segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cacos

Como asas de mosquitos presas nas telas que separam o quarto do resto do mundo, assim seguem as intenções. Depredadas e mutiladas no percurso, até sobrar ao olho nu a visão da carcaça quase seca e desalinhada, puída, mole. Sem sangue. Na superfície dos corpos os letreiros parecem fincados muito, muito fundo, nem mesmo o neon atravessa a carapaça. Nem todas as idéias viram flores, nem tudo pode surgir do esterco. às vezes é só esterco mesmo e pronto. Não há como moldar assim tão depressa, remodelar em 2 horas. As intenções mutiladas jamais serão vistas no seu todo, jamais serão sentidas com doçura. Coisas coladas permanecem feias. Distorcidas, disfuncionais para olhos tão habituados com a certeza aséptica.

sábado, 5 de novembro de 2011

Quanto tempo demora?

Para o seu coração cicatrizar? Pra que eu pare de me sentir estrangeiro entre os meus? Para que o álcool pare de fazer efeito? Para que tudo pare... e seja o dia mais uma sucessão de horas enfileiradas. Me sinto tão estranha entre os que eram os meus, e talvez sobre uma ou duas pessoas nas quais fique inabalável. Talvez, não mais, não sei. Tanta pedra, espinho, capa, camisa, defesa, escudo, e aqui dentro reina essa liquidez. Essa coisa terna qeu fica oscilando, escondendo, morrendo no escuro. Vá entender. Mas há de ser assim sempre.


Esgueira-se no silêncio dos passos alguns pensamentos, e sempre ( por mais que não acreditem por ae) os meus melhores pensamentos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Roda gigante, goles de café e purgante

Tenho me remoído, parece que não. Mas cada gole, cada dia, cada hora, isso volta aos meus lábios. Me exaspera. Quando vejo, o assunto me morde com tal força que sangra. Mas eu sei que tenho razão. E não deve partir de mim o primeiro compasso. Acredite, me dói. Porque você manda recados altos de coisas que eu nunca fiz. Que só existem na sua cabeça, na sua fragilidade e por isso você não se atenta a minha. Eu não humilho. Eu me defendo. Eu nem sequer te sonho com qualquer má intenção, pra sua curiosidade: eu admiro todas as qualidades que existem em você. Sua criatividade, seu olhar altivo, seu modo carinhoso de agir quando assim lhe convém, sua inteligiência. Mas você apenas insinua que eu desprezo, que eu não vejo. Nunca vi alguém tão cega. Você bebe. Eu bebo. Mas eu nunca, em momento algum, no auge da minha raiva, encostei uma sombra do meu peso sobre você. E a primeira coisa que você faz antes de conversar é simplesmente atirar sobre mim o peso das suas manias, dos seus pensamentos duvidosos, das suas mãos. E agora fico eu aqui, me remoendo, pensando: pra que raios servem esses amigos que não me entendem? que conseguem pensar tão mal de mim? O que raios tem passado de mim para os outros? Eu não sei. Mas se só você vê isso, eu não devo temer o erro. A sua cegueira e a sua estupidez ainda assim não superam minha admiração pelos seus talentos, embora confesse que sinta uma antipatia pelas suas ações comigo, pelas sucessivas discussões disformes. Pela nossa tentativa sem êxito de nos compreendermos. Eu, não vou, deflagrar esse assunto. Eu quero desagua-lo de mim. Mudar pra longe essa sensação, mesmo que você vá junto com ela. Mesmo que o ano termine com mais um mal entendido. Não quero resolver jogos de cripto. Não quero explicar cada palavra e cada respiro. Desculpe, eu não tenho essa intenção. Que fique assim, eu no meu orgulho remóido, até que se dissolva essa pedra e você a fingir que nada acontece e a viver de acúmulos. E a morrer de venenos estampados.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

.Notas de um dia de verão atordoado

Quando as roupas estão novas demais, limpas demais, frescas demais evito passear pelos espaços, querendo não me sujar deles, mas preciso loucamente de algo além da lacuna. Dias de sol entorpecidos, baba escorrendo pelo queixo, uma vontade de nada somada a coisa alguma. E as pessoas já não me procuram, pelo excesso de afastamento. Mas nem sei quando a redoma se formou. O sol impiedoso faz suar lágrimas agora secas, mas não tristes, não deprimentes, apenas lágrimas, dessas de filme, dessas de alívio, dessas de nada, por pura sensibilidade. Esvazio copos na imensidão do abraço esperado. Renovo meus votos em pensamento e penso em dois ou três passos de dança, meneios de mão, mas não insisto em te mostrar meus rabiscos, mas fatalmente sinto falta de dividi-los contigo, J. Agora no sol, algumas conversas invariavéis sobre linhas e peixes e rimas e dicotomias e licores e nada além disso me fazem falta. C'est la vie. Não há muito o que esperar de verbos no passado. Nem de abraços não dados, nem de copos secos pela garganta também seca.

Pequenos idílios tocam meus lábios, voam vorazes e se dissolvem antes de completarem a primeira hora, assim seguem -se os dias e os nomes ficam empoçados em pedaços de nuvens, nacos de espuma boaindo na memória, apenas algumas coisas permanecem por tempo suficiente pra me fazerem ausência. Recomponho um odor uma letra um desgaste na intermitente procura por algo que não seja 100% composto de tédio. Pessoas me entediam com a velocidade de moscas sobre cadavéres. Assim como determinados lugares me dão calafrios pela escassez de ângulos. Voraz me ausento das possibilidades do dia, procurando nas gavetas abarrotadas de coisas algo que renegado ao esquecimento seja mais forte que a moleza do sol.

domingo, 21 de agosto de 2011

No último gole, um cubo de gelo indissoluto me rasgou de leve a carne da goela

E o dia foi feito de quases, de tanta coisa entalada, espinha de peixe sangrando e com pus. Unhas ruídas e silêncios indiscretos, vento frio e mãos endurecidas. A voz dele ecoava triste e pálida por cima do teor forte do seu copo. A única coisa projetada no seu semblante era o desgosto por não entender as minimas molas do gene ali modificado, crescido e alterado. Ele não sabia que nada daquilo realmente ofendia, porque aquilo era só um desejo seu. Não meu. Não íntimo. Casa, carro, filhos, cachorro, domingos no parque, essas coisas da gente que roda dentro da roda como diria Caio. Eu não sou disso. Eu sou do partido do Genet, eu me visto de vergonha pra dizer que não sou feita disso ae, e não sofro. Mas não faço disso bandeira, apenas passo. Quero assim, ficar rio. Passando, deixando as coisas dentro de mim boiarem e quando cansarem desse não lugar, deixar que se agarrem as bordas, a um pneu, um caco, qualquer coisa e me deixem.


