sexta-feira, 26 de junho de 2009

Je précise respirer

Me deixem respirar, ás vezes me sufoco com excesso e noutras com falta de ar. Me deixem passar, é um apelo mais que desesperado. Eu quero fundir as paredes ao meu corpo, fazer muralha pela qual ninguém possa transpassar. Barreiras intransponíveis pelas quais ninguém possa me tocar, me ouvir, me chamar. Não tenho talentos nem forças para o apego que querem de mim, para ser o que esperam de mim. As minhas coisas tem seu próprio tempo. Todas as minhas coisas tem seus próprios tormentos provindos do meu interior bagunçado. Elas respiram as minhas palavras. As minhas amarras e não podem mais se defender. Me deixem cair assim em silêncio. Ficar na altura dos meus pensamentos. Que dormem muito profundamente. Deixo uma fita com todas as minhas canções gravadas. Com todas as minhas reações pré-programadas. É tudo que posso oferecer. Meus personagens vivem sem realidade. Sem profundidade. Sempre tocando a superfície de um espelho, mas sem nunca traspassar, sangrar, morrer. Eles vivem no meu mundo insípido. No meu laboratório de sensações esquivas. Não me deturpem. Nem me queixem. Excesso e ausência me preenchem de tempos em tempos. Marés de silêncio com raras palavras presas na areia. Tem sido tão frouxa as aproximações do meu espelho. Por alguns instantes algo me surpreende, mas logo caí no baú das recordações. Sem aviso. Sem peso. Sem tempo de tornar-se algo.

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