sexta-feira, 27 de março de 2009

Do diário de André

Masturbei-me o caminho inteiro. Desde que o dia colocou seus olhos agrestes sobre minha pele até a hora em que os relógios cantam. Sozinho na avenida. Apenas o ruído de vozes distantes e indistintas. Perdido entre pessoas conhecidas. Deflorado entre vias e vidas. O dia passou num cuspe. Amanheci com as calças molhadas, pensava no cheiro dela, no movimento do seu corpo. Joguei paciência tanto que a perdi. Das dez da manhã até as sete, o dia passou pra noite num suspiro solitário.
Sozinho na avenida. Ninguém me dirigiu uma palavra. Deslocado. Sempre tentando ler os pensamentos enquanto eles ainda estavam quentes dentro da cabeça. Via-me triste sem a presença dela. Mesmo que dela não saísse nada. Estéril. Sacudia os pés em passos largos, fingida dureza, por dentro oco e perdido. Viam-me nos olhos sarcasmos, nem imaginando o que me sacudia. O cheiro dela. O cheiro dela. O cheiro dela. A latrina da memória produzindo resíduos. Sentado na estação. Corpo distante do sorriso esperado. Sarcasmo silencioso por trás dos trilhos. Dentro do trem esperando um abismo. Qualquer trocadilho. O cheiro do óleo e o cheiro dela. Espaçoso dentro das narinas. Hoje eu não a vi. Masturbei-me o dia todo. Joguei paciência até as cartas perderem a cor e o cheiro dela. Abri a porta. Sentei-me na cama, masturbei-me a noite inteira sentindo no orifício da insanidade o cheiro do óleo e o cheiro dela. Dói-me a veia. Morfina de merda.

Um comentário: