quarta-feira, 4 de março de 2009

Samedi noir

Reproduzo na tristeza das minhas histórias aquela que me consome. Sinto a boca amarga, o beiço rasgado por um desejo sujo, desprovido do real sentido do desejo. Não há arrepios. Sacolejos. Pêlos eriçados. Não há nada que me aprove nas ações. Apenas ações mecânicas providas de saliva. Me entrego ao álcool como antes e mesmo tendo desmembrado o vício, me pego no círculo de novas mentiras tempestuosas.
Apenas um passatempo.
A vontade de dizer:
“ cara, é apenas um passatempo, ache o que achar, que eu sou sentimental, que criei um laço afetivo, qualquer merda, mas a verdade é que estou pouco me lixando, me sinto descontente por dentro de ter me lançado em algo tão sem sal”
Parece cruel. Mas é assim que me sinto. Apenas uma boca me orgulha. Apenas uma me desencadeia. E é aquela que eu não posso ter mais. Sim, se trata daquela letra de Ravel. Apenas ela me instiga. Todas as outras me atormentam, uso-as ou deixo que me usem apenas pela possibilidade de esquecer, de não ser vela queimando sozinha numa noite escura demais.
Me sinto sozinha. Em parte feliz, pelas pessoas que me amam, em parte triste pelas pessoas que eu amo e desaponto, que nem sempre são as mesmas. Invento mentiras para não parecer tão burlesca. Aquarianos com o meu nome tem o dom da inventividade e do adorno, pelo menos é isso que esses sites pregam em suas páginas. E nessa noite eu só queria não parecer tão imatura aos seus olhos, mas me rendi. Ergui a bandeira branca ao acaso e deixei as cenas rolarem sem gritar corta. Como sempre você paira acima do bem e do mal, um Sinatra nas minhas páginas. Fica como modelo que não quero corromper, o porque pelo qual quero me modificar. Mas permito que o álcool me devaste e fico alheia a razão. Meneando a cabeça como uma quinquilharia de beira de estrada. Fico assim na sala imaginária do passado, corroendo minhas entranhas gastas em versos e solilóquios infindáveis.
E no instante, no agora, algo me debilita, mas foi a última noite azeda. Você não merece mais minhas mentiras. Todas as pessoas que me cercam e que tem por mim algum carinho, não merecem mais essas mentiras. Cacete..eu não mereço mais. Já expurguei os demônios por duas vidas inteiras e nem cheguei a viver uma.
Minhas mãos possuem mais linhas que uma estrada, que um desenho três vezes rabiscado. E minha boca parece muita velha, num ricto se dobra. Hoje, assim como ontem, senti a degradação do meu ser em estado puro. Mas lastimar não adianta, não quero permitir que meus inimigos ponham moedas no meu chapéu. Março se ajeita nos calendários. Impossível adiar a cavalgada do meu peito por mais um ano.
Reproduzo nos olhos caídos a certeza de minhas possibilidades.

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