sábado, 14 de novembro de 2009

Crônicas de uma mente vazia Vol.3

A boca soltou chispas. Na direção errada. Soltou mágoas em silêncio por SMS oculta. Ficou ainda vendo se o celular seria atendido se uma resposta seria escrita. Que nada. Moveu-se lenta de volta ao afazer daquele instante. Nenhuma ruga, vinco, passo, tremor, não sei se ela chegaria até o final do dia sem saber. É...chegaria. Chegou. Abriu a porta de casa e desceu uma escada lisa em direção ao chuveiro, como um prédio lavado deixou escorrer todas as perturbações. Do outro lado da cidade alguém se acomodava em um sofá azul demais para uma sala clássica e básica. Alguém que pensou fazer a maior merda de sua vida. E não, não era se matar. Era se meter num ridículo caso de amor, ou melhor de desejo de uma parte só. Maior roubada nem na tela do cinema. Mas pensou. Por dois minutos pensou. Escreveu dentro de sua cabeça todo um plano sensual que logo viu ser uma merda. Os dedos então soltaram qualquer forma de conexão com o mundo exterior. Ficou imerso numa solidão digna de catacumba. Não havia quem o procurasse. O silêncio das suas relações era quase tangível se não fosse a sua insistência em gritar “estou vivo porra!”. Se não fosse isso, o dariam por cadáver pútrido e já devidamente expurgado do corpo de algum animal selvagem. Mas ele morava na cidade, no coração cinza da cidade e o único animal que poderia devorá-lo era um mosquito ou num caso raro de animal perdido do zoológico. Como aquelas antas que aparecem na beira do Tietê. O que pode ser considerado bastante selvagem para um lugar em que mal habitam as flores. Mas enfim, saltou dentro de si alguma coisa que era muito parecida com um gemido, não prazeroso, não assustador, não choramingado, uma cólera. Um copo de cólera que se quebrou dentro da sua boca faminta. Queria mesmo era atear fogo a todas as suas paixões (físicas, mentais, manuais) e vê-las na pureza cinza de um granulado. Queria se purificar. Mas isso soa tão católico e tão culpado. Como se houvesse um pecado, o oitavo pecado capital: a idiotice. Se houvesse esse pecado e se houvesse o inferno, não restaria alma e o inferno teria problemas com CDHU, taxa de desemprego e taxa de natalidade. Mas era mais ou menos isso que queria. Queria se soltar. Estava triplamente cansado de ver o fim do mundo a cada cinco minutos por causa dessa ou daquela pessoa. Era exagerado, sabia bem disso. Era afobado, sabia bem disso. Sabia bem de várias coisas. Mas isso não adiantava muita coisa. A boca soltou frias chapas de palavras. Paredões de incentivo ao niilismo. Na direção errada. Na versão avessa do tempo ficou sonhando com coisas e pessoas que estavam muito longe de existir.

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