segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Três noites em claro
(para J, Dias e Mário)

A primeira noite
(Para Mário)

Um homem com uma arma se acredita um deus. Um homem com uma arma honra mais o metal que a pele entre as pernas. Que merda de homem é esse? Que invade as casas em busca de dinheiro atravancando com “coragem” corações alheios. Abrindo buracos na carne dos móveis e dos imóveis corpos suspensos no tempo imediato do susto. Como uma matilha de animais fedorentos invade os ocos dos palcos e dispara ríspido sobre veias errantes. Que homens são esses que vivem na época selvagem da caça sem foco? Que homens são esses que correm com pedras nos bolsos. O homem quando portado de armaduras e disfarces se concretiza, se imagina dotado de garras, de águias, de machados decepadores de crânios, de asas nas pontas dos dedos.

Os homens são animais tristes disfarçados de gravatas, de peles caras, de jeans e camiseta. No meio da noite uivam e salivam e babam na força interior dos seus desejos assassinos, suicidas. São cruéis com as próprias intenções. São mordazes e despelam o céu com facas em punho. São bocas que gritam palavras de ordem enquanto esbofeteiam mulheres. Os piores entre os homens são os insondáveis heróis arruinados, que se crêem distintos de toda a humanidade, por terem comprado sua coragem numa loja ou terem permutado-a por uma pedra.

O cheiro acre da morte invadiu uma dúzia de casas e dizimou sem adeus uma meia dúzia de abraços. De beiços caídos na descrença do fato. Esta noite há velas acesas nas janelas. Enquanto oram por redenção, enquanto oram por força de suportar o triste fim de um caminho pesado. Morrer não é o problema e nunca foi. Estar a espreita da morte e saber o dia da sua visita sim. A maioria das pessoas não suporta a idéia do acaso. De morrer numa cama. Num pijama. Numa rua sem aviso. Mas estar vivo é um mero acaso, uma coincidência das mais felizes que se desfaz como um nó de presente de aniversário.

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