segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

morangos mofados dentro dos bolsos da calça

Quando me diz saudades, penso nada. Sente coisa alguma, mas penso assim, com palavras ocres, duras. Fico na metade, e sabe de uma coisa, essas metades, perdidas, espalhadas pelo piso da sala não me convém. Se quer qualquer coisa minha, esteja corpo presente, alma, osso e tremor. Aguente meus abismos, meus desamores, minhas marés e quem sabe assim em algum momento consiga descobrir o que há de silencioso nos meus abraços. E não eu não falo de amor. Falo de qualquer metade estriada e vermelha sendo arrastada como um cadarço velho, eu falo dessas relações meio falidas, condenadas ao fracasso pela falta de entrega. Se quem quer que seja, e nisso incluo o capeta, deseja cirandar ao meu lado, que fique inteiro e me dê abraços inteiros, palavras que valham, não me venham mais com "saudades" vazias com " eu te amo" cheios de limo, com farsas amadoras. Deixei tudo isso no ano que passou.
Deixei, almejei me livrar desses nacos de pele vazia, desses pesos que só avolumam listas de telefone, mas que dentro de mim pouco ou nada significam. Desculpe, eu não sei brincar. Alço vôo fácil. Deixo a correnteza quebrar minhas pernas e recorro à proteses para andar por toda essa pedreira.
É sem ordem isso, é verborrágico, tento estancar, mas tem dias que isso me corrói, eu nem digo o que ou quem, ficaria repetitivo. Mas essa preocupação me mostrou outros fatos, que se perderam muitos nomes no meio dessa pedreira. Ah, eu deixei tanta coisa mofando...Eu deixei tanta coisa amarelar antes da hora, com essa minha vontade de trazer intenso e próximo na velocidade de um raio. Com essa mania de arrancar ondas onde só existe areia. De tirar no tapa, de mandar no beijo. Ah, deixei tanta coisa estatelada entre os dedos, ficou uma massa que custa a sair. Um cheiro. Um intenso cheiro de mar cinza. Um asfalto preso na goela. Como se a cidade me respirasse. Não tem ordem,não é pra ser nada mesmo. Era só pra tirar daqui e por em algum outro lugar que fosse fora...

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