Eu tinha receio de perguntar se no íntimo dos seus silêncios ela concordava que eu era apenas isso, uma coisa que não certo, um origami com dobra errada...talvez ai, eu não sobrevivesse e fincasse pé na cova, porque na roda eu não dou jeito. Eu giro e vomito, caio em vertigem. Adoeço, endureço.


Ultimamente eu só quero que nada mais exista além do tempo escoando entre os relógios e que acabe, assim como uma peça de teatro.

domingo, 14 de agosto de 2011

Entre as luzes apagadas um respiro largado

É bem parecido com uma ausência. Mas não tem nada a ver com o resto do mundo. Lateja, como se eu não fosse de lugar nenhum, como se qualquer minuto me fizesse andar quilômetros e nunca conseguisse voltar tão próximo. Chegar tão íntimo de nada. Ficar ali na superfície do rosto liso e perfeito de um estátua. Polindo perfeições como prataria. Mas talvez seja só aquele deslocamento me levando pra onde eu deveria estar. No mar. Longe. Assim, sem amarras. No mar. Mas se parece com uma redoma vazia, onde o ar é limpo mas mesmo assim existe um vazio e não há nada que preencha. Como se o tesão tivesse acabado. Mas esta lá em algum lugar. Deixei de procurar com palavras algo que me desperte. Daquela procura engasgada que atropela pernas, abraços, peitos, flores, tempos. Fica algo mais próximo de: se houver algo ficará em mim, como uma marca. Se puder sentir saudades valeu algo. Mas não tenho sentido saudades de nada. De ninguém. Como se eu nunca tivesse ido embora e as pessoas fossem rascunhos num papel amarrotado demais e eu não pudesse ver mais as linhas dos rostos. Algo como comer mamão.




O dia é tão cinza, mas não pesa. Consegue entender? Não pesa. Nada faz peso, força ou raspa. Como se fossem apenas linhas que eu pudesse apagar da memória com a ponta pouco gordurosa dos dedos. E tenho uma ponta de receio de que nada mais me faça chorar. Um cataclisma, uma criança, um pensamento furtivo. Um receio de ter consumido tanto das minhas sensações que agora fosse a maioria do mundo um passar indiferente. Não tudo. Talvez algo fique ali entre minha calmaria e os pêlos dos gatos que percorrem suaves todos os espaços da casa.

sábado, 30 de julho de 2011

Encantamento expresso. Acontece assim, girando as letras do alfabeto. Tem algo de peculiar na calmaria dos olhos dela. Tem alguma coisa de inquietante nas entrelinhas das palavras. O não dito, fica mais interessante quando preenchido pelas centelhas da imaginação. Mas não é nada fantasioso em demasia. É mais como um passatempo, um adivinhar segredos. Jogos de palavras. Tem algo recorrente nos meus micro romances. Marcas. cortes. Reentrâncias que me levam a pontos de contato entre todos esses nomes.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Pedras

Queria dizer alguma coisa, algo doce, como vinho branco. Mas a boca parece subitamente celada e nenhuma palavra parece minimamente interessante.

Já deitei saudades por todos os cantos, finquei mesmo fora de hora algumas palavras na trave...mas assim, fica um cansaço, algo parecido com : se há tanta coisa que me sente, porque pintar pedras de azul? Pra que falar com elas se não haverá respostas? Pelo hábito solitário de amaciar pedras na parca tentativa de torná-las flores.

domingo, 26 de junho de 2011

Para raios intercalado com soníferos

As pessoas são cheias de segredos e silêncios. Engasgos e choramingos. Coisas paradas na mente, como água parada. Criam vermes como nos tecidos deixados para apodrecer num terreno baldio. Pode-se recolher aos baldes as palavras azedas, as frustrações e as incertezas. E não, isso não tem nada a ver comigo. Antes tivesse. Mas fosse só a minha dor, bastava, o mundo tornava-se umbigo de novo e só o meu dedo tremendo em frente ao espelho e meus olhos vermelhos diriam tudo do mundo. Mas não, eu funciono como uma espécie de para raio. E ao meu redor, nessa semana, tem muito olho desmanchado por noites insônes e muita boca inchada de tanto se explicar. Só existe um meio de passar ileso por isso: não vendo. Mas o estado de cegueira é trivial, é o estado dos cachorros no extase do osso. No auge da lambida fria no pedaço de couro morto. Não é mais nada que a sua imaginação criando beleza onde já não existe nem mesmo a poeira ou a lembrança indevida daquela sensação de fome. Por que as vezes nos meus pensamentos tudo se resume a fome. Tudo descamba numa ânsia, mas que nem sempre é sua ou minha, é alheia. E ela rebate e retumba no saco vazio dos nosso estômagos ou nas nossas ásperas saídas de emergência. E numa semana que termina com tantos alardes alheios, e tantos recolhimentos, salivas e cuspes, resta apenas esperar que o próximo raio caia sobre meu peito e o abra como uma mexerica caldalosa e que pelo menos no meu caldo menos expesso alguma coisa possa projetar um sorriso em quem quer que seja.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Comum

Movediço. Ouvindo músicas ruins, que colam à parte mais intíma dos tímpanos. Numa tentativa frívola de me sentir mais perto do comum. Daquele instante comum. Mas está descolado. Meu peito, dedos, verbos, cabelos, pêlos estão descolados. Embora sinta saudades. Parece-me cada vez mais insuportável ficar entre as pessoas. Entre certas pessoas. Trabalhar com pessoas. Sinto tão melhor, tanto alívio em meio as folhas de papel, a tinta e aos respingos de cor na camisa. Assim entre desenhos, pequenos rabiscos, no mundo das idéias. Alguém uma hora escreveu " eu não vivo de sonhos, mas de realizações". Eu acho que vivo de pensamentos desconexos. De linhas extravagantes e de mobilias cor tabaco.


Ai de repente muda tudo e num lugar desmontável aquele homem fica desmontando nuvens e perdendo as horas conpensando os seus sentimentos em formatos inflavéis. Ali, sem sequer parar para olhar o relógio, mas de olhos fixos no sol. As retinas queimadas. A letargia esparramada pelas camisas, telhas, cremes, passarelas, caminhadas. Entre aquelas expressões facéis e aquelas que parecem facéis mas que são cheias de alguma coisa que bóia e chega até alguém como algo novo, mas que aqui é velho velho, mofado mesmo. Com cheiro de folha seca. Fica assim sentindo esquemas aritméticos dentro do coração. Esbanjando alienações. Inibições. Exibições. Espera. Espera? Espera!!


Eu não terminei!! Hey, espera!!


Foi? Você ouviu? Eu chamei! Claro que chamei!


Isso não faz nenhum sentido


Não?


