segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Micro contos - E ele deixou-se apagar como um sorriso

Algumas palavras fazem rir, outras nada despertam. Nenhum dos textos dele eram cartas de amor ou pedidos de desculpas, apenas alguns segundos de fraqueza arquejante e descontrolada que dentro dele logo teriam fim. Nenhum dos seus escritos eram delicados ou entitulados, escrevia pelo hábito, pela febre e pela chance de esgueirar-se pelas cabeças e bocas alheias, um jeito de ecoar como um grito seco pelas gargantas. Porque a dele era rouca, muda. Algumas palavras dele agradaram alguém que ele não queria mais agradar, talvez pelo hábito de perder-se em indas e vindas, a credibilidade das suas sensações tenha sido repuxada como um riso falso. Um cuspe antes da queda do cadafalso, e o corpo pendendo a centímetros do chão. Ele era a própria imagem da rouquidão e do olhar perdido. Mas mesmo assim ninguém soube compreender o porque dele ter misturado arsênico no vinho e ter escrito entre espasmos até o amanhecer. E a sua última letra não foi uma carta de amor, nem de desculpas, foi uma elegia a sua estupenda capacidade de ser estúpido.

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