quarta-feira, 4 de março de 2009

Acadêmicos do Almodóvar

É carnaval!
Os blocos passam nas ruelas apertadas, foliões suados e bêbados capengando ao som dos atabaques, das cuícas, dos reco-recos e da bateria como um todo. Uma hipnose. Bloco dos maltrapilhos, bloco dos sambistas, bloco dos bonecos de Olinda, blocos afros. Cadê o bloco dos cineastas? Eu adoraria instituir um bloco de diretores de fotografia! Com a ala das Roleflex, das Reflex, das Canon de números variados. O bloco dos diretores de arte, com a ala dos maquiadores, cabeleireiros, dos figurinistas, dos produtores de set, e toda essa parafernália. A ala técnica com seus fios e cabos, um carnaval de doentes quase. Uma fuga do manicômio.
Unidos da Novelle Vague? Acadêmicos do Herzog? Grêmio recreativo Unidos do Lynch? Caramba, porque carnaval fica tão estranho com maníacos por cinema? Almodóvar adoraria passear num bloco do Arouche, todos os seus personagens caricatos estão ali. Divididos em alas, por número da sandália e por ordem de regatinhas. O paraíso criativo uma vez por ano (ou todos os dias sabendo onde olhar, só não olhe muito, você pode tomar um surra de algum travesti) para roteiros excêntricos e coisas do gênero.

Unidos do tio Truffinha? Não, é um nome muito ruim para um bloco, aliás, é uma piada infame quase. Mas enfim, seria bom um bloco de cineastas, cheio de pessoas de all star furado, camisetas de filme, ou sobretudos, ou camisas xadrez ou tudo isso junto, misturado, batido e sem gelo. Percorrendo as ruas de São Paulo num trio, cantando trilhas clássicas de filmes em ritmo de carnaval..imaginou o tema do Darth Vaider em ritmo de marchinha? Excêntrico? Mas vivemos num mundo globalizado. Nada mais pode ser considerado estranho, já que tudo é possível. Podemos entrar em sintonia com o mundo todo, parece até discurso New Wave, mas de certa forma é verdade. Não dá pra compreender nem o vendedor de frutas da esquina, sei lá como funciona a cabeça do sujeito, mas sei que posso conversar com alguma garota do Paquistão que também acha interessante a evolução do cinema nigeriano. Essas pequenas impossibilidades são divertidíssimas. Essas pequenas coisas são parcialmente insensatas. Mas é daí? É carnaval! Nada funciona antes do carnaval. Nem aqui e nem em mais nenhum lugar do mundo.

Enquanto isso, um bloquinho sinistro passa pela rua Augusta. Descendo como um enxurrada que carregou tudo que estava no caminho, senhoras de camisola, velhas meretrizes, cafetões, bêbados, foliões, saudosistas, ladrões, mocinhas indefesas, cineastas em treinamento e punks de férias.

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