NÂO


É que vocÊ tá ocupado demais ardendo por ai dentro de garrafas e não percebe onde os pontos se conectam e onde os personagens são exatamente o reflexo mambembe de um desejo qualquer que até já se esqueceu de nascer.


Papapa pa ra ra, sabe?


Hein?


A música!


Você sabe, conhece essa música! Você que me ensinou, agora fica esse papapapaaaaaa aqui quando eu fico sem saber pra onde olhar, quando as nuvens não se deixam engarrafar e os desejos não desejam sair do ventre da minha saliva.


Ah eu fico sonhando em dormir na geladeira. Ao lado das garrafas de vodka. Ao lado dos iogurtes e alfaces. Mas e se não tiver nada na geladeira? E se meu dinheiro tiver acabado antes do décimo dia útil e não houver nada na geladeira? Resta a solidão do frio. A existência do silêncio e todas essas coisas que me são tão comuns. Olha ae, eu sou comum.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

De como o tempo pode ser monocromático ou como hoje alguma coisa foi dispensável

Não estava aqui, agora esta. Essa sensação de estar só no mundo, vasto mundo. De respirar clichês, pela ausência de expressões. Tendo ainda assim, um dicionário gigantesco ao lado da cama. Sinto que faço as coisas somente pra mim. E isso me dá uma solidão danada. Alô? Paredes. E ae? Beleza? Discurso fake, conversa mole, quebrada sabe? sabe? Ah, nem tem ninguém aí. Eu acho que perdi algo no meio dos nós. E eu sigo procurando. Mas fica cada vez mais distante ou eu que penso demais. E desespero demais. E urino demais. Bebo pouco nos últimos dias. Fico no impasse da espera e nada alivia. Telefone. Email. Mensagem. Toda essa espera. Todo esse desconforto de ter um calendário pregado na cara. De ter que entregar meio mundo no espaço de 35 dias. E ainda assim, ter que ouvir que é tempo demais, que tem tempo de sobra. Acho que sou larga então, me esparramo demais. E fica difícil voltar a minha forma original. E ainda assim, ainda tem tempo pra me sentir só. No meio dos livros. Sinto saudades de mim quando pessoas, mobilias, calendários, relógios, cachorros, chinelos, meias, camisas, pastas, figuras não passavam de cogumelos estampados e amarelos no meio do jardim.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Blocos deslocados na sala de TV

Tem algo que parece com esse vento. Com esse frio. É repetitivo. Uma ânsia que vem e volta, feito maré dentro dos dentes. Submersa na ponta dos dedos. E de repente irrompe em sonhos, pensamentos. Fica um azedume, aquele gosto de sangue pisado na boca, sabe? Quando um dente sangra e fica aquele gosto estranho. Mas que é tão sensível e tão bom. Eu fico assim, pensando em dizer coisas que não devem ter muito sentido. Hoje eu vi um recado de um alguém para um outro alguém, vamos chamar de Botão para o casa de botão e fiquei feliz que eles se achassem tão perfeitamente entrincheirados um no outro, quase indissociavéis. Imutáveis no seu amor andarilho. Porque em tanto tempo de inquietude, em mim descansam as palpitações. É uma sensação vazia, porque eu acho que sou feito de amor. Eu fico doendo. Mas agora eu só fico aqui entre montes e montes de papel. Tem muito trabalho com o qual me ocupar e pouco coração pra lançar no espaço. Ficam fiozinhos ainda translúcidos daquelas coisas passadas que de vez em quando passam pela minha boca, mas eu tiro com um meneio de mão muito delicado.


Mas o meu alfabeto às vezes degela: daí eu escrevo um poema, quer dizer, eu rabisco qualquer coisa, porque um poema é algo muito frágil pras minhas mãos e ao mesmo tempo muito pesado pro meu abraço.

sábado, 21 de maio de 2011

N°5

Mais uma daquelas sensações de queda inevitável. Talvez seja somente sono. Carência de calor, olhos fechados e relógio quebrado. Talvez seja esse o motivo dessa sensação de esgotamento. De andar andar andar e não sair do lugar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Daquelas apatias não conseguia se resguardar. Era naturalmente triste. E andava tão sozinho que até o forro do peito lhe faltava. E agora que fazer com as palavras?

N °4

Parece que um bolor se acostumou na garganta. Ficar zanzando da língua pros poros, olhos, costelas. Fica esse frio horrendo. E essa tristeza que não adormece nem no fundo do copo. O cheiro doce da bebida não entorpece. Queria antes preencher-me de bourbon. Ficar ali boiando nele e não ele em mim. O batimento estagnado. Não, não é uma dor. É uma vontade constante de chorar, de se afogar. Não era apenas ela que lhe fazia falta. Era uma série de coisas que desabavam sobre o seu peito, que mais parecia agora uma casa abandonada de teto esburacado e chão empedrado. Nem sabia como explicar. Era uma sensação assim vazia. De solidão absoluta. Como se o cheiro do seu coração afastasse até o ar e o tempo parasse no derradeiro momento do grito. E aquele esgar não saisse nunca mais do espelho do banheiro. Era um tal de falar sozinho, e por tanto só, não conseguir entender aquele outro.

A coisa chegou a tal ponto que se fazia mais sozinho que o seu natural, numa tentativa doentia de se redimir de toda falta de tato com o gênero humano.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

N°3

Ele passou duas horas debaixo da garoa, passeando pela cidade. Assim sem aviso, sem pensar muito. Estava frio. Tudo era recoberto de um azul triste, pálido e sem frescor. A voz distante, parecia sonífera. O abraço gelado. Um encontro que ele esperava tanto. Que ele queria tanto. E como tudo que esperava dali com muito entusiasmo, estava recoberto de um véu azul e frio.


Lembrou que ouviu diversas vezes sobre a falta de tempo, porém, mas uma vez era o relógio que não existia apenas pra ele.


Foi uma abraço frio. E ele que amava tanto ficou frio. Sem reações. Estava morto. A perda dela ainda soava fresca e cheia de cheiros.

sábado, 14 de maio de 2011

n° 2

Sinto o coração sangrando. Arfando de dor. Mas não uma dor causada por alguém. Algo de vazio. Um resto, um fio de sangue, vômito, urina e suor e palavras que não acentam. No fundo do meu lodo. Do meu corpo. Não.




