Fiz um desenho maior que a folha e só reparei quando não soube diferenciar sombras, terminar os contornos. Quando a mesa já estava suja de tinta.
Me inflei como um baiacu, um balão de gás hélio, e fiquei flutuando muito acima do horizonte. Era difícil ver o chão, ao cair doeu bastante. Uma queda lenta, batendo vertébras nas quinas das janelas, sentindo o peso das nuvens. Porque as minhas nuvens tem peso, elas machucam no excesso. E como tudo em mim peca pelo excesso, minhas nuvens também o fazem.
De verdade, pintei um quadro com muito mais que devia. Enchi de coisas que não posso suportar, com total franqueza tenho desejo de depor as armas que já não me servem , os amores que já são estuque. As palavras amalgamadas e mal amadas de um passado presente tão inútil. Cheia de extensas sentenças. Cheia de potes de água suja, restos de tinta, mas nunca tinta pura. Nunca o puro. Tá tudo meio perdido na bagunça das minhas ânsias. Na bagunça das minhas teias. Essas coisas que começam com tanto gás e terminam com tanta verborragia. Sangue nas retinas e estupor.
Mas coisa curiosa só eu me sinto, me removo tanto, me escavo, por fora, aparente granito, raspado de ondas, ardendo em chamas, por fora tudo parece intocado. E até mesmo o olho que parecia tão treinado, ainda resvala na projeção do granito... intocado... quando dentro é tão amórfico. É tão amor. É tão possuído de dobras e respingos. Tela pálida, dia de domingo cheio de um sol. Eu me acho demais. Eu me perco demais.
E mesmo com todos esses paradoxos e anacronismos, há quem de mim tenha saudades. E isso no fim da dor me basta. Mas a insatisfação pela carreira louca sem freio que me desvirtua ainda permanece. Uma caixa de coisas esteréis já está na beira da porta. Só basta um pé.
"pintei um quadro com muito mais que devia. Enchi de coisas que não posso suportar, com total franqueza tenho desejo de depor as armas que já não me servem , os amores que já são estuque."
ResponderExcluirIsso é sublimação do signo da aflição em estado puro. Isso é o paradigma sobre o sintagma, poesia pura. Cada traço tem a plenitude de um universo.
=)