quarta-feira, 1 de setembro de 2010

pensamentos imprecisos ou quando existe um tumor de calças verdes instalado na sala de jantar do seu cerébro

Fiz um desenho maior que a folha e só reparei quando não soube diferenciar sombras, terminar os contornos. Quando a mesa já estava suja de tinta.
Me inflei como um baiacu, um balão de gás hélio, e fiquei flutuando muito acima do horizonte. Era difícil ver o chão, ao cair doeu bastante. Uma queda lenta, batendo vertébras nas quinas das janelas, sentindo o peso das nuvens. Porque as minhas nuvens tem peso, elas machucam no excesso. E como tudo em mim peca pelo excesso, minhas nuvens também o fazem.
De verdade, pintei um quadro com muito mais que devia. Enchi de coisas que não posso suportar, com total franqueza tenho desejo de depor as armas que já não me servem , os amores que já são estuque. As palavras amalgamadas e mal amadas de um passado presente tão inútil. Cheia de extensas sentenças. Cheia de potes de água suja, restos de tinta, mas nunca tinta pura. Nunca o puro. Tá tudo meio perdido na bagunça das minhas ânsias. Na bagunça das minhas teias. Essas coisas que começam com tanto gás e terminam com tanta verborragia. Sangue nas retinas e estupor.
Mas coisa curiosa só eu me sinto, me removo tanto, me escavo, por fora, aparente granito, raspado de ondas, ardendo em chamas, por fora tudo parece intocado. E até mesmo o olho que parecia tão treinado, ainda resvala na projeção do granito... intocado... quando dentro é tão amórfico. É tão amor. É tão possuído de dobras e respingos. Tela pálida, dia de domingo cheio de um sol. Eu me acho demais. Eu me perco demais.
E mesmo com todos esses paradoxos e anacronismos, há quem de mim tenha saudades. E isso no fim da dor me basta. Mas a insatisfação pela carreira louca sem freio que me desvirtua ainda permanece. Uma caixa de coisas esteréis já está na beira da porta. Só basta um pé.

Um comentário:

  1. "pintei um quadro com muito mais que devia. Enchi de coisas que não posso suportar, com total franqueza tenho desejo de depor as armas que já não me servem , os amores que já são estuque."

    Isso é sublimação do signo da aflição em estado puro. Isso é o paradigma sobre o sintagma, poesia pura. Cada traço tem a plenitude de um universo.

    =)

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