sexta-feira, 6 de março de 2009

Elegia para um homem perfeito

Acima do bem e do mal, um pequeno super homem sem capa, by Nietsche. Descrente sobre as morais pairava, não a moral cristã ou social, essas jaziam na caixa de areia dos seus gatos. Sua própria lei de conduta, aquela que ditava as ações dos amantes superiores, dos poetas perfeitos, dos solitários ainda não sinalizados, dos perfeitos imbecis de rosto gasto na fotografia. Ele pairava com os cabelos ao vento, crente de sua sedução, de suas letras arredondadas, além do mero perdão e das convenções de amor e ódio. Sobre a sua torre de marfim, irresistível. Simplesmente o mais belo homem da terra. O mais sábio. A sua sabedoria era a mesura de seu nariz, grande ponte entre os melodramáticos mortais e sua existência suprema. Cético. Asséptico.
Emergia de seus espetáculos maravilhado. Recorde de lotação da casa. Cada vez mais requintado em suas apresentações, cada vez mais vazio. Uma estrela de ouro provida de fartas doses de estrume. Irradiava seu interior em todas as direções, disfarçando (inclusive para si) o odor de seus lábios. Havia algo de inacreditável naquele homem que se assumia perfeito. E essa sua característica era a sua falha deflagrada. Roncos de estômago seguiam-se aos seus discursos, ele buscava preencher um vazio, ás vezes com aparência exótica, noutras com dor amplificado num Marshall.
Mas o que havia nele de mais irreal era a sua facilidade em descartar os meros humanos como cascas de nozes. Ele os abria, fuçava, ficava um tempo observando-os, lambia-os e depois sem aviso cuspia sobre eles e os lançava num tabuleiro de jogos críticos. Avesso à qualquer erro. Um enxadrista com peças pulsantes. E ele via tudo, acreditava piamente nisto.
Mas por dentro o ronco era estrondoso, mais sensacionalista, quase manchete de jornal, precisava do amor e da atenção daquele platéia. Precisava deles para existir, sozinho, não era um super homem. Sozinho, era ridículo, como o mais comum dos arquivistas do estado.

2 comentários:

  1. o melhor adjetivo pra esse texto é: preciso bjs

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  2. Olha só...goastei tbm...e digo mais, o que importa é a teoria da gangorra!
    bj
    Carlota

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