sábado, 18 de abril de 2009

Nove de copas

Na carta de tarô, vermelha como o sangue que escorre da ferida aberta. Deixando o olho recair sobre uma certeza disponível. Ali parado olhando o naipe com afinco. Desperdiçando a dúvida com o talvez. Atrás de si a distância comendo o restante dos passos. Atrás de si apenas o desenho apagado de uma vida. A sua frente árvores de Segall, figuras de Klint. O nove de copas pregado a mão sem força de cair. A revolta morna de um pensamento que desencarna. Quem sabe o que faria? Encaminhou-se para a estação absorto em imagens paralelas,a canção que era dela nos ouvidos e o perfume que ficou colado a gola da sua camisa. Ela ainda era linda. Mas a carta aderia a pele com força e fome,na prova simples da inutilidade de continuar em seu encalço. Percorrer os calendários era inútil. Sorrir em desapego,ferida aberta e amarela na cara, era desastroso. Tirou no tarô uma carta. Depositou sobre ela em silêncio todas as suas intenções. Quem sabe uma hora seria mais claro do que a palavra permitiria.Ele se ergueu sobre tudo que o ajudasse a esquecer. E o nove de copas seguiu intenso entupindo o cano da pistola que pulsava insistente.

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