sábado, 12 de dezembro de 2009

Um ato de coragem

Chegou em casa e o encontrou suado. A gola da camisa aberta. Um sorriso besta no rosto. Sentado a beira da mesa. Contemplativo não a percebeu entrar. Ela assustada, tocou com a ponta dos dedos o ombro do marido que instantaneamente saiu do transe e a olhava com olhos quase febris.

- hoje eu tive um ato de coragem, um ato que você vai acreditar.
Disse por fim.

Ela puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado. Postou sobre a mesa a bolsa e olhava pra ele, dentro dos olhos, de maneira quase apaixonada. Havia uma curiosidade já revestida de grandeza no modo como ela o olhava.

- cheguei em casa. Ela estava ali. Horrenda. Me olhando nos olhos. Parei o carro na parte externa de nossa garagem. Ela continuo impassível. Senti o suor me escorrer frio. Apertei com força o volante. Sentia as pernas trêmulas até. Mas munido de toda a coragem que dispunha ( veja bem você não havia chegado ainda e eu não poderia ficar ali na beira da rua) desci do carro. Apanhei a vassoura de cabo preto. Ali bem ao lado do interruptor. Sem pensar muito e nem medir força acertei-a em cheio, creio que foi na cabeça...

A mulher horrorizada levou a mão a boca. O que seu marido acabará de contar era verdade? Seria possível? Ele...ele nunca seria capaz de fazer isso...

Ele, percebendo a incredulidade nos olhos, mesmo em última fila na retina, ergueu-se energético e aos brados disse:

- sim, é verdade! Eu dei com tanta força que ele fatalmente voou pro outro lado da rua. Você entende que eu movi todas as minhas forças pra isso??? Num ato único de coragem nesse fim de noite!

E pegando-a pelos ombros.

- eu matei aquela maldita barata! Aquela filha da puta voou pro outro lado da rua! É verdade! Diga, foi ou não foi um ato de coragem, hein amor?

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