segunda-feira, 13 de abril de 2009

Quando atirei o calendário dentro do pote de açúcar

Capitaneio dentro de mim maremotos, raivas que não sinto. Exteriorizo nas frinchas das paredes palavras de ordem, ódio mortal ao tédio que reintegra os dias em cubos de açúcar.
Deserdo todas as fibras de cabelo, desarticulo o pescoço numa violência imaginária. A válvula de escape está tampada. A panela de pressão, roxa. As paredes amarelas e descascadas já sentem a pressão acumulada, restos de miolo no teto. Pendendo como estalactites estranhas. Um quadro expressionista ao som de Rammstein. Pesado. Pesado. Pesado. O cérebro fica pesado como toda a sua ordem (ou desordem) de gavetas articuladas. Diálogos e discursos inflamados queimam além das retinas em palcos invisíveis. A questão do imaginário batendo sempre na porta. Quer compra um carnê de sonhos? Ou a carne dos sonhos mesmo?! Vendedor dono de um senso de humor mórbido e um senso estético pior ainda. Filmes da década de 80 pulando dentro da sala. Através da maleta. E todas essas coisas são a princípio incompreensíveis. (Gosto do som de palavras terminadas em “iveis”). Cabeça batendo na parede até abrir feito um coco. E nada escorre. E nada escorre. Escolho dentro de mim os maremotos e as marés. Todas as raivas que não são minhas absorvo pra ter do que reclamar. Eu tenho ódio incomensurável (também gosto das “avéis”) correndo nas veias. Exalando pelos poros, pelos olhares milimetricamente doloridos. Praticando o apego excessivo, obsessivo pela simples diversão de escrever em transe.
Quando toda a problemática acaba numa bela foda. E a raiva passa. E o olho desce. E a carne esbarra em grades agrestes de incertezas flutuantes. E tudo acaba com um foda-se mal educado e grotesco. E os cubos de açúcar derretem pelo descaso. Alguém os deixou abertos sob o sol que vinha da janela. E as formigas dominaram seus pequenos pedaços brancos. Cocaína para formigas desavisadas. E pequenas carreiras ambulantes partem pelos vãos da sala. E tudo numa memória se esvaí. A raiva, a dor, a incerteza e até mesmo a letra.
O corpo dopado no sofá azul e amarelo da sala, quase um Klint, inerte, vivo apenas pelo batimento por baixo da camiseta. Estendido mole e derretido. O maremoto passou e a maré deixou conchas vazias. Sem estrelas do mar. No surprises.

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