segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Café

Um coador de café logo após sentir a quentura da água e o peso saindo pelos poros, fica assim atordoado. Um vazio se instala. Ainda há rastros borbulhantes na sua extensão, mas o calor não é o mesmo. E a sensação de utilidade já se foi. Resta a pia, a companhia dos copos, xícaras ainda enfumaçados, dos pratos com restos delicados de morango e creme. Um fim de tarde escoado e algumas vozes agora distantes e baixas sumindo da cozinha. Mas na memória, sim, coadores de café tem memória, fica aquele calor, aquela morte quente que o desfez fibra a fibra até se recompor numa morna massa marrom entrecortada de suspiros. E após lavado, horas depois, ainda na fibra, um sutil amarronzado fica na fibra. Até o dia em que o amarelo e o marrom carcomam por inteiro o branco do tecido, ou que as mãos se cansem de lavá-lo e venham a substitui-lo os frios e inumanos coadores de papel.

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