Há um frio em volta do meu corpo que apenas os livros e as garrafas parecem preencher. E mesmo as garrafas tem falhado. Hoje, elas falharam. O abismo foi mais profundo. Nada pôde aplaca-lo até essa hora em que me jogo sobre letras na esperança de sentir algum conforto.

domingo, 8 de maio de 2011

Pedra, papel, tesoura

Mantenha distância do meu coração. De mim. Do tudo em mim se possível. Estou a ponto de explodir. Joguei metade do ano fora. Sem razão. Deixei um vazio. Mas ainda assim ficaram estalos. Pedaços de nada fincados na minha carne. Espaço tempo perdidos na minha falta de sorrisos. Ando sorrindo tão pouco. Tão fora de mim. Tão a beira da estrada. A revolta é tão tardia que caberia num palavrão pequeno. Mas já que quer ir embora então vá. Mas não fique indo e voltando. Isso eu não aguento. A cada volta uma ferida reabre e fica fedendo pelos cantos da sala. Mas é claro, que isso você não sabe. Eu sou sempre a insensível do momento.


Mantenha meu peito na jaula. Eu mantenho meu peito na jaula. Ele fica ai, arreganhando dentes e ganhando feridas perdendo sangue e fedendo fedendo fedendo pela porta afora. Você sente esse cheiro na minha falta de sorrisos quando me vê passar? Ah, não, você nem vê. Esse mundo seu é intocável. Apenas para pessoas sensíveis. E eu obvio, sou uma pedra.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

J.

Apenas não vá.

Estou pedindo que esse esforço essa dor essa diferença toda que existe entre nós morra. Que você não vá embora. Não, já não é a mesma coisa. Lá do início. Aquela minha paixão. Aquele seu entusiasmo. Estamos ambas cansadas. Você não compreende meus impulsos, e que eu preciso de algo mais presente, que me sinto dando voltas atrás do meu rabo, enquanto estou atrás de você. Isso me cansa. Isso me cansou. E parece que não faz mais diferença quem vai deixar quem. Quem não quer mais escutar, esforçar amar quem. Mas faz. E eu estou sempre aqui, arrombando a porta e mandando flores. Do seu lado, sei que é difícil, a sua personalidade tão sutil, delicada, dá de cara com a minha escancarada e também verborrágica, mas você sabe tão bem, ou deveria já ter percebido, que é tão fragil aqui dentro, que eu posso quebrar a qualquer instante. A gente até hoje não descobriu como se ajudar. Existe algo. Mas esse algo está morrendo. Se não já morreu. Será que alimentamos fantasmas por tempo demais?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Coreografia imaginária para um amor submerso

Ficou ali parado. Mais uma vez parado. Suas palavras tentavam toda a doçura que talvez todo o seu resto não conseguisse. Chegava ainda com assombro, sem nenhuma lucidez. Parecia febril. Mas não eram febris e ridiculas todas as cartas empoeiradas de paixão? Não é assim que as coisas acontecem no meio das pessoas comuns? As paixões chegam, se instalam e viram aquela ferida pulsante chamada amor? Mas era submerso. Era. Nunca viria a ser. Tinha as malas prontas pra ser extraditado. Aquele sentimento do tamanho de um grão, estava no lugar errado, enterrado no olho, mas ainda não causava coçeiras. E nem causaria, mas olha que mentira. Ela já havia se instalado nele de alguma forma. Como? Quando quieto a imagem dela saiu de seus dedos e adormeceu num pedaço de papel, ele soube que poderia ser de verdade. Porque tudo que amava adormecia em folhas de papel, assim sem aviso. Seus dedos não pensavam, apenas colocavam pra fora. E olhe ali. Seus olhos de menina. Riu. E ficou parado, contemplando a imagem. Em silêncio guardou o desenho na gaveta e saiu. Tomou um pouco de ar. Mas nada vinha ao seu coração, era apenas um grão que uma vez no papel, estava morto. E ao mesmo tempo tão vivo. Apenas abortado pra um momento de solidão.

As paixões natimortas são assim.


Abriu uma garrafa dágua. Estava um dia frio. Mas queria sentir frio. A água descia gelada. Sentiu os pêlos da sua nuca se arrepiarem. Dentro de si algo submergia docemente. E acentava no fundo do seu corpo, como sedimentos num rio muito turbulento.

domingo, 1 de maio de 2011

Uma lacuna muito, mas muito pequena e fria da noite

Passou assim.

Dia. Noite. Dia. Noite. Dia. Noite.Dia. Na progressão das horas e eram quase cinco. Aquele gosto de sono misturado com uma pitada de azedo. Amanheceu tarde olhando o céu que se abria num azul opaco. Azul opala. Pegou o metrô e dormiu. Desceu na estação errada e teve que ficar ali. Em pé. Rezando pro sono não o dominar mais uma vez. Sentia-se pesado e odiava isso. Gostava de beber a noite. Ficar ali com seus cubos de gelo. Mas a noite é feita de corpos. E os corpos que estavam ao seu redor estavam vagabundos. E teve então aquela sensação de ser demais pra estar ali. Bebeu cerveja. Ele ODIAVA cerveja. Mas era o que havia restado, além dos três reais contados pra voltar pra casa. Um bom conhaque sairia caro. E ninguém ali ia lhe pagar um. Sentia o sono esmurrando as lacunas do seu corpo. Odiava a ressaca quase mais que a cerveja. O dia passou receoso e cheio de amnésias.

Um fragmento da ossatura de um homem particular

Dissipou as nuvens que pendiam sobre seus olhos. Ficou inerte no calor do abraço que não se remontava. Uma palavra e nada era a mesma coisa. Estava tão quieto, interno, mas algo vazou. Pelas frestas dos seus dedos algumas coisas vazaram e chegaram nela como um assombro. "Posso pousar a cabeça no seu ombro?" " Não confunda as coisas, sério." Ai, ele perdeu o fio da história, pelo tom da voz sabia que tinha feito algo, mas puxando os fatos não se lembrava do excesso. Ficou amuado. Podia ser agressivo. Mas defensivo como sempre, se enrolou em três ou quatro piadas num claro sinal de " não adianta falar disso", por mais que o falar fosse necessário pra calar as perguntas dentro de si. Mas o que mais o deixou abismado é que ela não o levou a sério desde o primeiro dia. E só hoje, assim por acaso, ele teve claro e declarado. Fazia sol. Pensava num whisky com no máximo uma pedra de gelo. Ficou lá vendo as nuvens passarem por dentro dos seus olhos. Não que houvesse raiva ou algo assim, mas pelo estranhamento. O ataque inesperado da sua carência por uma força oculta que eram os olhos dela incisivos sobre os dele, que de tanto não saber o que fazer queriam fugir e se transformar em qualquer coisa que estivesse longe daquele contexto.


Uma simples pergunta desenrola um novelo. Descamba num texto. É sério que você não sabia que eu te queria de um jeito tão simples? E é sério que você não percebeu que perto de você não sou eu, é apenas um carinho que fica? E que diante da impossibilidade, não fica ferida? Fica apenas assim, mão aberta pra te tocar sem cinismo?


