segunda-feira, 2 de março de 2009

Leite, café e dois dedos de açúcar, por favor

O real significado me escapa. Heterossexual. Homossexual. Bissexual. O real sentido me escapa como em chaleira, gengibre, árvore ou cachorro. São meros fonemas unidos e articulados num rótulo. Assistindo Milk, um filme sensacional, vendo a trajetória de Harvey Milk, fiquei pensando no que eu sou. É tão fácil ser gay. Temos tudo, lugares, lojas, marketing, mas não temos alma. Na década de 70 nós não tínhamos nada, nem respeito, não que hoje tenhamos, somos tolerados, porque afinal de contas nos tornamos rentáveis. Um nicho promissor. Fica até estranho falar em nós. Não há um nós. Temos apenas rótulos dentro de rótulos,como pequenas bonecas russas, e no final dentro da última boneca minúscula, apenas o vazio.
As palavras brotam assim sem alma, e me sinto triste demais. Vejo que nas bocas que beijo, nos lugares que vou há sempre o mesmo ego circulante e bufante, mas além disso, e até mesmo em mim, não há nada. Conjunto vazio. Meses esperando a parada gay, apenas para desfilar. Mostrar que existimos e como somos engraçados, um zôo ambulante. Mas onde está o real sentido disso? Milk me diz que há um sentido. Aretha grita em seus lindos pulmões: Respect! Naquele único dia saímos do armário e escandalizamos as ruas. E depois dali? Eu volto pro armário e fico lá sem fazer nenhum barulho. É tão ridículo. É tão pastoral. Olho para as coisas que me possuem (elas adquiriram um certo senso de realidade muito melhor do que o meu) e não sinto nada. Ficam mudas. As bocas que eu beijo se desfazem em meros números de telefone que esqueço dez minutos depois. Realejo com músicas velhas. Eu quero ouvir o trovador Dylan. Fico assim enraivecida. Andando do banheiro ao quarto. Da cozinha ao jardim. Se eu fumasse já teria bordado um tapete de cinzas. Já teria incendiado metade da casa, mas só minha cabeça pega fogo no momento. A existência gay, negra, amarela, azul com bolinhas só é possível com luta. Não digo de fuzis e ônibus queimados, mas de sempre olhar à frente, sem medo que lhe cuspam na cara. Eu ando com um lenço reserva. Caralho. Me torno uma palavra indivisível de seu caráter cômico. Um rotulo, querendo adiar a vida por mais vinte anos, até o caixão. Numa marcha fúnebre cheia de diplomas, acessórios frios para mentes esquálidas. A quem eu quero impressionar? A mim mesmo, só pode, estou tentando me convencer que nasci num mundo frouxo e tenho nervos de aço. Praticamente o Rocky Balboa. Mas eu não tenho a boca torta. Nem o olho caído. Só minha moral anda caída, a moral social. Esse link com o mundo anda meio defeituoso. A página expirou. E não adianta atualizar. Não vai mais. Página inválida. Não quero dizer que “Oh, nossa me revolucionei” mas já deu o que tinha que dar essa cara no espelho. Me concentro, mas não me vejo. Os pincéis não dizem nada sobre mim, nem meus livros. Esse tipo de crise deveria bater aos trinta e não aos vinte e quatro. Uma ressaca moral das verdades escondidas de ontem a noite. Me deprimi. Beber, mentir, seduzir, eu perdi o tesão pela vida simplesmente porque eu não sei o que eu sou. Homossexual é só uma palavra
e
eu quero saber o que há por trás das palavras. Dos rótulos clandestinos, das mesas de bar. Acho que preciso de um psicólogo, psiquiatra, psicanalista, médium, mãe de santo, cartas de tarô... Será que eu encontro alguma “madame faz tudo” num desses folhetos de rua? Porque homossexual, com nome, endereço, data de aniversário, diploma e um monte de balangandãs é só uma definição de ficha, pra gente não se perder no mar de gente todas as manhãs. Mas isso não garante um rosto no espelho que você possa se orgulhar. Nem mesmo garante um rosto pra você se lembrar. A vida é mesmo muito ordinária quando resolve sacudir as gavetas.

Um comentário:

  1. nossa esse texto é uma porrada literalmente..pena dizer q mesmo fazendo linguistica eu naum sei o q quer dizer as palavras..eu sei comentário cretino desse seu amigo rs mas só pra dizer q eu naum sei mas tô por ai com vc tb procurando o q existe atrás das palavras

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