domingo, 26 de junho de 2011

Para raios intercalado com soníferos

As pessoas são cheias de segredos e silêncios. Engasgos e choramingos. Coisas paradas na mente, como água parada. Criam vermes como nos tecidos deixados para apodrecer num terreno baldio. Pode-se recolher aos baldes as palavras azedas, as frustrações e as incertezas. E não, isso não tem nada a ver comigo. Antes tivesse. Mas fosse só a minha dor, bastava, o mundo tornava-se umbigo de novo e só o meu dedo tremendo em frente ao espelho e meus olhos vermelhos diriam tudo do mundo. Mas não, eu funciono como uma espécie de para raio. E ao meu redor, nessa semana, tem muito olho desmanchado por noites insônes e muita boca inchada de tanto se explicar. Só existe um meio de passar ileso por isso: não vendo. Mas o estado de cegueira é trivial, é o estado dos cachorros no extase do osso. No auge da lambida fria no pedaço de couro morto. Não é mais nada que a sua imaginação criando beleza onde já não existe nem mesmo a poeira ou a lembrança indevida daquela sensação de fome. Por que as vezes nos meus pensamentos tudo se resume a fome. Tudo descamba numa ânsia, mas que nem sempre é sua ou minha, é alheia. E ela rebate e retumba no saco vazio dos nosso estômagos ou nas nossas ásperas saídas de emergência. E numa semana que termina com tantos alardes alheios, e tantos recolhimentos, salivas e cuspes, resta apenas esperar que o próximo raio caia sobre meu peito e o abra como uma mexerica caldalosa e que pelo menos no meu caldo menos expesso alguma coisa possa projetar um sorriso em quem quer que seja.

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