segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cartas iletradas para um desejo rabiscado

O que me move? O que me move? Qual o tema de tudo que faço? É urbano? É solitário? É movediço? É quebradiço? É desejo o meu tema ou o que me move? A pergunta ecoando na vigília pelos trabalhos já retirados da tela. Pelas coisas inanimadas que esperam final. O que me move? O que meu corpo diz quando segura a pena? O que minha cor diz quando destrincha a tela? O que meu coração faz dentro dessa caverna? Se não há nada para ele lá? O que é que há? Quando o desenho sai na mesma posição, fazendo o mesmo trajeto solitário, incompetência do traço ou idéia diluída? O que há por trás das linhas? Do avesso não vejo e de frente remonto a todas as coisas que não entendo. Tédio. Solidão. Falta de perspectiva. Memória recorrente. Incompletude. Falsidade. Idéia recorrente do meu ego doente. O que há por trás da mente quando joga as formas no quadro, quando transpõe os corpos em novos espaços. Quando as idéias insurgem milimétricas é pela falta de talento ou de força que se esvaem em pensamentos degenerados? Pra onde vai tudo que não é realizado? Que gaveta, que porta guarda esse tesouro abortado? Onde se inicia o refluxo da mente, pra trazer a tona toda a forma que não vivente e reclusa clama por uma saída ao mundo?

Minha cabeça vagueia desrosqueada de qualquer porto. Feita para içar pensamentos de seus reclusos e obscuros buracos. De uma tela para um texto pra um romance para uma música pra uma lembrança pra um dia pra um pedaço de gengibre reboco dorso sal. Pulmões cheios de alguma coisa que não é ar, alguma coisa que se parte e se reparte em novas aflições irreais. Adio a corrida pela sobrevivência por mais um dia. Adio a reversão das posturas por mais uma hora e reativo conflitos pra passar o tempo. Redijo poemas impossíveis de declamar,histórias improváveis de se admirar, uma prosa seca para coçar a goela dos repuxos. Minha prosa é assim incoerente e esburacada, asfalto de estrada federal rodando dentro de si mesma e se carcomendo brutalmente na insensatez dos romances malditos e das letras incorpóreas. Meu jogo favorito é a alucinação. A imaginação póstuma dos sentimentos, realimentar as paixões com dejetos desagradáveis até que eles virem palpáveis e depois de um tempo plausíveis e descartáveis. Afinal, o que me move? Vou de um lado a outro, numa máquina gigante e intensa de pinball. Sentindo os solavancos que por vezes me amortecem os lábios e regelam meu sangue num momento raro de lucidez. Os olhos roxos e inchados polidos de sensibilidade lacrimosos e sem respeito. O desejo puro e grotesco de mover o mundo como um besouro rola bosta faz. Afinal às vezes o mundo é uma bosta mesmo. E as pessoas idem. Não me excluo nem me incluo em nada, para mim não existe um lugar próprio, propicio próximo. Existe a inexatidão que me precede que tira o entendimento, apenas os lamentos recobertos de palavras doces. Apenas sensações fantasmas vagando.

E no final do dia, quando as horas já se desmitificam e a noite já se recobre de frio e bolor eu ainda não sei o que me move, ou que antes me mantém nessa pretensa letargia que me acomete por vezes, por anos inteiros. Enfermos beijos se desgastam na oxidação das laterais do espelho. Meu rosto, um compêndio de grandes ilusões.

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