terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

E...

É como uma esclerose. Uma pontada. A espera é como um soco no meio da boca. Esperado. Inesperado. Sangrante. Sem pontos. Não dá tempo. Quando vê já foi, nem chegou. É simples assim. Fico contando carneirinhos, decaptando carneirinhos, querendo apenas a queda desse tempo infernal sobre as minhas omoplatas de uma vez. Essa palidez que os dias tem me adornado. A falta de senso. Estético, prático.

Eu só tenha mais vinte e nove minutos ( pra menos) de irresponsabilidade.
E daí? POIS É. GRANDE DROGA. Me jogo certeira na vitrine da loja esperando ver um sorriso que eu não vejo, os bonecos nunca sorriem. O fluxo da cidade condenada transpassa minhas órbitas febris enquanto eu rasgo pedaços de passado e de palavras doces (doces?!) de uma paixão qualquer que ficou condenada dentro de uma agenda. Essa mania de guardar agendas de anos mortos, com bilhetes, convites, ingressos, regressos. Vai tudo pro saco literalmente, pro saco de lixo preto. De repente leio " quadrilatero moscovita" e aquele naquele instante era o pior momento. Mas nós eramos tão jovens, tão felizes, acreditavamos que fazendo o INVERSO, o verso, tornariamos o mundo mais potável. MAs olha que coisa, fomos separados de nós mesmos pelos nossos braços agora ausentes. GRANDE BALELA. Ainda dá tempo. Eu tenho ainda uns bons vinte e cinco minutos, tempo de sobra pra concatenar desgraças e sonhos abortados por trás do espelho...
Será que haverá revolta pela minha sede de morte?
Por que é uma sede. De morte. Dessas coisas velhas. Dessas cascas, feridas, fendas, estios, dessas coisas estremecidas que se tornam flácidas e depois se tornam líquidas e depois se tornam nada. Nada. Ficam assim vazias inexistentes. Apetrechos de cozinha inúteis, como aqueles cortadores de bolo que ninguém usa quando deveria ou pegadores de macarrão. Quinze minutos!
E você estará enrolada em lençóis, pensando em C, D, S e A? Nas suas paixões e resgates e enroscos e gozos? E, será? Será que sobrou alguma coisa ai pra mim? Ou será que já comeram tudo e lavaram os pratos? Boa pergunta. Pra depois. Pra jamais. Quem se importa. É só o tédio aflito se movendo da ponta dos dedos para a ponta dos dentes. Ou vice-versa. Verso triste eram os meus na data dos vinte. E agora olhando mesmo, eu passo muito tempo não sendo parte da vida do mundo. Sempre assim na superfície da passagem, concertando os braços, pernas, ombros, guelras, seios, pernas, coxas, bocas, brâquias , pêlos das pessoas que me cercam. E sempre em mim fica um funil. Dez minutos pro fim do mundo. Do tempo raro. Do tempo de ouro. Começa o outono, mas está tão quente e cá aqui dentro eu não sinto mesmo muita coisa. Eu acho. Nunca sei. Sempre é farsa. Sempre acho que é farsa.
Vai mudar. Assim sem aviso, agora. Ainda faltam dez minutos que se arrastam como os condenados de Hugo ou as masturbações de ciganos de Genet. E assim tão perto quase dá pra tocar com a mão. Aquele céu intenso de veludo, quase musgo enxertando nas mãos pontas duplas de estrela. Assim claro e diabólico, porque essa coisa de amor tem algo de diabólico. Tá tudo misturado no fluxo, amor, sexo, paixão ódio inveja sonho conhaque esquizofrênia sangue e mijo..
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cinco...
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Silêncio
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feliz ano novo... bem baixinho... ( mas é agora o que eu faço com isso?)

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