão que me serve de consolo.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Algum tempo

Em algum tempo ficou refletido um dia de sol, sem data no calendário. Apenas uma sombra de dúvidas pairando, de perguntas proclamando alguma coisa que queria sair. Nascer? Morrer? Uma imensidão de palavras tomou-lhe os ouvidos, repetidas vezes, de variadas bocas e eram sempre as mesmas. Haveriam tão poucos adjetivos no mundo? Tão poucas palavras que a língua conseguisse articular? Ficou em dúvida, mas era um dia de sol e teimava em querer relegar para baixo das paredes qualquer audácia, ams sabia que numa hora teria que guardar o sol de volta na caixa e reconectar-se ao mundo tão estranho e frouxo da porta pra fora.