segunda-feira, 5 de abril de 2010

Os dias estacionados [na vaga para deficientes] de um homem ridículo


Ninguém tem nada a ver com a dor de coluna. Se ele some por uma semana ou mais e aparece como um fantasma num determinado dia cobrando preocupações. Ninguém tem nada a ver com sua fuga de toda e qualquer responsabilidade. Com a sua fuga do mundo que quer acolhe-lo entre suas engrenagens. Ninguém tem nada a ver com seus julgamentos, seus excrementos verbais nas horas alcoólicas. Nos seus silêncios sem nada para dizer de útil quando as conversar surgem a todo vapor. Ninguém tem nada com isso. Se ele é a merda de um depressivo depreciativo, um animal sentimental que corroi as próprias tripas na busca de um consolo. Ninguém tem nada com as suas letras retorcidas, os seus apelos mudos por colo. Ninguém tem nada que melhorar a primeira imagem que fez dele. Ninguém
E
Esse ninguém é que tira suas noites de sono, suas forças mundanas que acabam em masturbações irreais com pessoas que nunca o viram com possibilidades incapazes de existir pela simples inércia do sonhador. A mascara da vítima ficou colada a sua face como se fosse sua sempre. Era uma brincadeira. Era uma defesa. Virou um hábito. E hoje ele pode se considerar apenas uma sombra de tudo que poderia ter sido. E cada hora que passa se torna mais tarde e longínqua a mudança. Ele já não quer. O corpo acostumou-se a posição parasitária.
Ninguém tem nada a ver com a idéia de por uma bala na cabeça e deixar os respingos de sangue mancharem a parede branca, que nem é tão branca, é cheia de marcas de gordura de seus dedos, que na busca por uma fuga a percorreram fugazmente. Mas quem em sã consciência imaginaria dele todas essas impressões? Quem? Se das raras vezes que o viam ele parecia tão seguro, tão cheio de compromissos, tão cheio de palavras, datas horários, pessoas e números de telefone. Quem poderia imaginar que ele passava o dia inteiro trancado dentro de casa, nas paredes suburbanas da sua casa, ardendo entre sonhos de lugares comuns, com coisas que as pessoas comuns tinham. Com coisas que ele teria se saísse da inércia. Quem?
Perceberia que por trás de toda a afetação existia uma solidão inabalada, que nem poderia caber num corpo tão mirrado. Que haviam sonhos tão grandes que a saliva se extinguiria na metade deles. Quem saberia de toda essa fauna de extremos, pesadelos e paixão se na sua face nada estava escrito e ao seu redor havia um pântano de pequenas intrigas e um invisível arame farpado?

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