sábado, 14 de março de 2009

Congresso regional de filosofia de boteco

Saudade, palavra triste...uma música se inicia com esse verso. Mas quando a gente sabe o que é saudade? E porque diabos, sente esse negócio? Assim como tudo, saudade é apenas uma palavra que a gente escolhe o recheio. Nada demais, nada de menos. Engraçado, como tudo depende de um ponto de vista, palavras não são diferentes. Você escolhe qual deseja usar e o sentido que virá embutido. Quase todas as coisas sentidas não conseguem ser rotuladas por palavras. Afinal, amor, ódio, paixão, prazer não são balas que você consegue embrulhar. Não são tangíveis. Nem tem sabor ou constam na lista telefônica. Não se compra por peso, você não pede “ hey, por favor grande, me vê um quilo de pavor. E pavor fresco viu, não me venha com pavor requentado...” Isso não acontece, a não ser no Seinfield. Mas aí é outra história.
Algumas perguntas vem embrulhadas em sacolas de mercado, porque são tantas que não é possível carregá-las nas mãos. Se for um caso patológico como o meu, é melhor pedir entrega em domicílio. Porque as minhas questões limpam as prateleiras. Imagine assim, você entra num mercado existencialista, olha o jornalzinho de ofertas: “ Medos e pânicos apenas R$2,99. Promoção imperdível sentido da vida por apenas R$ 18,99” Aí você pega um carrinho e percorre as prateleiras e gôndolas. E as perguntas vão enchendo o seu carrinho, Fake Plastic trees ao fundo, seus ossos vão ficando puídos na terceira prateleira e você sai correndo ou sai dali velho e com uma passagem sem escalas para o Tibet.
A razão pela qual as pessoas usam palavras é porque a boca exige algum alimento, a saliva precisa se reproduzir. E porque é mais fácil, elas são rostos mendigos, cada um acha que elas serão esquecidas assim que expelidas. Porque elas já saem mortas. Então todos os dias milhares de cadáveres saem das nossas bocas e deságuam num esgoto mental, onde não é possível reconhecer saudade, chaleira ou carteira. Absurdo é um contexto praquilo que não se entende, impossível é apenas uma questão de ângulo. Você não perguntaria a Lua se ela é possível. Como ela não cai, se ela fica grampeada no celofane do céu. Você acredita nos livros de física e tudo mais. Então porque você pergunta se é amor ou ódio? Há coisas que podem ser sentidas, não nomeadas e largadas nas gôndolas mentais para morrerem de asfixia por poeira.
Cada dia que passa penso em falar menos coisas que realmente importem. Mastigo mais bobagens e deixo que isso divirta esse ou aquele ouvido ou nenhuma orelha. Deixo que alguém goste do som da minha voz, mas não gasto mais meus sentidos em palavras. Não me preocupo tanto em classificá-las. Embora, olha que coisa engraçada, gaste metade do meu tempo ordenando palavras num suporte qualquer. Fico assim, indissociável delas. Analiso-as, forço-as à terapia. Todas as minhas palavras são acidentadas e já foram rotuladas um dia, agora elas são pineis e vagam pelos meus dedos noites e dias. E quando por algum motivo não sei o que DIZER, elas se metem escritas nos meus dedos. Não compraria um quilo de pavor, mas até alugaria uma grama de sanidade. Trocaria a saudade por qualquer outra coisa. Reordenaria as palavras e deixaria que a dança se conduzisse como num baile de máscaras, e num momento oportuno apagaria as luzes pra saber o que fariam sozinhas e escondidas todas essas palavras.
Talvez assim, se as visse nuas, desprenderia de mim esse rochedo. E deixaria que elas virassem apenas casuais convidadas e não inquilinas caloteiras.

Elas sempre pregam peças quando você não olha, talvez tenham me pregado uma. Talvez agora?

Um comentário:

  1. sensacional cris, impressionante como vc nao para de criar ... parabens, eu qria ter nao ficado pelo meio do caminho

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