sexta-feira, 20 de março de 2009

Quando me engasguei com uma ruga

Entre o pedantismo e a auto ajuda. Pós moderno e contemporâneo. Chaga neutra no meio do asfalto. Ninguém nunca diabos me disse como um escritor deve ser. Algo meio marginal e suturador de lábios? Ou meio maquiavélico? Romântico? Imaginário? Libertário? Puto? Louco por você? Sei lá não existe um manual para a profissão e desde que o Paulo Coelho conseguiu uma cadeira na Academia vejo a coisa com franco descrédito. Se eu colocar uns rituais de poça d’água no meio das minhas páginas ganho um Jabuti? No máximo um cágado d’água.
Entro na internet (áurea rede dos pretensos escritores de beira de estrada, não me incluo no grupo. Sou de beira de esquina mesmo, daqueles que escreve nos guardanapos dos botecos da Augusta e sai com a boca suja. Medo de se sujar com as próprias palavras. Os textos são meios espirrados, numa constipação de metáforas desavisadas. Cortando as veias com frases serifadas) e me deparo com um verdadeiro banquete de palavrinhas amontoadas, doces, azedas, mal colocadas, bem arrumadas, desprovidas de senso, envolvidas em idéias grávidas. Olhinhos de lince percorrendo com avidez quilos e quilos de juventudes mal vividas. E aí incluo a minha. Uma geração inteira de pensadores que daqui a bons cinco anos estarão batendo de mala e cuia na casa dos trinta. Mas ainda gostamos de escrever sobre nossos terrorismos adolescentes. Não crescemos. E daí? Ainda uso all star e calça rasgada. Ainda ouço rock e coisas do tipo. Mas nem por isso saio correndo no meio do shopping com uma metralhadora contrabandeada ou mostrando meu traseiro no meio da paulista. O máximo que faço é destilar meu humor iraquiano pelas páginas dia após dia, numa tentativa de incutir algum juízo na minha própria cabeça. Que outra razão teria pra me depurar dessa forma? Bem, poderia procurar um psicanalista, psiquiatra, psicólogo ou psicopata, tem “psi” na frente resolve o problema. Mas todos os que conheço me incutem mais medo do que aquele que tenho de mim mesmo. Um toma benflogin com vodka, o outro arranca cabeça de bonecos de pelúcia no batente da porta. Que se há de fazer? Chamar um desses figuras para beber num boteco hollywoodiano é claro. E numa roda de cervejas e outros líquidos multicoloridos preconizar o fim da sociedade moderna.
Ninguém nunca me disse que escrever era um bom programa. Preferiam-me engenheira, mas só pra contrariar, nasci gay, um QI alto (que não me serve de coisa alguma) e propensa a fazer essa coisa chamada Arte. Típica filha da mãe que vai te dar trabalho,porque não consegue ficar dentro de um escritório, enfiada numa ridícula roupa social. É. Dou trabalho. Fazer o que. Me meti com linhas, letras, câmeras, roteiros e toda a sorte de coisas absurdas que vivem no estômago da arte. E sempre ouço aquela pergunta cruel e sedenta: “Quando você vai fazer algo que dê algum dinheiro?” Ta aí uma boa questão. Talvez escreva um livro sobre a experiência extracorpórea do meu coração quando ele quase morreu de susto um dia desses e faça uns desenhos apocalípticos e agridoces e ganhe muito dinheiro sob o nome de algum espírito. Psicografar é ótimo. Você não paga direitos autorais e ainda se o texto for ruim a culpa não é sua. A Zíbia Gaspareto que o diga. Quem disse que literatura não rende?
O fato é que você não precisa ser um Machado ou uma Clarice, basta você acertar em cheio (com um taco de beisebol) no rim do seu público alvo. Pronto. Best seller instantâneo. Quase posso imaginar a formula vendida por quilo nos mercados on line.

Quem sabe arranje um emprego fixo e me acomode num escritório e fique feliz dona de uma obesidade mórbida e dentes brancos. Até que esta morte chegue a mim continuarei na minha trilha de tijolos amarelos, procurando a hora certa num relógio imaginário.

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