sexta-feira, 27 de março de 2009

Do Diário de André - Insônia

Ficou a mercê de um sonho. Isolado entre as paredes acústicas do seu grito. Permaneceu insólito até o amanhecer recuperar a sanidade. Ardeu. Ardeu o corte na perna esquerda, provindo de uma convulsão imaginada na sala. Debateu-se tanto na tentativa de acreditar-se doente que se pôs a quebrar vasos e porta-retratos numa tremedeira salivada. Revirou os olhos em êxtase. Estava doente. Então tudo que via era verdade. Aplicou na veia uma dose cavalar. Inseriu no cérebro mais um verme romântico e desencadeou treze cartas de amor para pessoas sem nome que desandou a deixar nas portas dos prédios da vizinhança.
A uma da manhã levantou-se da cama, desatou a correr pela rua silenciosa atrás de uma loja de conveniências, precisava de cerveja e chocolates. Tinha certeza que eles viriam vê-lo. Seus amigos viriam. Era cedo. Um. Deux. Trois. Quatre. Cinq. Six cervejas depois e ainda estava sentado na porta da banca de jornais 24hs. Esquecera-se completamente do que havia planejado. Havia planejado? A madrugada estapeava fria suas pernas peludas. Levantou-se. Lembrou que teria que trabalhar. Havia muito trabalho. Sempre havia muito trabalho. Sempre. Sempre. Sempre. Ardeu. Ardeu o corte na perna. Pequena capa escura de pele seca. Ficou a mercê do sono. As três da manhã deitou-se de olhos abertos e encarou o teto e teve certeza que ele sorria. Pernilongos de pernas torneadas faziam banquetes nas cartilagens de suas orelhas e marcavam encontros. Podia ouvi-los sussurrar. Podia ouvi-los. Ah, podia. Fechou os olhos, mas por dentro tudo permaneceu claro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário