segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Das tardes mornas

É quase um modo de arrancar de mim algum grunhido entende, é muito próximo do coração selvagem. Parece que eu não existo. Queria poder explodir, fazer escorrer pela ponta dos dedos, mas eu simplesmente não existo. Ou não quero. Faço tudo pra me apagar. Deixo que as paixões se cansem e morram. Deixo que elas pranteiem sobre os próprios dentes enegrecidos e arrancados.
Deixo meu coração cansado de cismas ficar intoxicado, enjoado de tudo que há nele, permito que vomite sobre o piso, mas não nos copos. Nunca nos copos. Nem mais nos corpos. Olho pra tudo com aquele olhar de quem dorme demais, de quem cansa com o mormaço do dia. Tiro as gavetas do lugar, deixo tudo bagunçado. Abro a saliva e deixo ela estancada num vidro só. E no fim da chuva fico no vidro com ares de sonho. Pensando se admitir certa saudade já é um passo pra esquece-la. Ela, a saudade. Se apunhalar o silêncio com gritos é o o suficiente pra ter forças de não rompê-lo num novo apelo frouxo por uma chama frívola. Ouço Nina Simone. Deixo entorpecer. Lânguida nas palavras de Clarice e na linha bamba de Cristina. As folhas lá fora úmidas de chuva brilham. Os fios de eletricidade se transformam em massas retilíneas no horizonte, apesar da noite o céu é meio laranja. E toda a descrição é apenas um acalanto, um refúgio quase para os pensamentos que não querem adormecer.
A conversa chega num ponto em que o silêncio diz mais, e aquela pergunta não precisa ser feita. A resposta é dada na falta do que falar. E a certeza é tanta que vira raspagem do osso, parece forte, mas é cena. É cena sempre. E essa solidão que consome as horas e enegrece os poros do corpo é mais amiga que fatal. E a mesa continua extensa de desejos. Mas não hoje, ah não, por hoje, o peito é cansado demais. A mornidão dos lençóis não aplaca a sensação intensa de afastamento. De casulo. De perda. O coração vomita. Regurjita. Passo. Piso. Sujo os chinelos. Deixo secar. O verão é quente demais. Uma hora some.
Me desapego. Deixo secar. Vomito. Evito os excessos me excedendo. Contraditória alargo a noite com mãos firmes mais ainda assim pequenas. A sensação fanstasmagórica da madrugada se aproxima e não há copos para enganar o vazio.

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