Ele não é direto. Ele não sabe dançar reto. Ele mal sabe dançar. Ficou assim pensando em jeitos de não misturar sal com açúcar. De não ficar sem par. Apertar. Mas que estranho. Pensou mais um pouco, e não sossegou o miolo, ele não havia feito nada de excesso, além de estar perto e dos seus silêncios habituais, normais quando algo o incomodava ou quando se sentia fora do lugar. E geralmente se sentia fora do lugar. Assim, sem par. Ele realmente, não é um homem direto. Ficou assim parado. Medindo o quanto da sua alma vazava pelo espaço e tentando achar o buraco. Queria fazer um remendo, pra que o que existia dentro dele não saísse assim sem aviso e entregasse seus segredos pra qualquer um que estivesse perto. Na mesma distância de um beijo ou um aperto de mão. Bem, na verdade, ele era um perdido. Fica deslocado entre as pessoas e só se sentia confortável no meio dos bichos.


Mas é sério que você não tinha percebido que esse jeito todo tosco envolvia um pedido tímido? Que nem era pedido, era mais um " olha esse sentimento existe tá? mas ele vai ficar aqui, fazendo nada, enquanto faz as malas pra uma hora ir embora" E agora eu fico querendo explicar, porque eu adoro explicar, eu preciso me explicar pra mim mesmo. O que não deixa de ser engraçado. Mas se eu explico eu complico mais. Porque não tem nada pra ser explicado. Você tem um par, eu tenho sapatos.


Me explica quando eu confundi? Pra eu poder te explicar se era ou não?

Ele tinha "sindrome de pequeno principe" cativava então cuidava. E se gostava cuidava mais, e chegava até a baixar e guarda e se deixava carinhoso como um gato se gostava mesmo. Era assim zeloso com todas as coisas que amava, mesmo que gostasse e muito do personagem mal encarado que só reclama e não gosta de nada. Quando dizia "você é uma anta as vezes" era quase um " você sabe que eu te adoro, não precisa de confete, te trato mal pra você não se afeiçoar a mim" Tinha tristeza de sobra pelas perdas. Sabia de perdas. Vivia de perdas. Ontem mesmo, perdeu 40 reais. Mas era assim confuso. E não era ao mesmo tempo. Perdido. Diluído. Diluía como tinta suas intenções entre as frases. Como se exercitasse uma coreografia imaginária para um amor submerso. Nome bonito pra um poema. Quem sabe? qual tema? Tema? tenha medo não.

Ele era só um homem estranho e particular.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

(am) ando. (grit)ando. (cham)ando. (jog)ando. (sonh)ando deitar fora muitas coisas que não fazem mais sentido que já não faziam há muito. Ando qualquer coisa

segunda-feira, 4 de abril de 2011

L



Braços abertos


imensos abraços no espaço


alonga


retorna

respira

imediato enlace de dedos

nos vazios do espinhaço

Braços em riste

singrando a avenida

nos faróis

minhas pupilas

em longos silêncios

murmúrios autênticos

desejinho rasteiro

entre as sombras dos seus pés

sorriso brejeiro riso altivo vivo

certeiro

fica nos seus olhos um amor

autêntico

por toda a expansão do seu corpo

macio

Dois dedos de água no conhaque

Realmente não é nada. Assim de novo, nada. Restrinjo minha busca a um nome. Um movimento constante. Um suar de cabelos na testa, numa alegria infinita de tanto mover. Como se ali, no ato de mover, a vida em si acabasse, retornasse e tudo mais. Apenas ali, naquele olhar risonho. Ali. Um encanto, envolvente. Mãos. Braços. Pernas. Sementes de desejo jogadas em espiral por aí.. Tão natural quando a força das batatas e o incêndio que causa ao sorrir.

Me confesso. Me livro mesmo, das páginas um pouco escritas na goela. Toda e qualquer irrealidade me deixa. Fico um tanto vazia, mas já é comum, mas me faz bem. Se não se importa, talvez suma você também. Assim, sem raiva, minha imaginação, vai logo tirar férias um pouco. Deixa um quadro negro respirar o ar da noite. Fico assim. Vai chover. Vou ao teatro, me confesso mais um pouco, deixo minar, mas não é nada. Não é nada realmente, podia ser, se eu alimentasse. Mas com todo o cuidado, aprendi a não alimentar muito meus monstros. E no dia da mentira, contei algumas verdades. Escolhi o dia que ninguém acreditaria pra expor as artérias ao vento. Chove. Chove. Faz frio. Eu gosto de cachecóis, mas me dão uma alergia danada. Mas fica bonito. Como esse monte de palavras. Que bem no fundo já não querem dizer nada, porque tudo isso está passado, de passagem, de leve, me leve, você sabe o resto do verso. Você deve se lembrar de alguma parte dele, porque eu já me esqueci dele inteiro. É abril. Ainda tem um mês inteiro de limpeza.

Cansei um pouco de jogar com coisas inúmeras e adicionar palavras a minha boca já tão cheia, o silêncio pode ser providencial. Eu quero ir embora. Me deixa ir? Me ajuda a ir embora? De vez. Pra sempre dessa mesmice? Me deixa ir assim como esse seu movimento, mas tem vários "vocês" misturados aqui dentro, desse liquidificador, triturador de todas as coisas. Mas esse triturar a dor não dura muito, ela passa, deita dorme na minha cama, depois sobe aos meus olhos em momentos de descuido. Afio minha língua pra quem é doce demais e não pode me entender. Foda-se, não tô afim de ser doce. Quem quiser entender essa coisa toda aqui, que entenda, que suje um pouco as mãos na minha tinta, carmim. Azeda. Amarga. Vai chover. O amor me pegou, me pega constantemente, feito gripe. Mas não sou a única a balançar na gangorra.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma segunda um número menor que o dia

Desconforto. Essa chuva que não para. O meu corpo que adormece. O esquecimento que se aconchega nos meus espaços. Ia dizer qualquer coisa de inútil. E fica assim só um desosso. Uma coisa trêmula que não consegue sair, zarpar e ganhar o mar, fica dando voltas dentro de mim, não não é nenhuma dor, nem nada que rime. É um pedaço do tempo dando voltas na minha garganta, trazendo em si uma irritação. E essa chuva que não para. Acesso toda a minha coleção de músicas de chuva, Galaxie 500, Smiths, Elliott, Portishead e por ai vai. Deixo essa coisa se abater sobre o corpo e a voz e fico inerte esperando que saia. Sacudir não adianta muito. Nunca adiantou muito.
E eu quase não penso em nada, fico exclusivamente olhando pros meus rabiscos, cheirando minhas paredes mofadas e pensando em Caio F. Morangos mofados. Parede verde. Sentada no chão, no cúmulo do desconforto, porque o chão tá cheio d'agua, me sinto numa ilhada, isolada de mim mesma por quilometros de distância. Longe até de qualquer saudade.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Se e Quando

