sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Morte aos papagaios

Também é palavra estranha, que não desaba de cima do muro. Fica envolta numa camada de neblina que não dispersa. É palavra a toa que transita na indiferença. Que fica muda quando não quer machucar. Que inunda quando deixa abraçar. Que mata quando afia os dentes. Palavra imunda. Que por vezes dá crises de ódio, daquelas de implodir ponte com ninho de passarinhos, cachorros e mendigos. Também, é muita covardia. “Eu te amo, eu também.” “Como pizza, eu também.” Até parece conversa de papagaio, coisa de gente sem vocabulário, que fica pendendo na palavra da boca de outrem, agarrada no último pingo de saliva, sem nada acrescer. “Tenho saudades, eu também.” “Comprei um cachorro manco, eu também.” Chega a dar corpo a irritação. Dá vontade de mandar ler Paulo coelho.

Também até comove, quando o peito tá fraco de amor, ela até dissolve uma má impressão, mas quando a boca fecha e o olho abre fica a sensação patética de que não convém a ninguém toda essa lenga -lenga de amor, e ai vem aquela sensação mongolóide de autodestruição por cirrose na mesa do bar. Cercada de pessoas que não entendem nada de gramática e que não sabem como uma palavra pode irritar tanto alguém.

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