quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Quando eu, quando tu.. Quando?

Saiu do quarto, amarrotado. Pegou a garrafa de conhaque. Sentou-se perto da janela, o copo cheio, às onze e quinze da manhã. Vinha de um sonho amargo, cheio de saliva e suor. Suas palpébras ainda pesadas. Sua boca ainda inerte. O conhaque desceu como um grito agoniado. No segundo gole longo e profundo desceu como o sol pela janela, sobre a poeira, sobre seus pedaços. Ele não sabia ainda se estava alguma coisa por ela. Esforçava-se pra lembrar. Pra imaginar alguma coisa nela que fosse, sim, mas tudo era ok não sei, ok talvez. Bebeu mais um pouco, mexeu com o dedo a pedrinha de gelo que se esvaia lentamente. Não sabia se era o jeito certo de sair da multidão dos pensamentos dela, de ser alguma coisa, além de um adorável estranho,um número na agenda, uma espécie de 190 das emoções dela. Na verdade, estava louco de amor. Na verdade era sexo. Na verdade era... era.. alguma coisa estranha que ele sempre sentiu, que ele nunca sentiu. Bebeu outro gole longo e sonolento. Despertou entre os dedos o resto da poeira da sua saudade. Encheu as bordas da janela de pensamentos que sempre voltavam. Nunca chegavam. Se continha. Se mantinha nas entrelinhas mudas. Não sabia se estava alguma coisa.
Aquela conversa de amor era sempre uma incerteza. Traduzida em copos virados nas madrugadas sonhadas. Entre os dedos amortecidos, nas gotas de sangue que caiam num dado momento. Era sempre uma loucura amena. Era sempre intensa. Era a morte. Era nada. Era excesso. Ok, não sei. talvez. A janela era sujo como um copo de bar.

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