sexta-feira, 13 de março de 2009

Do lado de fora da casa dos Sonhos

Quantas textos já escrevi pra você? Eu mesma não saberia dizer. Perdi a conta dos códigos que montei pra lembrar ou antes para não esquecer. Porque são coisas diferentes. As músicas que às vezes te desenham, as resenhas dos seus filmes favoritos num site qualquer. Por mais que eu tente esconder, sempre chega um vestígio meu aos seus ouvidos. E nessa hora há o silêncio e o descrédito. Prometo não fazer de novo, prometo não beber de novo, mas velhos hábitos são sempre difíceis de se livrar, são brinquedos da infância, inúteis, porém ternos e encharcados daquela querosene que queima na memória. Cavalgada das Valkírias pelo céu azulado de um pré-março. Mas sei que prefere o Bolero de Ravel. Faltam poucos dias para ver seu rosto novamente, poucos dias para ser reprovada ou não no teste da represa. Será que consigo represar todas as palavras e torná-las silêncios agradáveis que tudo digam sem te ferir? Será que consigo secar a boca? Não mergulhar nos seus olhos castanhos e vivos, respirar do seu ar lento e gradual? Será que consigo isso em silêncio, a distância? Como uma depravada que se masturba vendo fotos. Será assim o meu tempo ao seu lado, chafurdando nos detalhes que você esquecer ao acaso? Não sei, e na verdade não me importo. Você sabe, ou melhor imagina. Mas imagina corretamente a ordem das cenas? Porque eu só me dei conta que não consigo te esquecer, quando beijei outros lábios e nada senti. Aportada numa boca cheia de névoa me vi na busca do seu calor. Do seu riso. Dos trejeitos, das manias, da letra de forma ondulada e ás vezes misteriosa. E mesmo sabendo que nada posso esperar, o coração fica anestesiado, pueril quando apenas sente a proximidade do seu. Se isso não for amor, todos os livros mentiram, Shakespeare, Clarice, Dostoievski, Almodóvar, todos mentiram em seus suportes. Escreveram suas mentiras e eu acreditei. E eu acredito. Porque só eu sei como é ansiar tanto assim, na beira da loucura, dançando no abismo dos relógios tentando apagar os seus vestígios. Mas numa vaga, assim que dou as costas e tomo tudo por findo, uma nota do seu perfume vem e se enrosca e meus doces sonhos recomeçam.
Então pra que mentir? Posso até mentir pra você, fingir indiferença, de dar te presente os xingamentos mais pitorescos, mas pra mim não adianta. Eu sinto essa chama. E o ar ao seu lado é cheio de som e fúria. E longe de você eu fico indecisa entre a forca e o calendário.

Eu nem preciso colocar a sua letra num poema, dou todas as dicas pra você se reconhecer e me odiar por ser incapaz de negar a existência do amor. Por ser incapaz de decepar a cabeça do mesmo com um faca comprada no Polishop. De ser banal. De ser cruel e indelicada. De ser canalha.

Quantos textos eu escrevi pra você? Desses quantos você leu e quantos jogou fora discretamente na lixeira do banheiro? Quantos eu coloquei na caixa de areia do meu gato? Não sei, esqueci de me perder nos números e fiquei estacionada do lado de fora do seu sonho esperando a chuva parar pra lhe convidar para um café. Mas você nunca sai.

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