sábado, 14 de março de 2009

This strange effect

A quase todo momento esbarro na fragilidade afoita de meus argumentos. Quantas pessoas se perderam em listas amórficas de telefone que nunca tocaram, quantas se foram porque simplesmente deu no saco? Expressão vulgar para um sentimento desconexo. Quantas pessoas se magoaram e quantas arderam de ódio puro? Quantas esmurraram muros numa busca incessante e o derrubaram? Quantas canções foram escritas? Não vale mesmo nada esse tempo? Todas as horas escoam pelos calendários e relógios indagando quão mais, quantos mais precisam partir? Exijo paciência. Mas nem todas as pessoas do mundo a possuem em doses cavalares, eu mesmo me encaixo nessa lista. A solidão imposta é mais amarga, porque se julga justo o exílio. Mas e Drummond e Vinícius o que diriam, se os carrego nos bolsos? A Lua pequena se esfacela entre dedos pegajosos, o tempo torna tudo empoeirado, a retina revirada cansada de olhar apenas para dentro de si. Coloque um copo sobre a mesa e observe seu reflexo até seu globo ocular cair. É mais ou menos essa a sensação. Ancorar sobre o balcão e ficar ali apenas desejando o movimento, mas sem ter um centavo no bolso para incentivá-lo. Alivio? Alívio? O que diabos significa essa palavra? Onde se escondeu essa prostituta que eu não a encontro? Eu pagaria fartamente por seus serviços. É assim que me sinto. E apenas a dignidade me impede de chorar na via pública. E apenas esse orgulho medonho me impede de cruzar a rua. E apenas ele fica introvertido quando portas e bancos balançam em esmurros acrobáticos. E só ele arde quando o sangue escorre dos dedos macerados e dos joelhos esfolados. Eu prometi não saltar na frente de um carro.
E o que falta nessa vida? Eu juro que não sei, quanto mais procuro, mais afundo e menos tenho vontade de sair. Quero me perder em silêncios despropositados, em palavras que nada tenham de verdade além de sua beleza plástica. É, eu quero uma redoma. Eu quero uma mentira crônica invadindo todas as portas e gavetas. Quanto mais eu tento menos osso eu tenho pra roer, menos músculo eu tenho pra correr. E quanto mais eu remexo, mas poeira entra no meu espelho.

Quem disse que é fácil ter um quilo de solidão no bolso? Uma hora ela degela e lambuza as beiradas da calça. Quem vai lavar essa mancha?

Um comentário:

  1. This Stange Effect - Hooverphonic, a letra não tem nada a ver com o texto, mas é uma boa trilha

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