Me causa efeitos entorpecentes. A menor tristeza sua me vejo enrolada em seus cabelos, ardendo de doçura enxugando suas lágrimas com meus beiços. Me vejo na escrita de palavras que não deveriam sair de mim, mas que pulsam sem me causar dor, apenas saem. E vem você me dizer que é lenga lenga esse meu sentir. Que esse desconforto que me faz esmurrar paredes, essa vontade de abandonar ao relento e na distância esse nosso nós é bobagem. Talvez seja cobrança excessiva minha, mas a idéia de um guardanapo me passa pela cabeça e me silencia. Deixa estar, canso de pensar, mas sentir é coisa incontrolável. E sinto à beira da loucura, com excessivo comedimento e com eterna beleza e amor. Porque quando digo que amo, querida, não é apenas por dizer. É pulso. Sangue. Eternidade.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Delírios

Tenho gosto pelas coisas impossíveis.
Ah, tenho, tenho sim, pelas coisas invisíveis, até pelos ácaros dançando no ar. Essas coisas aparentemente estúpidas ( e que no fundo talvez sejam mesmo) tenho-as todas no meu bolso. Ao lado de poemas queridos e fragmentos de memórias e de copos roubados displicentemente de bares pé sujo.
Tenho sabor de estupidez nos lábios e presos entre os dentes alguns farrapos de palavras, coisas que não valem muito ser ditas, mas que eu palito e repalito num reboliço de coceira na língua. Ai fica esse vai não vai, chove mas não molha, inunda, a boca de saliva. E fica uma pequena gota de obsessão pingando pela ponta do lábio grosso.
Madeleine me abraça loucamente, carcomendo as frinchas do meu corpo, só não o faz líquido, porque ele escorre natualmente de tão louco, de tão habituado à loucura. É, tenho gosto pelas coisas mais imprecisas , conhaque sem gelo num dia de sol. Heineken no meio do cinema. Contos de amor improvisados sobre olhares fragéis. Faz parte da minha partitura. Vá lá saber.
Gotas de chuva morrendo no vidro e eu com uma vontade besta de desenhar rostos no meio da tempestade.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quando a chuva cai o relógio mostra seus ponteiros escorregadios

Chove. Chove pra caramba. Imagino os bueiros estourando em cachoeiras desonestas e sujas. Tampas voando como OVNIs sobre a cidade inundada. Mas nada do que penso agora tem a ver com o mundo aí fora. Parece que é só um reflexo, uma tapeação na verdade, pra refrear essa ânsia de entender seu mundo. Você nunca tem tempo, sempre tem seus silêncios. Respeito suas ausências. Mas é sempre ou parece sempre tão unilateral. Tenho me mantido aqui, no meu canto, quando quer, resmunga uma palavra meio doce, mas é sempre por pouco tempo. Alguma coisa não se encaixa. E não tenho intenção de me tornar a base de um dos seus personagens. Dos seus neuróticos e castigados personagens que ficam criando chagas na alma e definhando aos prantos e bêbados na sua porta, na ponta dos seus dedos. Mas o fato é: você nunca tem tempo, ou nunca quer ter tempo pra mim. Um dia você me disse que tinha medo. E pelo jeito deve ser isso. De alguma forma eu não pareço uma criatura acolhedora, mas assim como você, não sou. Apenas quando quero. E tenho perdido a vontade, ficando assim, reparando nos seus detalhes. E vendo a sua vida passando ao longe. Que não faço parte do seu círculo, bem sei, mas imaginava que houvesse uma linha, alguma coisa, mas bem, isso temos: trabalhamos bem. É isso, pensamos bem em coisas objetivas e por alguns instantes nas subjetivas. Mas é isso. Não sei como definir. E já me cansei de tentar. De achar brechas. Desde o início fui sempre eu que abri caminho nas suas negativas, nas suas durezas. Acho que meus braços doem. sabe? ficaram dormentes, porque enquanto eu abro caminho entre pedras, do alto você janta com seu círculo. E você nunca tem tempo. Pessoas realmente são estranhas. Mas deixo isso pra lá. Bastava sair de mim, pra não intoxicar meus olhos, ossos e língua.
Toda vez que alguém me pergunta: " você está bem?" forçosamente respondo, mesmo tendo na mente o maior dos agouros " melhor impossível". E pensando em detalhes, ando perdendo instintos....

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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Como bolo gelado.
E o esforço parece cada vez mais inútil. Parece que algumas coisas não mudam por mais que o tempo passe, você leia coisas e o corpo caia. A porra do açúcar gruda nas minhas veias, me intoxica, acabou o conhaque. E hoje no meio da tarde pensei em você e meu corpo ficou líquido. Aquele mormaço seu leve e tenso ficou num sonho asqueroso. Porque toda a possibilidade nula é asquerosa e eu não suporto ficar ouvindo aquela balela toda o tempo inteiro como um mantra. O açúcar gruda nos dedos palpebras e tudo mais. Eu sei. EU SEI. Mas no fundo bem lá no fundinho eu segredo coisas. MAS FODA-SE. Como bolo até estourar a tampa.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dois copos por favor

Você se parece muito com Bukowski, mesmo. Lendo vejo-a escondida ali. No jeito roubem minhas mulheres, mas não meu uisque. Na cisma, do deixem meu corpo quieto aqui no mofo. Quero ficar quieta aqui escrevendo. Dramaturgando. Tem muito da sua linha naquela linha. E o meu ano novo ficaria insosso sem a sua presença alcoólica, no calor dos seus abraços rasteiros e até mesmo na sua doçura tardia em rever meus amúos. Ficaria tardes inteiras apenas assim, dedicada aos seus braços, meramente perto, sem a necessidade imposta de trocar palavras e rachar nosso silêncio tão prazeroso.
Mas desconfio que é amor demais pra esses tempos tão cinzas, esses espaços tão internos e fundos. Essa coisa nossa, que eu não sei se é nossa, porque eu não sei o que é seu e o que é meu, e o quanto disso vai ficar pra eternidade das estrelas. Não que isso seja preocupação primordial ( o ser defitivo, o estar para sempre) mas é coisa que fica mareando pra lá e pra cá entre as noites, nossas pequenas declarações ( quando algo faz nó) e nossos copos.
Penso, entre essas modas e romances travestidos, amizades infiltradas de sentimentos intensos que a melhor saída de todas é sempre o silêncio, o calar e deixar serenar todas as preocupações e só de leve borrifar um impropério pra garantir uma discussão que calamitosamente nos permita amar juntas e sempre mais e sempre menos, pra evitar o desgaste e o estouro.
Ainda assim gosto e muito do papel coadjuvante que desempenho nas novelas diárias.
Olhe só, começou com pensar em você, enredou por nós e degringolou no pensar no mundo assim indiscretamente e sem aviso.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

E...

