segunda-feira, 5 de julho de 2010

Para um amor maior ou quando um alguém não levado à sério estremece os músculos


Não sou santa. Nem canalha. Nem adjetivo nenhum que me queiram dar. Sou aquilo que o tempo lapida ou enferruja. A encruzilhada das minhas emoções. Poderia ser um milhão de outras coisas distintas. Poderia ser tantas coisas que não sei descrever. Mas não, eu não sou o que você vê. Não essa superfície barata. Quem sabe eu fosse um falcão,mas por hora escolhi galinha d’angola. Um poema, mas prefiro um Bonassi. O amor de alguma vida, mas por hora prefiro martelar com fogo as veias do meu peito. Poderia ser de muitas pessoas, mas não tenho pressa de ser de ninguém. Além de você. Porque você é feita de tantas outras coisas e poderia e é tantas outras coisas, que eu perco a conta.

Não sou perfeita. Nem feita de folhas. Tem carne, tem veia, tem seio e tem pus. Tem lágrima.Recheio. Açúcar. Conhaque e rum. Tem barbárie. Mas tem paciência. Dentro de mim, dessa cumbuca tem muita mistura. Posso ser quase tudo que existe se eu tiver vontade. Se. E você intensifica essa vontade.

Tem momentos de euforia. Quase boba. quase tensa. Escondo segredos entre as penas. Mas não quero voar com tanto peso entre as costelas. Nem com tanto prazer na cabeça. Tenho uma boca só, mas muitas pernas. Posso correr o tempo necessário pra me perder. Pra esquecer. Mas eu não quero. O que tem de bom na sua mistura, me converte em novas manhãs de sábado. O que tem de bom na sua mistura me lambuza na distância de um bom dia. Tem momento de raiva. E também de letargia. Quando aquele vazio precede a dúvida. O frio do nascimento da vida. A morte que se abate sobre os relógios. Tem lirismo do mestre Dos Anjos. Tem dor de Trakl. Tem prazer de Clarice. As vezes o egoísmo de Schielle. Mas sempre a tensão e o tesão de Neruda. Quando a corda vibra, com a nota certa, com a mão ajeitada eu canto.

O que há em mim é incondicional. É víscera sangrando. Mas por trás do meu riso impossível ver meu pranto. Palhaça de carteirinha. Brinco de malabares com minhas palavras bambas. Aquilo que sai da boca é sempre impulso. O que sai das mãos é vivo, quase puro. O que eu quero de você é mais que o gozo. Que a saliva. Quero ser um pilarzinho da sua alegria. Incondicional. Daquele sentimento avesso a razão que prefere ficar guardado delicado ou ser dosado homeopaticamente todos os dias durante todo o ato da espera, até o limbo do esquecimento plantar outra quimera ou a última morrer de solidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário