sexta-feira, 26 de junho de 2009

Quando o inverno ficou temporariamente trancado no banheiro

Passei dois anos contando todos os minutos desde que o seu último passo saiu do palco. O último aplauso num eco desvairado. Perdi o programa da nossa peça e não vi que horas ela começa. Não sei a música que era trilha, mas improviso com uma ou duas até achar o ritmo. Passei dois anos minutando todos os relógios de todos os espaços. Cansei os dedos, cansei as linhas. Deixei os ponteiros brancos e rasos de tanto tentar pará-los ou por vezes apressá-los. E de nada adiantou toda essa comicidade. O tempo continuo escorrendo no seu próprio ritmo, dançando conforme a ordem do playlist. Eu e você ficamos com nossos pares executando os passos soltos. Mas meu pensamento sempre esteve na pontinha da sua janela, querendo espiar. Mas ah, essas coisas são assim mesmo. Pessoas são marés sem lua, vem e vão na hora que lhes convém. E disso já não tenho tanta raiva. Eu só não me acostumei a largar coisas e pessoas, fase polimórfica ainda gemendo. Talvez. Quem sabe? Mas o importante é que quando eu deitei sobre o sol e fiquei olhando as marés de longe, quando me cansei de todas as burocracias do meu coração, quando gastei a esmo as balas da minha pistola em pássaros de plástico o tempo veio e me trouxe uma surpresa. E não era o que eu esperava. Por que o que a gente espera é sempre mesquinho e pequeno. Ou grande demais pra caber numa sacola de mercado. Ele soprou a sua retina pra perto da minha. E olha que coisa, não houve fogos, não houve revoada de pássaros e nenhuma orquestra gigante tocou nossa música tema. Mas como se não houvesse passado um único dia, a gente revirou o riso do avesso. E uma coisa que eu já não tinha tanta certeza brilhou em neon na minha cabeça, que não há quase nada que nos separe. Não é amor, paixão, ódio, nenhum desses extremos. É a mais clássica das respostas: um traço de amizade que não apaga. Fico eufórica porque já nem sonhava mais com esse dia. Os dois anos se enovelam e permanecem adormecidos numa gaveta qualquer, o antes não me importa nem um pouco. E se você de alguma forma voltou talvez K. um dia o faça. Mas cada coisa tem seu tempo. Fico revirando as marés com as retinas, ainda no descanso das emoções.

Por hora, não desfaço o riso, seja muito bem vinda de volta ao meu coração.

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