sexta-feira, 22 de abril de 2016

As vezes

As vezes me pego pensativa. Dentro dos seus olhos, como se procurasse nas páginas de um livro alguma resposta. Fico tentando ler suas entrelinhas, mas você se emaranha, tal qual minha mão nos seus cabelos. Seu suor fica grudado nos meus pêlos. A sua língua perdida nos meus espaços.

As vezes me pego pensativa, se não serei um erro. Alguma coisa quebrada demais pra ter concerto. Alguém com muitas rebarbas pra acolher uma pele tão macia quanto a sua. Você cai quente sobre mim como uma chuva  morna de verão. E por alguns instantes esqueço dessa névoa que me povoa. Quando deita suave sobre mim e me deixa te acolher, eu esqueço.  Quando se dobra, o gozo jorrado eu esqueço. Eu esqueço de mim e só você importa. 

As vezes me pego perdida no seu jeito de se mover, como água. Ocupando os espaços intensa e doce ao mesmo tempo. Perto de você qualquer coisa parece tão desinteressante. Seu sorriso meio tímido, meio escondido faz brotar palavras doces do meu peito. Serpenteio. Broto. Seus olhos miudinhos, tão suaves quando passam por mim, trazem atrelados uma infinidade de poemas.

As vezes penso que não mereço ter você nem por um segundo. Que vou estragar tudo de novo. Que sou problemática demais, que penso demais. Mas dai quando tenho você por perto só consigo pensar em te la nos meus braços.  Em cozinhar, em compensar talvez o meu desajeito com as outras coisas que sei fazer mais ou menos direito. E quando vejo, não penso, só faço e espero que você goste. As vezes penso se não tô indo rápido demais, se não estou com a pressa paulistana das 18 hs com você. Se não te sufoco. Eu penso que talvez você tenha tido pessoas tão melhores em tantos aspectos, que eu não vá durar. Que uma hora vou acordar e descobrir que era um sonho. Você foi alguém que vi numa passagem rápida do metro e nunca soube nem seu nome.
Mas
e sempre mas
esses pensamentos enevoados se dissipam, quando seu corpo cola no meu  durante o sono. quando você me enlaça pela cintura e me chama de chata. Quando você acorda mesmo com sono pra fazer o café da manhã antes de eu ir trabalhar.

As vezes me pego pensando em lugares coisas livros que você iria gostar. As vezes me pego pensando em você.  E isso é tão bom, que dissipa a névoa. 

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Inadequada
Inadequado
Mais uma vez meu corpo me arrasa

Choro
no meio da noite
tenho plástico na pele
um espinho na alma

quando baixo a guarda
raspa e abre a ferida
pelos lençóis 
pelas frestas
vão ficando as minhas ausências

Derramo meu suor
meu líquido todo
          entre seus dedos
nos poros da sua língua

mas nada
é 
suficiente

Não durmo
Sinto falta do seu abraço
Me faltam palavras
me sobra dormência

E agora?
E de novo e de novo e de novo
o mesmo fim?

Eu queria rasgar essa pele. Eu queria tocar no nervo. refazer o erro. Abrir o crânio nas estrelas.  Me adequar ao seu gozo. Cumprir essa expectativa. Mudam se os nomes, os rostos os corpos e nada em mim floresce.  Aquele grito alto o espasmo que todo mundo espera NÃO SAI.

Me sinto vazia
Me sinto madeira
porta
janela
xícara

Sinto o frio
Sinto o calor do seu corpo
A intensidade da sua boca
e não sei
quando seus olhos procuram
meus indícios

E eu já deveria não me importar
e já não seria a primeira vez

mas
quando você chegou
foi como ser feliz de novo
eu não esperava

e não sei como descrever
me faltam palavras
suas avelãs
seu sorriso miúdo
o som da sua voz
o jeito que dorme
o jeito que eu existo
que eu quero existir com você

Me sinto abrindo mão
do céu
por essa inadequação