quarta-feira, 1 de junho de 2011

Blocos deslocados na sala de TV

Tem algo que parece com esse vento. Com esse frio. É repetitivo. Uma ânsia que vem e volta, feito maré dentro dos dentes. Submersa na ponta dos dedos. E de repente irrompe em sonhos, pensamentos. Fica um azedume, aquele gosto de sangue pisado na boca, sabe? Quando um dente sangra e fica aquele gosto estranho. Mas que é tão sensível e tão bom. Eu fico assim, pensando em dizer coisas que não devem ter muito sentido. Hoje eu vi um recado de um alguém para um outro alguém, vamos chamar de Botão para o casa de botão e fiquei feliz que eles se achassem tão perfeitamente entrincheirados um no outro, quase indissociavéis. Imutáveis no seu amor andarilho. Porque em tanto tempo de inquietude, em mim descansam as palpitações. É uma sensação vazia, porque eu acho que sou feito de amor. Eu fico doendo. Mas agora eu só fico aqui entre montes e montes de papel. Tem muito trabalho com o qual me ocupar e pouco coração pra lançar no espaço. Ficam fiozinhos ainda translúcidos daquelas coisas passadas que de vez em quando passam pela minha boca, mas eu tiro com um meneio de mão muito delicado.


Mas o meu alfabeto às vezes degela: daí eu escrevo um poema, quer dizer, eu rabisco qualquer coisa, porque um poema é algo muito frágil pras minhas mãos e ao mesmo tempo muito pesado pro meu abraço.

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