segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A terceira noite
(Para Dias)

Sem aviso. Ali entre as formas mortas de um pescado. Entre as formas opacas de um siri. O corpo forte exaurido sem aviso prévio. Alguma coisa o carcomia por dentro. E dentro da noite intensa alguma coisa se fez silenciada. E nada menos que três mulheres entraram em choque, em colisão direta com as marés que quebravam naquela areia agora fria. Naquele pálido pedaço de lua que se desfazia. Num ruído baixo e desmedido, quase inaudível, fez se uma certeza corrompida. Se houvesse tempo...se houvesse tempo... Mas nunca havia. Ela buscava sem maiores expectativas. Sem maiores apreensões. Colhia com a delicadeza e o humor de Bergman. Com o mesmo carinho que retiraria do galho uma flor para a amada, mas antes todas as flores mortas estavam antes dos dedos que as retirava. Antes já pressentiam a bicada desdenhosa? Não. Apenas permaneceram o tempo que lhes restava de beleza entre os dedos. E ele assim recebeu nos seus minutos comuns. Rotineiro. Até o momento em que ela deu um passo e lhe puxou o braço. Suave. Com um desconhecido que esbarra e leva com delicadeza a carteira, as moedas e o RG.

E no final das contas as noites passam cheias de corpos carregados. Levando pra longe em seus braços num aeroplano todas as inconstâncias. E afinal de contas o que é estar vivo senão um mero acaso? Uma fatalidade remediável a qualquer instante?

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