É como uma esclerose. Uma pontada. A espera é como um soco no meio da boca. Esperado. Inesperado. Sangrante. Sem pontos. Não dá tempo. Quando vê já foi, nem chegou. É simples assim. Fico contando carneirinhos, decaptando carneirinhos, querendo apenas a queda desse tempo infernal sobre as minhas omoplatas de uma vez. Essa palidez que os dias tem me adornado. A falta de senso. Estético, prático.

Eu só tenha mais vinte e nove minutos ( pra menos) de irresponsabilidade.
E daí? POIS É. GRANDE DROGA. Me jogo certeira na vitrine da loja esperando ver um sorriso que eu não vejo, os bonecos nunca sorriem. O fluxo da cidade condenada transpassa minhas órbitas febris enquanto eu rasgo pedaços de passado e de palavras doces (doces?!) de uma paixão qualquer que ficou condenada dentro de uma agenda. Essa mania de guardar agendas de anos mortos, com bilhetes, convites, ingressos, regressos. Vai tudo pro saco literalmente, pro saco de lixo preto. De repente leio " quadrilatero moscovita" e aquele naquele instante era o pior momento. Mas nós eramos tão jovens, tão felizes, acreditavamos que fazendo o INVERSO, o verso, tornariamos o mundo mais potável. MAs olha que coisa, fomos separados de nós mesmos pelos nossos braços agora ausentes. GRANDE BALELA. Ainda dá tempo. Eu tenho ainda uns bons vinte e cinco minutos, tempo de sobra pra concatenar desgraças e sonhos abortados por trás do espelho...
Será que haverá revolta pela minha sede de morte?
Por que é uma sede. De morte. Dessas coisas velhas. Dessas cascas, feridas, fendas, estios, dessas coisas estremecidas que se tornam flácidas e depois se tornam líquidas e depois se tornam nada. Nada. Ficam assim vazias inexistentes. Apetrechos de cozinha inúteis, como aqueles cortadores de bolo que ninguém usa quando deveria ou pegadores de macarrão. Quinze minutos!
E você estará enrolada em lençóis, pensando em C, D, S e A? Nas suas paixões e resgates e enroscos e gozos? E, será? Será que sobrou alguma coisa ai pra mim? Ou será que já comeram tudo e lavaram os pratos? Boa pergunta. Pra depois. Pra jamais. Quem se importa. É só o tédio aflito se movendo da ponta dos dedos para a ponta dos dentes. Ou vice-versa. Verso triste eram os meus na data dos vinte. E agora olhando mesmo, eu passo muito tempo não sendo parte da vida do mundo. Sempre assim na superfície da passagem, concertando os braços, pernas, ombros, guelras, seios, pernas, coxas, bocas, brâquias , pêlos das pessoas que me cercam. E sempre em mim fica um funil. Dez minutos pro fim do mundo. Do tempo raro. Do tempo de ouro. Começa o outono, mas está tão quente e cá aqui dentro eu não sinto mesmo muita coisa. Eu acho. Nunca sei. Sempre é farsa. Sempre acho que é farsa.
Vai mudar. Assim sem aviso, agora. Ainda faltam dez minutos que se arrastam como os condenados de Hugo ou as masturbações de ciganos de Genet. E assim tão perto quase dá pra tocar com a mão. Aquele céu intenso de veludo, quase musgo enxertando nas mãos pontas duplas de estrela. Assim claro e diabólico, porque essa coisa de amor tem algo de diabólico. Tá tudo misturado no fluxo, amor, sexo, paixão ódio inveja sonho conhaque esquizofrênia sangue e mijo..
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cinco...
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Silêncio
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feliz ano novo... bem baixinho... ( mas é agora o que eu faço com isso?)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Penso de leve, ainda com jeito de ressaca. Meu cérebro se desligou pra evitar que eu me matasse. Porque de alguma forma eu tenho tentado me matar aos poucos. Bem em fartas doses, em pequenos suicídios. E sei lá, aparece como fantasma , um delírio o seu nome na minha língua. Mas no minuto seguinte já não lembro. Já não é coisa alguma. E fica apenas esse nó dolorido dentro do corpo. E uma saudade esquisita fica dando voltas dentro dos meus pensamentos. Mas eu não sei do que nem de quem.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Durante o temporal, meu peito se arromba cismado

Pensou que se ouvesse um Deus ele seria com certeza desocupado. Como ele pode ser tão desonesto a ponto de fazer isso? Deixar que dentre as minhas frestas passasse tanto desarranjo. Das paredes do quarto jorros seminais e aquáticos estirparam meus risos convulsos com Genet. Interrompeu nossos beijos assim sem cerimônia nenhuma. Pra minha tristeza, senti-me num barracão desalmado feito de plásticos e restos de propagandas infames. Meus livros, partes ternas de minha alma morrem e se umedecem em lágrimas, enquanto jorros medonhos os levam pra longe. O quarto quase desabado em água. Dentro de mim uma raiva constante, uma falta de fome, pedaços de sensação desmoranadas como pedaços de gesso do teto no chão. Em meio a água. Pedaços daquela sensação de horror. E até parou de pensar nas coisas mundanas, seus livros boiando chorosos no meio da tempestade e seu teto desabado preenchiam-no de uma raiva e uma tristeza maior que qualquer amante. Esmurrava os armários na impossibilidade do choro. Os demais inquilinos ouviam com revolta os murros surdos. E na impossibilidade de salvar a alma sacou de uma sacola uma garrafa de Domecq e sentada numa cadeira velha com os pés enfiados na charneca improvisada e particular continuo lendo Genet, enquanto esse pingava solidamente sobre seu colo. E de tão amuado e contido nem se incomodou com tudo que lhe enchia a testa de cisma, a Tv alta do vizinho surdo, os latidos do cão vira lata... triste e marginal como seu livro úmido.

sábado, 22 de janeiro de 2011

é, mais ou menos, quase isso...

