segunda-feira, 27 de setembro de 2010

coisas pequenas

Uma coisa pequena. Começa sempre com uma coisa pequena, um pedaço de linha que se avoluma aos poucos e vira nó. E se enrosca até virar desenho abstrato. As emoções ficam assim perdidas no espaço, numa ora tão claras, noutras tão evasivas. Começa pequena, a sensação de perder algo que lhe era muito querido. Mas era querido mesmo? Agora olhando parecia tão inexpressivo. E não há uma marca vermelha no calendário ou no relógio que indique o momento exato em que aquilo deixou de ser.

sábado, 18 de setembro de 2010

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Penso que por muitas vezes não vejo o óbvio. Aquilo que grita diante do meu rosto. A imaginação minha assume corpo, alma, sangue e jorra, jorra, desvanecendo a matéria em algo mais singelo. Em algo mais meu. Em algo menos decisivo. E o real, ah o real que atravesse o vidro do carro e se estatele no asfalto.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Se isso, SE aquilo, SE SE SE SE

Se... insuportável sensação de se. Sede. Inaplacável sede com um copo cheio e transbordante entre as mãos sem poder beber. Se. Coisa que martela, eu fico entrevendo entre as frestas dessa vida, as nuvens que se avolumam como corpos dentro das minhas retinas. Acumulam- se SES na minha coluna que enverga, moldando interrogação constante e sem solução. Fico entre dentes pensando que a grama do vizinho tem sempre menos pragas. Quando é tudo a mesma coisa. E fico sentindo coisas que não tem razão de ser. E outros sentem por mim coisas que não posso explicar. Mas ali, do lado, como cachorro que acaba de ver o dono após longa separação, e roda e pula e late e de repente sente os olhos do dono pesando mais para as cadeiras, poltronas e armários eu me desarmei na tristeza cabisbaixa dos tolos. Armando dentes dentro de mim pra me consumir. SE.SE. SE. SE. Milhares de se rondando como moscas varejeiras a minha vida que não sai do vidro. Que fica na zona de conforto, mas minha alma se debate. Mas o corpo se insere num desenho casual e banal. SE. SE eu tivesse peito, diria que de alguma forma amo. Que de alguma forma canalho. Que de algum jeito aceito o que desce sobre minhas mãos. Que de alguma forma me entendo imperfeita. Que SE é uma "palavra" de merda. Que se sentir "se" é um vácuo no espaço tempo. Que é perda do mesmo. Ladro, corro atrás da poeira dos carros, ladro na janela sem averiguar meus erros, e bem , pode-se pensar tudo isso como muito baixo, mas o meu SE, se ele ocorrer é tenso e visceral como a carcaça do sol no momento da morte diária.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

pensamentos imprecisos ou quando existe um tumor de calças verdes instalado na sala de jantar do seu cerébro

Fiz um desenho maior que a folha e só reparei quando não soube diferenciar sombras, terminar os contornos. Quando a mesa já estava suja de tinta.
Me inflei como um baiacu, um balão de gás hélio, e fiquei flutuando muito acima do horizonte. Era difícil ver o chão, ao cair doeu bastante. Uma queda lenta, batendo vertébras nas quinas das janelas, sentindo o peso das nuvens. Porque as minhas nuvens tem peso, elas machucam no excesso. E como tudo em mim peca pelo excesso, minhas nuvens também o fazem.
De verdade, pintei um quadro com muito mais que devia. Enchi de coisas que não posso suportar, com total franqueza tenho desejo de depor as armas que já não me servem , os amores que já são estuque. As palavras amalgamadas e mal amadas de um passado presente tão inútil. Cheia de extensas sentenças. Cheia de potes de água suja, restos de tinta, mas nunca tinta pura. Nunca o puro. Tá tudo meio perdido na bagunça das minhas ânsias. Na bagunça das minhas teias. Essas coisas que começam com tanto gás e terminam com tanta verborragia. Sangue nas retinas e estupor.
Mas coisa curiosa só eu me sinto, me removo tanto, me escavo, por fora, aparente granito, raspado de ondas, ardendo em chamas, por fora tudo parece intocado. E até mesmo o olho que parecia tão treinado, ainda resvala na projeção do granito... intocado... quando dentro é tão amórfico. É tão amor. É tão possuído de dobras e respingos. Tela pálida, dia de domingo cheio de um sol. Eu me acho demais. Eu me perco demais.
E mesmo com todos esses paradoxos e anacronismos, há quem de mim tenha saudades. E isso no fim da dor me basta. Mas a insatisfação pela carreira louca sem freio que me desvirtua ainda permanece. Uma caixa de coisas esteréis já está na beira da porta. Só basta um pé.