quarta-feira, 8 de julho de 2009

Ana Karenina & George Trakl: primeiras impressões de um reencontro

Quando a revolta bateu no peito feito tambor que estoura na pancada, no açoite da mão, o peito daquela que antes era aço alçou vôo. O que era silêncio virou deserto, tempestade de areia entrando nos olhos marejados por pensar em poemas em letras em cifras signos para uma concordância. Ela tinha a certeza do erro e nada mais. Permaneceu em silêncio após ter sido momentaneamente arrebatada por aquele calor, aquela incerteza, aquela dor.

O silêncio veio aos seus braços em doses fartas, na espera de um fonema, aguardou ao lado do telefone. Por alguns minutos deixou-se ser presa desse vício tolo e ultra romântico. Avistou da janela o movimento bucólico da rua e de seus transeuntes encurvados como grandes médios e pequenos pontos de interrogação. O inverno torcia os rostos em caretas descartáveis. Após algum tempo viu-se ridículo num fragmento de espelho. A espera, oh Deus, a espera. Apanhou o paletó e saiu a rua. Nada poderia esperar de um porta retratos que ganhara vida por dois segundos. Segredou no intimo de seus pensamentos uma esperança que ele sabia inútil. Mas era homem empírico, precisava do teste.

Ficou envolta em folhas cálculos e livros. Absorta no trabalho que lhe retirava toda a calma e lhe tomava todo amor. Se por algum instante lembrou- se do homem da semana, foi pouco. Sabia apenas que não deveria ter permitido o beijo que ele lhe dera com tanto ardor. Mesmo que ele não parecesse interessado, seus lábios tocaram com uma paixão acinzentada e descongelada o frescor dos seus. Mas era só isso. Dentro dela nada havia se movido.

Ele ficou um tanto perdido entre as folhas de papel que deveriam absorve-lo, a música deixou-o mais distante, mas quando ficava um pouco mais silencioso podia ouvir o som da voz, e ver o brilho dos olhos. Balançava a cabeça com veemência espantando aquele sentimento que ele sabia o fim, sabia todo o trajeto e sabia que nada haveria ali pra ele.

Ela tomou seu café e saiu mais tarde do trabalho, com alguns amigos foi a um bar onde flertou com algum rapaz de traços bem feitos, seus olhos brilhantes e escuros, como amêndoas não passavam despercebidos onde quer que aportasse. Seu riso era límpido. E bebia alegremente das cervejas postadas sobre a mesa. Ao final, lá pelas onze, foi pra casa no seu ônibus amarelo e deixou-se cair sobre um livro.

Ele debruçado na janela com uma xícara de café, acabara de chegar da faculdade e apenas dispensava seus antigos e leves contatos. Algumas mulheres o queriam o olhavam, mas de nada adiantava. Ele estava absorvido numa dúvida muito clara, se ela havia pensado nele por um minuto, e ele sabia que não. Que possivelmente não voltaria a vê-la e muito menos tocá-la. Suspirou e deixou cair sobre imensas e brancas folhas de papel o teor de seus pensamentos.

Para sempre perdidos os seus pensamentos e desejos voaram para um local distante, desligou-se de tudo que pudesse modificá-lo. Deixou sobre o papel suas primeiras impressões da terra. E ela em algum lugar deixara apenas o silêncio como resposta as perguntas mudas de seu eterno amante.

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