Às vezes quando você diz " saudades" eu acredito, por um minuto inteiro quase. Mas, só fala quando chamo, quando minha boca singra o espaço na busca do ar. Quando de alguma forma indico que sinto. Por sua conta mesmo, descreio. Por sua vontade voltariamos ao início, estranhos margeando a rua sem razão de olhar pros lados. Às vezes quando digo saudades, é porque já me apertou de tal forma e tanto que quase já havia esquecido da sua existência, era mais ponto cravado no peito. Farpa. Você tornou-se cólera. Um estado de demência. E ainda assim, entristeço de leve, quando o tempo anda e permaneço na esquina olhando você ir embora.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Das tardes mornas

É quase um modo de arrancar de mim algum grunhido entende, é muito próximo do coração selvagem. Parece que eu não existo. Queria poder explodir, fazer escorrer pela ponta dos dedos, mas eu simplesmente não existo. Ou não quero. Faço tudo pra me apagar. Deixo que as paixões se cansem e morram. Deixo que elas pranteiem sobre os próprios dentes enegrecidos e arrancados.
Deixo meu coração cansado de cismas ficar intoxicado, enjoado de tudo que há nele, permito que vomite sobre o piso, mas não nos copos. Nunca nos copos. Nem mais nos corpos. Olho pra tudo com aquele olhar de quem dorme demais, de quem cansa com o mormaço do dia. Tiro as gavetas do lugar, deixo tudo bagunçado. Abro a saliva e deixo ela estancada num vidro só. E no fim da chuva fico no vidro com ares de sonho. Pensando se admitir certa saudade já é um passo pra esquece-la. Ela, a saudade. Se apunhalar o silêncio com gritos é o o suficiente pra ter forças de não rompê-lo num novo apelo frouxo por uma chama frívola. Ouço Nina Simone. Deixo entorpecer. Lânguida nas palavras de Clarice e na linha bamba de Cristina. As folhas lá fora úmidas de chuva brilham. Os fios de eletricidade se transformam em massas retilíneas no horizonte, apesar da noite o céu é meio laranja. E toda a descrição é apenas um acalanto, um refúgio quase para os pensamentos que não querem adormecer.
A conversa chega num ponto em que o silêncio diz mais, e aquela pergunta não precisa ser feita. A resposta é dada na falta do que falar. E a certeza é tanta que vira raspagem do osso, parece forte, mas é cena. É cena sempre. E essa solidão que consome as horas e enegrece os poros do corpo é mais amiga que fatal. E a mesa continua extensa de desejos. Mas não hoje, ah não, por hoje, o peito é cansado demais. A mornidão dos lençóis não aplaca a sensação intensa de afastamento. De casulo. De perda. O coração vomita. Regurjita. Passo. Piso. Sujo os chinelos. Deixo secar. O verão é quente demais. Uma hora some.
Me desapego. Deixo secar. Vomito. Evito os excessos me excedendo. Contraditória alargo a noite com mãos firmes mais ainda assim pequenas. A sensação fanstasmagórica da madrugada se aproxima e não há copos para enganar o vazio.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

E era assim quando cruzava a Matias Aires desavisado

E era isso.
Simples daquele jeito que sabia tão bem fazer.
Desceu as escadas e pediu mais uma dose, seu Zé, dono do bar, nem fez caso do fiado, o terceiro ou quarto do mês. Mas olha só, o mês tinha uns oito dias ainda, meio recém nascido. Deixou em cada talagada suave, lenta e doce uma idéia escorrer. Lembrou de todas as coisas que conseguia. O máximo de palavras escorreu na língua sem sair. Pensou direito. Não fazia bem ter raiva assim do esquecimento, porque ele mesmo se esquecia e muito. Nem de criar caso só por tédio. Último gole. Copo vazio. Reluzente ainda daquele fio fraco de cachaça restante. Dava nem pra lambuzar uma linha do dedo. Perdeu 2 segundos olhando o copo. Abriu a vista pra rua. E pra todo o mar de gente que se acotovelava naquele ano recém parido. E mesmo assim, pareceu divertido. Teve mais raiva não e nem saudade. Essa era uma coisa que sentia tanto e que não levava a nada, era esquecido..então uma hora ele ia esquecer, simples assim, como uma conta de telefone ou um frame da infância. Desceu a rua sem pagar a pinga, no final do mês, lá longe dava jeito, se não esquecesse.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

morangos mofados dentro dos bolsos da calça

Quando me diz saudades, penso nada. Sente coisa alguma, mas penso assim, com palavras ocres, duras. Fico na metade, e sabe de uma coisa, essas metades, perdidas, espalhadas pelo piso da sala não me convém. Se quer qualquer coisa minha, esteja corpo presente, alma, osso e tremor. Aguente meus abismos, meus desamores, minhas marés e quem sabe assim em algum momento consiga descobrir o que há de silencioso nos meus abraços. E não eu não falo de amor. Falo de qualquer metade estriada e vermelha sendo arrastada como um cadarço velho, eu falo dessas relações meio falidas, condenadas ao fracasso pela falta de entrega. Se quem quer que seja, e nisso incluo o capeta, deseja cirandar ao meu lado, que fique inteiro e me dê abraços inteiros, palavras que valham, não me venham mais com "saudades" vazias com " eu te amo" cheios de limo, com farsas amadoras. Deixei tudo isso no ano que passou.
Deixei, almejei me livrar desses nacos de pele vazia, desses pesos que só avolumam listas de telefone, mas que dentro de mim pouco ou nada significam. Desculpe, eu não sei brincar. Alço vôo fácil. Deixo a correnteza quebrar minhas pernas e recorro à proteses para andar por toda essa pedreira.
É sem ordem isso, é verborrágico, tento estancar, mas tem dias que isso me corrói, eu nem digo o que ou quem, ficaria repetitivo. Mas essa preocupação me mostrou outros fatos, que se perderam muitos nomes no meio dessa pedreira. Ah, eu deixei tanta coisa mofando...Eu deixei tanta coisa amarelar antes da hora, com essa minha vontade de trazer intenso e próximo na velocidade de um raio. Com essa mania de arrancar ondas onde só existe areia. De tirar no tapa, de mandar no beijo. Ah, deixei tanta coisa estatelada entre os dedos, ficou uma massa que custa a sair. Um cheiro. Um intenso cheiro de mar cinza. Um asfalto preso na goela. Como se a cidade me respirasse. Não tem ordem,não é pra ser nada mesmo. Era só pra tirar daqui e por em algum outro lugar que fosse fora...

600 km

Sensação impotente de não poder mudar o seu presente. Sinto lágrimas entre as palavras e nada posso fazer efetivamente, além de dar novas palavras, consolos fragéis, mentiras flácidas sobre um tempo vindouro e calmo. Em algum lugar em mim há um pensamento doce que espera a sua melhora, que essa merda de cidade não te engula mais, não te escarre mais, essa cidade que eu tanto amo e me assemelho, mas que te faz tão mal. Querida, não cuspa tanto asfalto ao sorrir, deixe em mim toda essa dor, esse choro noite adentro. Se longe, querida amiga, ficará inteiro o seu ser, então vá. Jogue pro alto todo esse carrossel de loucuras, comece de novo em algum outro lugar, onde o mar possa te dar bom dia todas as manhãs e o sol fique claro dentro dos seus olhos tão lindos. Ouço Elliott Smith que você tanto gosta, na tentativa de acalmar alguma coisa sua que ficou perdida em mim, entre as nossas conversas, nossos copos cheios.