sexta-feira, 3 de abril de 2009

Mãos nos bolsos, olhos vazios

Um texto curto. Sem palavras distintas. Analfabetas linhas quando se fala de pistola e artéria. Pequenas incisões no rosto no espelho. Na beirada do caco pulsa uma gota silenciosa de sangue. Eu tenho tudo. Todos os CDs de músicas Cult, todos os livros das prateleiras, toda a poeira que essas mesmas prateleiras conseguem comer. Não digo toda a dor. É muita prepotência. Existe dor para todas as partes do meu corpo e para todas as partes de todos os corpos. Mas esse não é o ponto.

Sacolas de plástico cheias de camisas, meias, calças. Livros. Sabonetes. Maçãs. Links no you tube, conversas fiadas na porta do bar. Vozes entrincheiradas. Listras brancas sobre banheiras reluzentes. Pedaços da lua. Quadros da Remedios Varo. Sentenças inconcluidas. Pessoas. Mas esse não é o ponto.

Não encontro um lugar dentro dos espaços. Sentenças inconclusas na carne da boca. Esmagada saliva na construção de um muro. Mutismo. As novidades já possuem rugas, bem posso tocá-las. Um texto curto. Sem palavras bonitas. Sem auto depreciação. Sem boa ação. Sem ação. Inerte. Uma gota de sangue seca no asfalto após um dia de chuva. Uma ausência lavada e compensada com flores de plástico.

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